Contos Eróticos: O Ponto I romance Capítulo 107

Quem disse que o tempo era relativo estava certo.

Certa vez Isadora lera em um livro que o tempo era relativo ao corpo e local a que se refere. Havia mundos nos confins do universo onde o tempo passava milhares de vezes mais rápido que na Terra. Em um mundo assim, um segundo poderia significar o tempo de nascimento, evolução e extinção da raça humana.

Tudo em um piscar de olhos.

Em contra partida haveria mundos em que o tempo nunca tinha começado. Como viver em uma pausa eterna, livre do senhor de todas as coisas?

Havia também a teoria de que o mundo espiritual e o mundo físico existiam no mesmo plano e não em planos diferentes, como muitas religiões acreditavam. A questão era que, na morte, o espírito desligado do corpo físico era capaz de se deslocar em sua velocidade natural, uma velocidade impossível de ser notada pelos sentidos humanos.

Tudo aquilo era irrelevante naquele momento.

O tempo parecia congelado e a pior parte seria quando voltasse a correr.

Adriana conduzira os quatro estudantes até a sala da diretora, Miss Wingates e pedira que eles se sentassem e a aguardassem ali.

O escritório de Miss Wingates era enorme, amplo e elegante. Havia diversas estantes de livros, mesas com livros de pesquisa e estatuetas. Havia uma mesa com um microscópio, uma ampulheta e dezenas de frascos e tubos de ensaio, alguns vazios, outros com líquidos de diversas cores.

Uma espécie de mesa de alquimia misturando magia e tecnologia.

Um dos cantos da sala era decorado com uma estátua de mármore da deusa Athena em tamanho natural de um ser humano. A belíssima obra de arte possuía todos os detalhes conhecidos da lendária obra real. Tinha a mão direita com a palma virada para cima, segurando uma estatueta da deusa da vitória, Nice. A mão esquerda era apoiada sobre o enorme escudo redondo ao seu lado no chão e a lança de batalha estava em pé, apoiada no braço esquerdo.

Havia ainda a seus pés a serpente que representava Erictônio, filho adotivo da deusa e também primeiro rei mítico de Athenas.

A belíssima estátua parecia quase viva, os vigiando, tão assustadora quanto a mulher que ostentava o mesmo nome da deusa.

Quando os quatro estudantes entraram, logo após a secretária, encontraram quatro grandes cadeiras diante da majestosa mesa de trabalho da diretora. Josh e Leonel se sentaram nas duas do meio, com as garotas nas outras, Isa ao lado de Joshua e Trixie ao lado de Leonel.

Adriana colocara alguns papeis sobre a mesa e dissera que a diretora logo os atenderia, saindo da sala.

E então o tempo congelou.

Os primeiros minutos de espera pareceram horas e logo parecia uma sessão de tortura psicológica. Isadora não sabia se Leonel havia falado sobre o ocorrido com Trixie antes, contudo, depois da transa na casa de Candy e de Josh a deixar em casa na parte da manhã de domingo, não haviam se falado mais.

Os quatro tinham vindo da sala de aula em silêncio e o mantinham.

Aquela sala poderia ter câmeras de segurança escondidas entre os objetos e falar sobre o incidente seria como se confessar para a diretora. Além de quê, não havia nada para falar. Isadora sentia que precisava conversar com Leonel sobre aquilo, mas sequer sabia por onde começar.

O tic-tac incessante de um enorme relógio de parede já estava dando nos nervos. A nerd procurava manter a calma. Pensava no que falaria com o pai mais tarde, quando voltasse para casa. Aquela conversa com Miss Wingates ditaria o rumo da conversa com o pai, considerando se fosse expulsa ou não.

A vontade de fazer xixi viera, como sempre acontecia, nos momentos mais inoportunos, mas Isa sabia que não poderia sair dali sem permissão. E dadas as circunstâncias, sentia que não era aconselhável pedir para sair quando Miss Wingates chegasse. Tinha de se controlar e não fazer xixi nas calças, certamente isso também pioraria as coisas.

As cadeiras onde os quatro estavam sentados eram mais confortáveis que aquelas que eles próprios tinham em suas casas ou escritórios, tendo assentos e encostos revestidos com estofado vermelho com descansos laterais para os braços. A madeira era amarela com verniz, conferia um elegante tom dourado.

No entanto, após vinte minutos sentados ali, todos estavam estressados e desconfortáveis, cada um olhando para a mesa da diretora ou qualquer outra coisa, evitando contato visual entre si.

Miss Wingates entrara na sala exatamente duas horas e dezessete minutos depois que os solicitados tinham chegado com a secretária. Isa quase suspirara de alívio ao ver a mulher. Toda aquela pressão a estava matando. Se fosse ser crucificada, que fosse logo e não com tortura. Merecia essa piedade.

—Obrigado por me esperarem – dissera a mulher cordialmente com sua voz calma e sedutora, como se algum deles tivesse outra escolha – Temos assuntos sérios e muito importantes para tratar. Estão confortáveis?

O silêncio ainda imperava. A diretora começara a checar os papeis deixados pela secretária sobre a mesa e aguardara pouco mais de um minuto para voltar a falar. Entretanto, assim como em outro universo com outras medidas de tempo, aquele breve e longo minuto parecera levar horas.

Tudo que disser poderá e será usado contra você no tribunal.

A regra de ouro.

—Aparentemente – voltara a falar a diretora – não estão confortáveis. Não é preciso dizer que merecem isso. Sabem por que os chamei aqui. Não pensaram realmente que eu não descobriria, certo? Sei que subornaram uma policial para se safar de consequências graves imediatas. Admiro isso, são treinados para ter respostas inteligentes diante de situações adversas. Porém, paguei bem mais para saber toda a verdade. Ainda estou cuidando das muitas pontas soltas que deixaram. O que nos traz à situação atual e a questão – emendara levantando o indicador – o que devo fazer com vocês? Alguma sugestão?

Tudo que disser poderá e será usado contra você no tribunal.

Aquelas palavras ressoavam na mente dos quatro sem parar.

Entre os alunos do Delphine’s havia um rumor de que enquanto atuava no exército, Miss Wingates fazia parte da divisão de interrogatórios. Os boatos eram de que nenhum suspeito conseguia manter segredos com ela.

Não apenas Isadora, mas todos os outros acreditavam que a diretora estava brincando com eles, jogando com as palavras para que alguém respondesse algo errado e se enforcasse. A regra de ouro do colégio ainda valia.

Certa vez, durante uma palestra, Miss Wingates indagara: Não somos uma escolinha do governo mantida com dinheiro de contribuintes. Somos o que há de melhor na construção e formação de cidadãos excepcionais em todas as áreas. Nós somos a nata que cobre a elite em todas as áreas da sociedade e sempre seremos. No Delphine’s nós formamos aqueles que moldam o mundo.

—Me permitam lhes fazer uma pergunta – voltara a falar a diretora, trazendo todos de volta à realidade – Sempre falamos para os iniciantes acerca das regras e, caso não sejam cumpridas, que serão expulsos. Me digam, quando um aluno do Delphine’s foi expulso? Conhecem alguém que tenha sido?

Isadora continuava de cabeça baixa, evitando o contato visual. Sabia que se encarasse a diretora diretamente, a mesma poderia desarmá-la com um olhar.

—Vanessa Winstom Brooks, expulsa em 1959 pelo diretor Carl Winchester. Isso foi há sessenta anos – respondera a nerd – Depois desse incidente nenhum outro aluno foi expulso. Não há registros de outras expulsões anteriores.

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