Em seu lugar 32- O amor

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Said

Maysa está demorando. Estou me sentindo extremamente irritado por estar nessa cama. Toda e qualquer posição para mim agora é desconfortável. Meu tórax doí.

Doí quando eu ergo os braços, quando eu faço força para me levantar, para me deitar, e até quando eu ando.

Fecho os olhos pensando em Maysa. Ela é um balsamo para meus próximos dias nessa cama.

Nossa relação mudou, agora tudo está tudo preto no branco. Estávamos verdadeiramente nos conhecendo, sem máscaras.

Só há um, porém nisso tudo. Ela tem raízes na Inglaterra, e moderninha demais para o meu gosto. Eu a quero por inteiro. Ela terá que abrir mão de tudo. Deixar tudo para trás. Qualquer vírgula ou ponto de interrogação que eu enxergar, colocará tudo a perder.

Eu tento não pensar muito nisso, pois quero viver o momento da conquista, aprofundar a relação a ponto de ela tomar essa decisão por mim.

É esse meu objetivo. Não passa pela minha cabeça perdê-la.

A atração entre nós é avassaladora, única, e que não pode ser ignorada e além dela. Há outro sentimento.

O amor...

Maysa se fixou em meu coração e em meus pensamentos, se tornando a razão do meu viver. Ela enche minha vida de luz.

Maysa entra no meu quarto. Sinto seu perfume suave.

Allah, ela cheira bem, como jasmim e rosas.

Os caftans que ela usa são de trabalho, todos brancos. Mas isso não impede de eu desejá-la com grande ferocidade. Um desejo animal. Selvagem, nunca senti isso por mulher alguma.

Observo seus cabelos presos no alto da cabeça e eu tenho vontade de soltá-los e vê-los esparramados no travesseiro. Quando nossos olhos se encontram meu coração se agita no peito. Sim, ela me faz me sentir como um adolescente.

Maysa

— Oi. Já falei com Muhafa. Ele te ajudará com o banho.

— Não sei o que seria de mim sem você. —Ele diz com um sorriso jocoso.

—Estaria bem, seus empregados gostam de você. São fiéis. Isso foi uma das coisas que me chamou a atenção quando cheguei aqui.

Said fica sério de repente.

—Feche a porta que preciso falar com você.

Eu fecho a porta e me aproximo da cama dele.

—Mas antes, quero um beijo. Igual ao beijo que me deu.

Eu sinto meu coração dar um salto no peito com suas palavras. Relutante, me aproximo dele. E fico de joelhos no colchão, seguro a cabeça dele com as mãos e o observo por um tempo, antes de unir meus lábios nos dele. Não de maneira sexual, mas terno, saboreando seus lábios, mordendo-os dele leve e devagar.

Said me surpreende, erguendo um dos braços, creio que ignorando a dor, e pega meus cabelos, intensificando o beijo. Dizendo no meu ouvido. "Eu te desejo". Seus lábios então se movem nos meus, em um beijo urgente. Me fazendo ansiar por muito mais que só seus lábios me tocando.

Eu me afasto dele devagar, para não o machucar. Penso nas palavras dele no meu ouvido, fico triste, pois não é isso que eu quero ouvir. Quero ouvir que ele me ama.

Said sorri como um menino, pega minhas mãos e me segura meus olhos nos seu.

— Minha mãe, com certeza virá aqui. Ela é uma pessoa difícil, se fosse fácil eu não teria saído de casa. Ela pensa que pode controlar minha vida. Sempre foi assim. Eu me cansei de seu jeito, controlador.

—Hum, por quem será que você puxou? —Eu pergunto com divertimento.

Said me encara sério, ignorando meu comentário.

— Sua situação, é muito complicada. Todos meus empregados viram a forma como te trouxe aqui. E acompanharam tudo. Eu não posso então falar para ela o tipo de envolvimento que tenho com você. Eu teria que dar muitas explicações, e com certeza ela sondaria Zafira a seu respeito. Eu não me encontro em condições de bater de frente com ela. Por isso, para te poupar, sugiro que você se passe por minha empregada. Eu direi que você é uma enfermeira contratada, e assim justificaria a cama de solteiro no meu quarto.

Não se encontra em condições para enfrentar a mãe. Só para ir ao meu quarto e brigar comigo porque escondi a minha verdadeira identidade.

Ele continua:

—Por isso, não quero que meus empregados saibam também, que estamos juntos. Tudo é muito complicado. Deixe-me recuperar, e assim, podemos assumir tudo de vez.

—Está certo. —Sorrio para ele, escondendo minha tristeza. —Já está quase na hora do seu banho. Eu vou então para o meu quarto assistir um pouco de televisão. Depois vou ligar para Nadir e perguntar da minha irmã.

Ele aperta a minha mão.

—Esqueci de te dizer, sua irmã saiu da UTI.

Eu fico emocionada.

—Allah! Que maravilhoso.

Allah! Agora poderia ligar para o hospital e pedir para falar com ela no quarto.

Said sorri para mim, eu retribuo com um meio-sorriso, digo suavemente pare ele:

— Depois que Muhafa te ajudar com o banho, eu trago seu jantar.

—Só frutas, estou muito deitado e não tenho gasto energias. E por isso, não estou com muita fome.

