Como odiar um CEO em 48 horas romance Capítulo 168

Na hora, pareceu um sonho. A voz dela foi fraca, baixa, mas sim, eu entendi o nome do pai de Maria Lua: Heitor.

De repente, ela virou a cabeça para o lado e seu corpo começou a tremer em espasmos.

Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, duas enfermeiras me pegaram, tentando tirar-me da sala.

Recusei-me a sair, gritando para que ela reagisse:

- Salma, seja forte! Não pode nos deixar. – Implorei.

Outro homem apareceu e me puxou com firmeza, me afastando definitivamente de perto dela.

Enquanto me retiravam, contra vontade, vi o corpo dela desaparecendo entre as tantas pessoas que se voltaram à maca. O aparelho que bipava fez um som ensurdecedor para em seguida parar. Então ouvi um choro de bebê.

Os médicos e enfermeiros falavam todos ao mesmo tempo e eu não conseguia prestar atenção no que diziam. Percebi as pernas dela ainda tremendo e foi então que meus olhos se focaram na bebê cheia de sangue, levantada no ar pelas mãos do médico, com a boca aberta gritando e os olhinhos fechados.

O pequeno serzinho foi enrolado e trazido no colo de uma mulher, junto comigo. Fui colocada numa outra sala e ela me mostrou Maria Lua. Olhei o rostinho miúdo, que não havia aberto os olhos. Ainda chorava.

- Ela está bem. Vamos levá-la para a UTI neonatal porque ela está com um pouquinho de dificuldade para respirar. Sou a pediatra.

Eu toquei o tecido que a cobria. Meu coração batia tão forte que duvido que suportaria tudo aquilo.

Aos poucos, tudo foi ficando calmo demais. Maria Lua foi levada e o som do choro dela não foi mais ouvido. E eu encaminhada para uma terceira sala. E esta sim era uma espécie de recepção, dentro da maternidade. Mas não havia ninguém ali. Só eu.

Fechei meus olhos e respirei fundo, repetidas vezes:

- Deus, se você está aqui... Não faça isso comigo. Não a tire de mim. Salma é a melhor pessoa do mundo. Já sofreu demais. Ela não merece ir agora, sem conhecer a filha.

Abri os olhos e senti uma forte tontura. Olhei minhas mãos, que tremiam muito. Ainda ecoava na minha cabeça as palavras dela: “O pai dela é Heitor.”

Que porra! Como assim Heitor? O meu Heitor?

Por mais que eu tentasse imaginar que poderia ser outro, sabia que era Casanova... O meu CEO, o homem que me apaixonei perdidamente e fugi como uma covarde.

Suspirei, ainda aturdida. Depois de tudo que sofri por Jardel levei dois anos para me sentir recuperada. Encontrei Heitor: sarcástico, debochado, canalha, safado, ordinário, lindo, com os olhos mais perfeitos que já vi, o melhor sexo da minha vida. E ele engravidou a minha melhor amiga? Não... Não era justo.

Olhei para o teto:

- Deus, o que você quer de mim? Diga logo, pare de se fazer de bonzinho, Cara.

Canalha! Como ele pôde fazer isso? Ele transou com Salma. E... Comecei a me dar em conta que ela sempre fugia da presença dele no nosso apartamento. Pus a mão na cabeça, que começava a doer. Como fui tão idiota?

O médico apareceu na sala de espera, ainda com a roupa que usara no parto. Olhei para ele, ainda sentada, incerta de como agir: permanecer sentada ou levantar? Simplesmente a voz não saiu para eu perguntar.

Ele sentou-se ao meu lado e abaixou a cabeça, evitando os meus olhos.

Ficamos um tempo em silêncio, cada um com seus próprios pensamentos.

- Me diga que está tudo bem com ela. – Pedi, com a voz fraca, sentindo meu coração voltar a disparar dentro de mim, se é que ele havia batido de forma normal naquele dia.

- Não posso – ele me olhou – Infelizmente ela não resistiu.

