Quando volto, Said está de olhos fechados ainda com cara de dor. Mas sua respiração é mais tranquila. Quando ele sente a minha presença, seus olhos imediatamente me procuram. Eu desvio meu olhar de sua figura e coloco meu camisolão e o meu penhoar na minha cama.
Eu me viro para olhá-lo. Seu rosto está ruborizado, seu cabelo está bagunçado, mas atraente. Ele estuda meu rosto.
—Mamãe virá amanhã cedo. Passará o dia aqui.
Eu dou um sorriso para ele.
— Claro, ela deve estar preocupada.
— Ou não quer perder a oportunidade de se meter na minha vida.
—Toda mãe é assim. Ela quer o seu bem.
—Tranque a porta e deite-se comigo.
Uma voz baixinha me alerta de que é uma má ideia. Se isso ficar mais íntimo só vai tornar as coisas mais difíceis quando eu partir. Digo à voz para calar a boca. Vou até a porta e a tranco. Vou do outro lado do lado da cama e me deito no peito dele, do lado bom.
Said beija meus cabelos.
— Solte seus cabelos. Eu sou fascinado por eles. Fiquei feliz que não os cortou.
Solto os meus cabelos que caem como cascata. Ele me dá um sorriso. Eu me inclino e o beijo. Ele segura a minha cabeça e aprofunda o beijo. Quando me afasto estou ofegante, me deito nele sentindo sua respiração pesada, misturada com a minha. Ficamos um tempo assim.
—Fale-me de você.
Eu suspiro:
— Não conheci meu pai, ele morreu cedo, vítima de um enfarto. Minha mãe costurava para fora para nos manter. Ela não durou muito tempo também, quando eu tinha dezoito anos, ela morreu, vítima de pneumonia. Isso me desestruturou. Por isso, quando a oportunidade de estudar na Inglaterra surgiu, não tive dúvidas em aceitar. O convite foi feito por meu tio Zafir, irmão de minha falecida mãe. Ele e sua esposa inglesa, Letícia, já moravam há vinte anos em Londres. Adara rejeitou a proposta. Na época não me preocupei em deixá-la, pois eu tinha uma tia que se preocupava conosco e sempre ia nos ver. Ela então, não ficaria sozinha, pois estaria em boas mãos. Não foi fácil a minha adaptação. Tive grande dificuldade em aprender o inglês, estranhei o clima, as pessoas, mas nada disso me impediu de eu estudar e me formar. Hoje sou graduada em enfermagem e trabalho em um grande hospital em Londres. Tenho um apartamento alugado, mas jeitoso.
Said ouviu o tempo todo calado o meu relato e permanece agora muito quieto. Eu me ergo para fita-lo, seu rosto é sério.
— Estamos juntos agora. Caso a gente dê certo, você pensa em deixar tudo para trás?
— Sim, se tudo der certo. Deixarei minha vida para ficar com você. Mas creio que é muito cedo para eu tomar essa decisão. Não acha?
Não queria que ele soubesse que me sinto nas mãos dele. Tentei ser bem firme e direta, mostrar a ele que seguirei em frente caso não dê certo.
Ele abre um sorriso:
— Temos tudo para dar certo.
Meu coração se agita no peito feliz com a resposta dele, e o beijo apaixonadamente. Quando me afasto, Said sorri, parecendo um menino.
Eu fico a olhá-lo por um tempo. O sentimento que eu nutro por ele me assusta. Sinto entre nós uma forte conexão. Nosso desejo é intenso um pelo outro. Nos incendíamos como madeira e fogo.
Ele agora não me parece perigoso, pois está enfermo. Um gigante aprisionado. Mas eu não me arriscaria a ficar assim com Said, caso ele estivesse bem.
A imagem da minha irmã surge na minha frente.
— Queria te pedir um favor.
Said me olha, curioso.
— Se estiver em minhas mãos fazê-lo, pode pedir.
— Minha irmã foi enganada, como sabe, está desempregada. Ela deve estar sem recursos. Quando ela for para casa, não gostaria que ela ficasse sozinha. Gostaria que ela se recuperasse aqui. Você se opõe?
Said sorri.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Em seu lugar
Linda a história!!!!...