Lavo toda a louça com cuidado. Depois começo a fuçar na cozinha, acabo encontrando a frigideira que eu precisava para ter feito a omelete. Em um armário, temperos de todos os tipos. Na dispensa uma porção de laticínios, grãos, farináceos, pimentas, massas...
Allah! Agora é esperar o livro de receitas e segui-lo. Zafira entra na cozinha.
—Já tomou café?
Assenti.
Allah! Preciso tentar me aproximar dela e tê-la como minha aliada.
—Zafirinha, não gostaria de voltar para o meu quarto, eu poderia ficar aqui, quietinha.
Ela fecha a cara.
—Nada disso, são ordens. Said disse que não quer te ver solta na casa. Um dia o profeta riscou no chão: “O homem é o único culpado da sua própria perdição”
Eu conheço esse verso. Só que não se aplica a mim, quem se meteu em confusão e fez a burrada de confiar num jogador foi a minha irmã.
Suspiro, e não discuto.
— Está certo. —Dou um sorriso. — Você poderia ver com Said um rádio ou uma televisão? É horrível ficar confinada sem nada para fazer.
—Você não ficará sem fazer nada por muito tempo! — Ela diz ríspida.
—Zafira! O profeta também disse: “A verdadeira riqueza de um homem é o bem que ele faz neste mundo.” Você poderia ser menos rude comigo!
Zafira pisca sem ação.
—Não sei, você é ardilosa.
—Eu? Ardilosa?
—Você com esse jeitinho, no fim, ta dobrando Said.
Eu a fito séria e mostro minhas mãos.
—Zafira! Olhe! Eu não planejei isso!
Ela as observa, parece surpresa.
—Está vendo! —Eu digo quando vejo a expressão dela. — E quanto a cozinhar, eu na verdade, não sei.
Ela meneou a cabeça.
— Allah!
Eu choramingo:
—Zafira, gostaríamos que fôssemos amigas. Por favor! —Eu me sento na cadeira, e meus olhos se enchem de lágrimas.
Zafira me fita séria.
—Não sei.
Limpo minhas lágrimas, nervosa.
—Zafira, eu não fiz nada. Tudo isso é um mal-entendido.
—Said nos orientou que você tentaria nos enganar. Que enganaria nossos olhos e ouvidos.
—Allah! Zafira... —Digo angustiada. Desisto quando vejo a expressão incrédula dela. — Ah! Deixa para lá! Quero ir para meu quarto!
Ela não diz nada e se vira. Eu a sigo até a minha prisão. Ela abre a porta para mim.
—Vou pedir para Said a TV e o rádio.
Eu entro e a fito com tristeza.
—Obrigada!
Ela me olha por um tempo, antes de fechar a porta. Escuto ela virar a chave.
Allah! Eu estava já me sentindo claustrofóbica, quando horas depois a porta se abre e Zafira entra no quarto. Ela então me entrega o livro de receitas e junto como eles todos os itens que eu tinha pedido ontem à noite.
Pego das mãos dela o condicionador, os absorventes, a tesoura, o livro de receitas e o despertador.
—Menina, você pediu absorventes para Said?
— Pedi.
Ela me olha horrorizada e eu não entendo porque.
Tudo bem. Eu estou no oriente médio, e não na Europa. Lá é tão normal tratar desses assuntos, aqui falar disso com um homem, é proibido.
—Por que não pediu para mim?
Eu na hora nem me lembrei disso, talvez Said tivesse até visto isso como provocação.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Em seu lugar
Linda a história!!!!...