Em seu lugar 29-Revelações

Muhafa foi ao quarto de Said. Agora com o remédio, é certo ele dormir bastante, já que essa fórmula dá muito sono.
Vou então, até o meu quarto. Em frente ao espelho do banheiro, desmancho meu coque e escovo meus cabelos, os deixando soltos. Não dormi essa noite, ansiosa com a volta de Said. Agora estou cansada, precisando tirar um cochilo.
Quando saio do banheiro, levo um susto ao ver Said em pé. Os cabelos estão em desordem. A camiseta branca evidencia os músculos peitorais e dos braços. A calça azul marinho do pijama o deixava mais sexy. Os olhos negros penetrantes sombreados por cílios espessos e sobrancelhas grossas estão sobre mim, agressivos.
— Você deveria estar deitado. — Eu digo nervosa.
Observo ele andar com dificuldade quando se move em minha direção. Para à minha frente, tão próximo que eu consigo sentir o calor emanando de seu corpo, a tensão de seus nervos, seus músculos.
—Eu estou aonde eu deveria estar! —Ele diz seco.
Meu coração está agitado no peito, minhas mãos suadas, ainda assim, me sinto valente, porque consigo erguer meu rosto e encará-lo. Seus olhos duros como aço se encontram com os meus. Eu tento a todo custo entender sua hostilidade e sua atitude de ter vindo até meu quarto.
No entanto, estou cansada e agora tenho vontade de correr. Sair de perto dele para que ele entenda que eu quero estar em qualquer lugar, menos ali com ele. Fico me perguntando o tempo todo porque ele oscila tanto.
Bipolaridade?
Agora irá me castigar por alguma coisa?
Allah! O que o fez andar até meu quarto?
É nítido que algo aconteceu, ele parece prestes a explodir. Eu ignoro sua ira, e digo tentando parecer despreocupada:
—Said, seja lá o que tenha acontecido, sente-se. Por favor.
—Estou bem em pé.
Sua expressão está totalmente sob controle. Só os olhos que ardem naquela intensidade que eu conheço bem.
—Tudo bem Said, o que o levou a me procurar aqui no meu quarto?
Said respirando com dificuldade, me diz:
— Eu estou no meu limite. Até agora, tenho sido paciente. Tenho esperando que se abra comigo. Seu perfil não bate com a mulher simples, faxineira, que sabia fazer um carneiro assado, como Nardini me falou. Sua mentalidade é de uma mulher de outro país e não o meu. Porra!
Porra? Ele disse palavrão?
Allah! Isso não é bom!
Eu respiro fundo, e encaro Said, sei que está com dor. Ele não está em condições nenhuma de ter essa conversa.
— Said, por favor. Vamos para o seu quarto e conversamos.
—Para quê? Para você me enrolar como tem feito?
—Por favor, vamos! —Eu o seguro pelo braço.
Ele o puxa, fazendo cara de dor.
— Eu não vou a lugar nenhum até ouvir de seus lábios que você tem mentindo para mim esse tempo todo.
Eu começo a suar frio, seus olhos esperam respostas.
— Não sei o que quer ouvir?
Seus olhos nem piscam e escureceram um pouco, como se ele se ele estivesse se contendo com muito custo.
— A verdade! — Diz, entredentes.
Meu coração salta do peito e eu não consigo falar, um bolo se forma em minha garganta.
— Continuo esperando.
rudemente talhadas de Said estão bem próximas, enquanto seu olhar brilhante e duro estuda a minha expressão. De repente, tive vontade de recuar, fugir, me esconder longe dali.
A linha dura de sua boca parte-se num sorriso triste.
— Maysa...
Quando ele fala meu nome, minhas pernas se enfraquecem e meu coração dá um salto e se aperta. O encaro num misto de tensão e medo. Prendo a respiração. É como se ele se tivesse o poder de se apoderar de mim, anulando minha vontade própria.
—Você teve sua chance. Queria tanto que tivesse confiado em mim o suficiente para me dizer a verdade.
—Então, você já sabe?
—Sim. —Ele assente e trava sua mandíbula.
—Eu queria tanto ter falado...
— Quietinha. –Ele diz entredentes. Fixa seu olhar áspero nos meus. — Por que diabos, então não me falou a verdade? Por que não esclareceu tudo quando te dei a oportunidade de se abrir comigo?
—Eu tive medo. —Eu respiro fundo e pergunto. —O quanto você sabe?
—Sei de tudo. Tive uma longa conversa com sua
Eu me afasto dele, assustada:
você viu o estado da minha irmã. Ela não tinha condições de assumir sua
diz duro, seus olhos como balas me
entendo os motivos que a levaram se colocar no lugar dela, assumindo sua identidade. Entendo que quis poupá-la. E quando soube de Nurab, percebi que no fundo, ela foi uma vítima da lábia daquele infeliz. —Said faz cara de dor e leva a mão ao peito. — Mas e depois? Quando eu estava pronto a te ouvir? Quando eu confessei que poderia ter me enganado com você? Allah! Não percebeu que, desde então, tenho insistido que se
Eu o pego pela mão.
—Said, por favor, sente-se.
tão nervoso, ofegante, e isso com certeza, lhe causará mais dor depois. Ele não rejeita meu conselho. Caminha com dificuldade até a cama e se senta nela. Eu me sento ao
fundo e abaixo a cabeça, fugindo da expressão hostil dele. Balanço minha cabeça em
me perdoa. Eu tive medo das consequências. Não sabia como
pesado fica entre nós, eu ergo meu rosto. Ele me olha com o semblante carregado de tristeza. Isso
você ainda me vê como um bárbaro. Um homem cruel, que coloca os costumes acima
Você muitas vezes, agiu como
se eu fosse um bárbaro como pensa, logo que eu tivesse descoberto a verdade, teria te acusado. E não teria te dado à chance de se
—Said...
dói, isso me machuca. Sei que fui duro. Agi muitas vezes no calor da emoção. Te pré-julguei, admito. Mas tudo isso, nada mais era a vontade de te dar uma lição, te transformar, pois você alimentou em mim, essa ideia errônea de você. Você me deixou pensar que era uma mulher fútil,