Como odiar um CEO em 48 horas romance Capítulo 169

Assim que acabou minha apresentação, desci do palco de vidro e fui para o camarim. Meu coração batia descompassado e eu sabia que não era de cansaço ou adrenalina da noite. Era medo e ansiedade que eu sentia naquele momento.

Eu deveria estar retirando a maquiagem e me preparando para ir embora. Mas não naquela noite.

Algumas das dançarinas conversavam e eu fiquei ali, me encarando no espelho. Já houve uma época que não gostava de ser ruiva. Hoje eu me aceitava e sabia que justo pelo fato de eu ser ruiva, chamava a atenção de alguns homens. Nem as sardas me incomodavam mais e meu olhos verdes já foram comparados a esmeraldas.

Mas eu não queria mais chamar a atenção de todos homens. Eu só queria a atenção de um: Heitor Casanova. A questão é que o canalha jamais olhou na minha direção. Dentro da Babilônia, ele só tinha olhos para Cindy e ninguém mais.

- Acha que ela fez “macumba” para ele, Salma?

- Oi? – olhei na direção das meninas, que limpavam a maquiagem dos rostos.

- Em que mundo você está? – elas começaram a rir.

- Acreditem: neste. – Respondi.

- Ayla disse que acha que Cindy fez “macumba” para o senhor Casanova.

- Daquela, não duvido nada. – falei.

- Vai embora ou ficar? Pensamos em comer juntas hoje.

- No drive 24 horas. – Uma delas disse.

- Hoje eu vou ficar um pouco aqui... Tentar descolar um cara legal. – Sorri, nervosamente, parecendo que todos sabiam o que eu planejava fazer naquela noite.

- Hum, então boa sorte. – As três saíram.

Olhei no relógio e já eram três horas. O show de Cindy e das outras garotas do pole dance estava atrasado, como sempre. Eu sabia que aquilo era de propósito, para que o público ficasse ainda mais ansioso.

Uma das meninas que dançavam ao lado de Cindy entrou no camarim. Já estava vestida, ou melhor, quase não vestida, porque aquilo não se podia chamar de vestimenta. Dançavam praticamente nuas.

- Você tem um batom com brilho para me emprestar? – ela perguntou.

Peguei meu gloss e levantei na direção dela, que pegou e passou nos lábios, rapidamente, enquanto se olhava no espelho. Me devolveu:

- Obrigada. Você salvou minha noite.

- Vocês já vão entrar?

- Cinco minutos e entraremos. Vocês voltam ao palco hoje?

- Não, em função do show estendido de vocês.

- A casa está lotada. – Ela observou.

- Em função do tempo a mais de pole, creio eu.

- Do pole não, de Cindy – ela revirou os olhos. – Aposto que foi aquela vagaba que escondeu meu gloss.

Arqueei a sobrancelha:

- Ela faria isso? Com qual intenção?

- Que nenhuma boca brilhe mais que a dela? – riu. – Ela é louca, acredite.

- Imagino – sorri – Vai lá que você tem pouco tempo.

Sábados eram as noites que a Babilônia mais lotava. Eles não deixavam ninguém de fora, por entrar. Eu já me peguei pensando por qual motivo as pessoas iam numa casa noturna ver mulheres seminuas dançando em postes de pole dance de forma erótica e outras em caixas de vidro, com movimentos sensuais, se podia ir a uma casa específica para este tipo de show, onde era possível “comer” todas as mulheres que dançavam depois. Porque na Babilônia não funcionava daquele jeito. Se quisesse sair com uma das dançarinas, teriam que encontrá-las nos ambientes da boate, o que por vezes não acontecia.

Tinha noites em que eu nem entrava na pista ou circulava fora do meu espaço de dança. Outras, todavia, dançava até me acabar na pista e aceitava sair com admiradores enlouquecidos, que davam qualquer coisa para passar a noite com a mulher da caixa de vidro, já que não podiam ter a loira do pole dance.