—Está certo.

Said

Maysa sai, me acomodo o melhor que consigo nos travesseiros e fecho os olhos.

Eu me sinto triste por dentro. Gostaria de poder espalhar para o mundo que eu e Maysa estamos juntos. Mas minha mãe não descansaria até saber tudo dela. A forma e as circunstâncias que eu a conheci são complicadas.

A verdade é que Maysa me tem em suas mãos, mesmo que inconscientemente. Eu no fundo, me sinto pisando em ovos com ela. Tenho medo de confessar que a amo. Ainda não sei o que ela sente por mim. Tenho medo de assustá-la. Por isso estou indo com calma e tudo isso por causa da sua independência na Inglaterra. Por isso, estou indo devagar. Quando chegar a hora de ela ir eu confesso meus sentimentos. Melhor assim.

A imagem de minha mãe se metendo em tudo surge na minha mente. Samira não é uma mulher fácil. Se ela souber do meu interesse por Maysa, ela fará de nossas vidas um inferno. E Maysa tem um pé em outro mundo, em outra cultura. Não posso

Dentro de mim se agita perguntas sem respostas:

Até que ponto Maysa lutaria por mim?

Ela aguentaria a pressão? E eu nessa cama, não poderia protege-la?

precisa se passar por minha enfermeira. Só assim ela ficará invisível para Samira, e eu ficarei mais tranquilo.

Maysa

Penso na conversa que acabei de ter com minha irmã. Ela tinha me contado de Said e de sua visita até o hospital. Conforme ela contou percebi que minha irmã também tinha sido enfeitiçada por Said. Notei pela maneira que ela me

Adara simplesmente ficou encantada por ele.

E eu não consegui dizer a ela que estávamos juntos. Mesmo porque Said ainda não oficializou nada. Estamos nos conhecendo, por assim dizer.

Fiquei pensando na condição de Adara.

Suspirei.

Logo ela sairá do hospital. Não posso deixá-la sozinha naquela casa, sem provisões. Adara precisava se recuperar, ficar bem, e só assim ela pode tocar sua vida e arranjar outro emprego.

Nadir não tem obrigação de sustentar minha irmã, não podemos abusar dela dessa maneira. E eu preciso falar com Said. Vou ver com ele se minha irmã pode se recuperar aqui, perto de mim. Então, ela ficaria um tempo na mansão até se sentir forte o suficiente para correr atrás de seu futuro.

Creio que ele não irá me negar esse pedido. Ficou muito claro que Said entendeu que minha irmã é mais uma vítima do que

Quando deu a hora do jantar, pego a trouxa de roupa suja e as deixo lavando na máquina. Esquento para mim um prato de sopa.

Depois de lavar meu prato, estendo as roupas. Só então, arrumo a bandeja para levar a Said com um copo de suco de uva, mamão, uma maçã e tâmaras secas.

A porta do quarto está aberta. Isso significa que Said já tomou banho e me aguarda.

no quarto, eu o avisto estirado na cama com as pernas para fora da cama, de barriga para cima, e com expressão de dor. Ele respira com dificuldade e

Isso me preocupa, ainda não venceu o prazo do horário do remédio para ele sentir tanta dor assim. Coloco a bandeja no criado-mudo e vou até ele.

—Said?

abre os olhos e me

—Ele suspira, e demonstrando irritação, perguntou áspero. — Onde você

minhas roupas, jantei. O que aconteceu? Por que está com dor? Você caiu? Bateu em algum

Ele fecha os olhos.

Muhafa me ajudou a vestir as roupas, eu o dispensei, ele saiu. Eu caminhei até minha cama, mas enrosquei o pé nesse tapete e me desequilibrei. Segurei-me na cama para não cair. Agora não aguento de

coração se aperta com o relato, me sentindo culpada e com raiva de mim mesma. Eu retiro imediatamente o tapete e o dobro, colocando do outro lado da cama. Me viro para ele, e digo

Eu já deveria ter tirado esse tapete. Mas você também errou de ter dispensado Muhafa. Você não pode ficar

de joelhos e o beijo com delicadeza nos olhos, nas bochechas e nos lábios. Quando me afasto, ele me dá um lindo sorriso, embora seja tão nítido sua

Eu adoro quando é espontânea, quando não preciso implorar pelos seus

passo as mãos pelos cabelos

que não precisará mais

olha com intensidade. E fala quase

minha dor despertou em você essa naturalidade, então valeu à pena meu

dou um sorriso para ele com meiguice e o beijo nos lábios. Nessa hora ouço passos no corredor, me afasto imediatamente de Said, a tempo de ver Zafira abrir

Said, sua mãe está ligando para a sua linha e só dá

Maysa, me ajuda a me sentar. —Ele diz,

está numa posição tão frágil, isso me dá um grande aperto no coração. Eu e Zafira ajudamos ele a se reerguer. Corta meu coração ao ver a dor que ele está

estou acostumada, acho que ninguém está. Ele é sempre cheio de si,

Já sentado, ele diz para Zafira:

tirei o fone do gancho. Estava no banho. Peça para ela ligar daqui

faz uma reverência e me encara por um tempo, acredito que estranhando Said me chamar de