Damian deslizou os dedos com delicadeza pelos cabelos da mulher à sua frente. A mãe dele. A mulher que acreditou ter perdido para sempre.
Os fios agora estavam opacos, embora limpos. Ele se lembrava de como eram antes: negros, sedosos, com um brilho quase azulado sob a luz. Amber sempre cuidava deles com vaidade e carinho, dizendo que seu cabelo era como uma coroa. Mas agora, mesmo trançados com esmero, não tinham mais vida. Assim como ela.
Amber era cheia de vida… Era. Sorridente, energética, uma mulher que iluminava os lugares por onde passava. Uma mulher que ria de maneira encantadora, cantava maravilhosamente bem e dançava na cozinha enquanto preparava o café da manhã, ao lado do filho. Mas tudo isso se perdeu com o tempo — com a traição, com o abandono.
Aos poucos, dia após dia, Amber foi murchando. Damian lembrava. Lembrava da forma como o sorriso dela começou a rarear. Como o olhar foi ficando distante. Como ela chorava sozinha no quarto, tentando disfarçar a dor de ver Rodney com outra mulher. De ver sua família desmoronar.
Ele fechou a mão em punho, pressionando os dedos contra a coxa. O ódio queimava sob a pele, misturado ao medo, à angústia e à impotência.
— Mãe… — sussurrou, engolindo o nó que se formava na garganta. — Você quer ir embora daqui?
Os olhos de Amber, que antes tinham reconhecido o filho com tanta clareza, pareciam ter se perdido de novo. O brilho se apagava devagar, como uma vela sendo sufocada. Ela piscou algumas vezes, sem focar direito. Respirou fundo e virou o rosto para o lado, como se nem tivesse escutado.
A lucidez fugia, e aquilo doía mais que qualquer palavra. Damian apertou os olhos, respirando fundo. Precisava ser forte.
Ele se levantou, ajeitando o paletó e alisando os ombros com as mãos trêmulas. Fez menção de se despedir, mas ela já não o olhava mais. Jane. Amber. Sua mãe. Estava ali, tão perto… e, ao mesmo tempo, tão distante.
Saiu do quarto com passos firmes. Encontrou Clara do lado de fora, esperando com as mãos cruzadas.
— É ela. — disse ele, sem rodeios. — É minha mãe.
Clara não disfarçou a surpresa, mas também não duvidou. Algo na convicção de Damian era irrefutável. E os olhos… Damian era muito parecido com o pai, exceto pelos olhos. Não eram só “puxadinhos”, o formato era idêntico ao da mãe.
— Eu quero que um exame de DNA seja feito. — Ele continuou. — Não porque eu tenha dúvidas. Mas para que ninguém mais tenha. Não quero ninguém questionando a verdade.
Clara assentiu, compreensiva. Era comum que os familiares fizessem isso, ainda mais quando vinham de famílias influentes. Ela nunca pensaria que Jane, Jane Doe dali, fosse na verdade uma Lancaster!
— Isso pode ser feito aqui mesmo. Podemos cuidar da coleta ainda hoje.
— Ótimo. — Damian pegou o celular do bolso e ligou imediatamente para Loui. O tom de sua voz era direto, frio, controlado. — Preciso que você agilize uns documentos para mim, senhor Jarvis. Sei que é Sábado, mas vou pagar o dobro. Se resolver hoje, ainda, receberá o triplo. Estou trazendo minha mãe para casa no fim de semana. Nada pode dar errado.
Desligou sem dizer mais nada. Loui, do outro lado, ficou desnorteado. Mãe? Mas ela não tinha morrido?
“Ele vai me pagar o dobro. Isso não é da minha conta, mas sim a papelada!” Damian enviou por mensagem os dados do Asilo e o que mais podia, o que Clara ia respondendo, enquanto andavam. Ele estava com os dedos tremendo, mas não era só por emoção de felicidade, mas de raiva por ver que sua mãe tinha sido reduzida a uma Jane Doe, uma indigente!
O caminho até a recepção foi silencioso. Damian caminhava como se carregasse o peso de mil pensamentos nos ombros. Lauren seguia ao lado dele, respeitando o silêncio. Quando estavam quase chegando, ela estendeu a mão e tocou a dele de leve.
Ele não olhou para ela, mas não recuou. Ao contrário, entrelaçou os dedos aos dela com firmeza. Então, num gesto calmo, virou a mão dela e depositou um beijo no dorso.
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