Minha vida sempre foi uma merda. Nasci numa família cheia de irmãos, com uma mãe bêbada e um pai que não gostava de trabalhar. Quando eu tinha em torno de dez anos de idade, ele deixou a nossa casa, indo morar com outra mulher. Ela não era uma bêbada, mas quando íamos visitá-lo, uma vez no mês, a dita não fazia comida para mim e meus irmãos. Cruzávamos a casa de cômodo em cômodo, ouvindo os gemidos dos dois transando o dia todo, feito filhotes abandonados dentro da própria casa.

Meu pai batia na minha mãe quando moravam juntos. E ela avançava nele. Apesar de bêbada, ela que mantinha a casa e nos dava de comer. Conheci Babi, minha amiga, ainda na pré-escola. E nos tornamos amigas desde então. A mãe dela sempre me dava roupas que não serviam mais em Babi e inclusive chegou a comprar peças novas para eu sair. Depois que eu fiz nove anos, tia Beatriz me levava para dormir na casa delas nos finais de semana. Eu esperava ansiosa pelo dia que ela me buscava e sonhava que ela não me devolvesse e eu pudesse ficar morando com ela e Babi para sempre.

Babi era doce, meiga e cheia de sonhos. O carinho que ela e a mãe tinham uma com a outra era a única coisa que eu invejava nela.

O tempo me fez conhecer afeto e amor naquela família, que me acolheu como se eu fizesse parte dela, mesmo que não passasse tanto tempo lá.

Um ano depois que meu pai foi embora, minha mãe trouxe um homem desconhecido para morar na nossa casa. Desde a primeira vez que o vi, não gostei da forma como ele me olhou. Mas meu lar era um lugar onde não se podia falar o que pensava. Aceitava-se o que tinha ou ia embora.

Depois que eu completei quatorze anos, numa noite, fui acordada com ele, meu padrasto, ao meu lado, na cama. Ele tapou minha boca e enfiou os dedos por dentro da minha calcinha, me tocando para satisfazer-se. Meus irmãos dormiam no mesmo quarto. Nunca tive certeza se viram o que ocorreu.

Era raro encontrar minha mãe sóbria para contar que o homem que a fodia todas as noites, tinha me tocado sem meu consentimento. Então eu contei para Babi, que quis imediatamente que eu morasse com ela e Beatriz. Mas fizemos um pacto que assim que pudéssemos, alugaríamos um apartamento na capital, seríamos ricas e com os homens aos nossos pés, com bons empregos e uma vida igual a das mulheres solteiras que viviam nas cidades grandes, como mostrava nos filmes.

Eu sabia que Beatriz dava um duro danado para manter a casa. Eu seria uma boca a mais para ela sustentar. Sem contar que morávamos próximos e minha mãe jamais aceitaria que eu deixasse nossa casa para morar com outra família, quase vizinha.

Eu não fui mais visitar meu pai, conforme os anos se passaram. Alguns dos meus irmãos também se recusaram conforme foram crescendo. E assim perdi contato com ele, completamente.

Depois do episódio da noite na cama, meu padrasto me surpreendeu no banho num final de tarde, trancando a porta. Novamente a mão tampou a minha boca e se masturbava enquanto seu pau nojento tocava minha bunda. Nunca houve penetração, mas os abusos começaram a ser cada vez mais frequentes.

Antes de completar 15 anos, transei com um garoto que mal conhecia, porque não queria que minha virgindade fosse perdida com o meu padrasto. Então comecei a passar boa parte do tempo na rua, transando com garotos da minha idade, bebendo e fazendo todo tipo de loucura, para evitar voltar para casa cedo.

Mas por que transando? Motéis eram os locais mais seguros para garotas como eu. Antes garotos da minha idade, que pagavam por um Motel e uma noite de sexo, do que ser surpreendida pelo canalha filho da puta que dormia com a minha mãe diariamente.

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