Clara voltou ao final do corredor com uma expressão diferente daquela de minutos antes. O sorriso que se desenhava em seu rosto não era apenas profissional — havia ali algo genuinamente tocado, emocionado.
— Ela pode receber visitas. — Anunciou. — E… quando falei seu nome, senhora Lancaster, ela pareceu despertar. Abriu os olhos e parecia perguntar se era verdade. Está… entusiasmada. O que é raro.
Lauren assentiu com um sorriso discreto e murmurou um “obrigada”. Ela tocou o braço de Damian de leve, indicando que era hora de seguirem. Clara tomou a frente e eles passaram por outro corredor, mais silencioso, onde as vozes dos residentes e os ruídos do dia a dia do asilo já não ecoavam. A luz ali era mais suave, as janelas estavam fechadas e o ar parecia diferente. Havia uma calma que beirava o sagrado.
Damian seguia atrás de Clara e Lauren. O cheiro suave de lavanda ainda pairava no ambiente, mas agora parecia mais distante, como se a realidade estivesse começando a desbotar a cada passo que ele dava. Tudo à volta se tornava sombra, exceto aquelas duas mulheres à sua frente. Cada movimento de Lauren parecia desacelerado. Cada som, abafado.
Ele leu a plaquinha na porta com letras douradas sobre a madeira clara: 217.
A respiração de Damian prendeu por um instante. Era só uma porta. Um número. Mas algo dentro dele se contraiu. Era como se ali, atrás daquele pedaço de madeira, o selo do destino estivesse prestes a ser quebrado.
Lauren foi a primeira a entrar. Clara permaneceu logo atrás dela, segurando a porta, e Damian permaneceu por um breve instante do lado de fora, olhando para o número. Só depois deu um passo e ultrapassou a soleira, como se cruzasse uma linha invisível entre o passado e o presente.
Do lado de dentro, o quarto era simples, com paredes claras e quadros de flores. Uma poltrona ao lado da cama, uma pequena estante com livros e um rádio antigo sobre um móvel. O sol entrava pela janela parcialmente aberta, iluminando os lençóis brancos e o rosto da mulher deitada na cama.
Lauren se aproximou da cama com delicadeza e um carinho quase reverente.
— Jane… sou eu, Lauren. — Ela disse, a voz suave, quase num sussurro. — Vim te visitar, como prometi.
Clara sorriu e deu um passo para o lado, abrindo espaço para que Damian finalmente visse o rosto da mulher que Lauren chamava de Jane.
Foi como se o tempo tivesse parado, o silêncio tomou conta do ambiente.
A mulher tinha o rosto arredondado, marcado pelo tempo, com algumas rugas suaves e a pele levemente pálida. Os cabelos, antes negros, agora estavam entrelaçados por fios grisalhos, presos em uma trança frouxa. Ainda assim… ainda assim… Era ela. Não havia como confundir. Não importava quanto tempo passasse, Damian jamais esqueceria aquela mulher. Mesmo depois de tantos anos, mesmo com a ausência, com o vazio que ela deixara, mesmo com o tempo transformando memórias em sombras distantes… Damian sabia. Aquela mulher era sua mãe.
O coração dele disparou. Ele tentou respirar, mas parecia que os pulmões haviam esquecido como funcionar. Os sons do mundo — o sussurro da brisa, os passos de Clara, a voz de Lauren — desapareceram. Tudo se apagou. Só restava ela.
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