Abaixei a cabeça, sentindo como se meu corpo começasse a se desintegrar. Meu estômago doía, me deu um frio na espinha ao mesmo tempo que o tremor se espalhou pelas pernas.

Salma está morta!

Não, isso não é possível. Ela é jovem. Mal completou 28 anos. Ela fez tudo que o médico pediu. Ficamos meses na casa da mãe de Ben para que ela seguisse fazendo repouso de forma correta. Minha amiga não tinha doenças pré-existentes, não era sedentária, se exercitava regularmente e tinha uma alimentação saudável.

Ela encontrou um homem pelo qual se apaixonou há poucos meses. Detalhe: ela nunca havia se apaixonado por alguém.

Salma sofreu na infância e adolescência e só conseguiu ser feliz quando finalmente fomos embora, morando juntas naquele apartamento.

Ela estava loucamente apaixonada pela filha. Ela tinha mil planos para fazerem juntas... Ela não podia simplesmente ir embora e deixar Maria Lua.

- Não é justo... – falei, abaixando a cabeça, segurando minhas mãos uma na outra, com força, não querendo que ele visse o quanto eu tremia.

- Fizemos tudo que era possível para salvá-la. Mas infelizmente só o bebê resistiu – ele tocou o dorso da minha mão – Pessoas morrem todos os dias neste hospital. E estou tão acostumado, que raramente me impressiono. Mas... Ela era jovem, cheia de vida. Sinto muito, de verdade.

Ele levantou e se foi, me deixando ali sozinha. Eu queria chorar, mas era como se eu não pudesse fazer aquilo. No entanto estava trancando na minha garganta um grito de dor, que eu tentava desesperadamente sair, mas não conseguia.

Levantei, sentindo as pernas amolecidas. Uma enfermeira entrou na sala:

- Quer ver a menina?

Meus olhos se fixaram nos dela:

- Eu posso?

- Sim, pode. Me acompanhe, por favor.

Acompanhei-a, andando de forma automática pelo corredor. Paramos de fronte a um vidro retangular enorme. Tinha dois bebês nos berços transparentes e eu a identifiquei pelo vestido vermelho que Salma havia comprado para “trazer sorte”. Sorri, ironicamente. O que significa “sorte”?

- Pode entrar. – A pediatra falou, da porta.

Fui até ela, que pegou minha mão, levando-me até o berço. Maria Lua se remexia e começava a chorar novamente.

- Apesar de ser prematura, ela está bem. Ela é forte... Lutou e é uma sobrevivente. Sinto muito pela mãe, mas ouvi as palavras dela quando pediu que você cuidasse da bebê – ela tocou meu ombro, ficando com a mão quente sobre ele, enquanto também olhava para Maria Lua – Acho que ela tem um anjo da guarda forte. Será que é Bon Jovi? – sorriu.

- Só pode ser ele. – Sorri de volta, completamente derretida com a imagem da bebê vestida de vermelho.

A médica pegou a menina e perguntou:

- Quer segurá-la?

- Eu... Posso?

- Deve. Apesar do baixo peso, em breve ela poderá deixar a maternidade.

O chorinho, embora persistente, era baixo. Fiquei temerosa antes de segurá-la. Eu nunca peguei um bebê antes, em toda a minha vida. Sempre os achei muito sensíveis e pareciam que se quebrariam.

Quando Maria Lua foi colocada nos meus braços, automaticamente aconcheguei-a ao meu peito. Ela parou de chorar imediatamente e abriu os pequenos olhinhos claros. A pele era branca e os cabelos quase não davam para ver tão fininhos e curtos.

Meu coração bateu de uma forma diferente e senti algo que nunca imaginei na vida.

Naquele momento, percebi que eu suportaria qualquer coisa que a vida me mandasse, enviando de volta o dedo do meio enquanto ela tentava me derrubar e destruir.

Sorri, deixando as lágrimas escorrerem até caírem no rostinho avermelhado que me encarava:

- Bem-vinda, raio de sol!

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