No dia seguinte, cinco e meia eu já estou pronta, antes mesmo de Zafira aparecer para me chamar.
Eu a sigo até a cozinha e sou apresentada a Salma, a cozinheira. Ela é uma mulher de idade bem avançada. Dá dó de saber que ela ainda precisa trabalhar.
Sim, esse é o destino das mulheres que não se casam, que não tem parentes, elas vivem para seus patrões, fiéis até o final de sua vida. Era o caso de Zafira e pelo visto, o futuro de Darla, que cuida da faxina e outras empregadas também que eu vejo pela casa e que ainda eu não entendo a rotina delas já que vivo trancada no quarto.
Salma me observa por um tempo.
— Eu vou preparar o café de Said. — Ela diz para meu alívio. —Mas hoje, temos muitas coisas para fazer. Haverá um jantar à noite. Sente-se que te passarei o que fazer.
Logo Salma já me ocupa, me dá uma massa pronta e me ensina a fazer majestades. Uma maça folhada de frango ou ricota. Faremos os dois. Não achei difícil modelar os bolinhos, estava até gostando. Depois de prontos eles iriam para o forno.
Quando ela prepara a bandeja de Said, eu me ofereço para levar. Salma nega com a cabeça.
—Said pediu para eu fazer a refeição e levar.
Eu dou de ombros e me sento na cadeira para continuar meu serviço. Quando Zafira entra para tomar um cafezinho, eu pergunto:
— Zafira, como será esse jantar?
—Na verdade é uma reunião, pois eles não se sentarão à mesa, será algo descontraído.
— Descontraído como?
—Conversarão, ouvirão música...
— Você conhece as pessoas que virão?
— Você acha que Said se abre comigo? Uma empregada? Talvez ele irá receber a família de Naja, ou talvez ele receberá os gerentes do hotel. Ele só me informou a quantidade de pessoas.
De tudo que ela me disse, só o nome Naja que me perturbou:
— Naja é a moça que ele namora?
— Sim, exatamente.
Sinto-me triste por dentro, mas disfarço e me envolvo com meu trabalho. Pensando na moça, eu admito que entendo o que Said viu nela. Ela está bem mais próxima do nível dele do que eu jamais estive, segue às tradições. Ela deve andar com o véu na rua, ser obediente, prendada. Não trabalhará fora e viverá para o marido.
Faço uma careta...
Eu observo Zafira depositando a sua xícara na pia, mas antes dela sair, pergunto:
— Quem os servirá?
—Terá uma aparador. E você ficará responsável por ele, o mantendo sempre cheio com os quitutes e ficando à disposição de Said.
—Sei.
Nessa hora Said entra na cozinha. Ele está vestido com roupas descontraídas. Então me lembro que hoje é Sábado, com certeza ele não irá trabalhar. Acalorada, desvio meus olhos do Adônis.
Mas a imagem dele permanece na minha mente. Arrogante, vestindo uma calça preta, camisa creme de algodão egípcio, um pouco entreaberta no peito peludo e moreno. A presença dele é um constante lembrete de o quanto ele mexe comigo.
Tento ficar calma, e me envolvo com meu serviço.
Será que ele se levantou cedo por força do hábito? Penso.
Dou uma olhadinha para ele, nossos olhos se encontram. Não consigo, descrever sua expressão. Mas consigo ver um fogo em seu olhar que me faz pensar que pelo menos não sou indiferente para ele. Eu baixo meus olhos. Preciso ser a menina obediente que ele espera de mim.
Continuo fazendo meu papel de mulher prendada, com a atenção voltada para o meu serviço.
— Adara!
Meu coração dá um pulo no peito e eu levanto. O rosto surpreso quando ele me chama.
—Me acompanhe.
Eu reluto um pouco, mas obediente me dirijo até a pia e lavo minhas mãos. Depois de enxugá-las me viro para ele. Said sai na frente. Eu o sigo. Pelo caminho que fizemos entendo que iremos até a biblioteca.
Ele vai liberar a ligação?
— Pode fazer sua ligação.
Ele me olha com aquele cabelo devidamente penteado para trás, negros como carvão. Seu queixo quadrado voluntarioso. Esse é homem é lindo. Minha frequência cardíaca acelera enquanto o homem alto à minha frente me observa.
Sim, terrivelmente bonito.
—A essa hora minha amiga não está em casa, ela é enfermeira e o turno dela é de manhã. Ela que me informa a saúde de...Maysa.
Ele me olha com aqueles incríveis olho negros expressivos.
—Entendo. Então, depois do jantar, você me lembra, e você fará sua ligação.
— Obrigada.
—Pode ir.
Eu aceno para ele e me afasto e me dirijo para a cozinha. Quando entro, Salma olha para mim, curiosa, mas não diz nada. Eu volto a minha tarefa.
Passo o dia inteiro praticamente dentro da cozinha. Não é uma tarefa fácil, fizemos vários tipos de salgados e docinhos.
O homem árabe é assim, virão cinco pessoas, ele fará um banquete para dez. Faz parte da nossa cultura oferecer uma mesa farta. O bom disso tudo é que não vou precisar me preocupar com o café de amanhã.
Suspirei aliviada.
Na hora do almoço pude me deliciar com os salgados e doces. Experimentei todos. Uma delícia. Se eu ficar na cozinha, com certeza irei engordar.
À tardinha, tudo pronto, e eu ganhei uma dor nos ombros. Zafira me leva até o meu quarto, cerca de três horas da tarde.
Segundo Zafira, o jantar começará as seis horas. Ela já tinha me dado um caftan mais festivo. Sorri amarga.
Allah! Quando que um vestido largo, branco e preto pode ser chamado de festivo?
Said convida todos para o banquete e pede para eles se servirem. Quando todos se aproximaram da mesa, eu pego a garrafa de suco de uva, que está dentro de um balde de gelo e encho os copos dos convidados.
De cabeça baixa, olhos baixos, o tempo todo, os sirvo.
—Adara? O que faz aqui?
Eu levanto meu rosto e fito o rapaz que fala comigo. Ele beirava uns trinta anos, magro, cabelos castanhos, olhos castanhos e da minha altura. Coloco a jarra no lugar.
Ele me mede com um sorriso maroto.
—Como você está diferente! Nem parece a mesma pessoa. Está muito mais bonita.
Ele com certeza conhece minha irmã.
Allah! E agora?
Nessa hora procuro Said com os olhos. Ele está conversando com um senhor mais à frente. Seus olhos encontram os meus. Eu desvio meus olhos de Said e respondo baixo ao jovem.
— Eu trabalho aqui.
O rapaz me olha confuso e eu estou intrigada pelo fato de minha irmã conhecê-lo, mas não deixo transparecer no meu rosto.
—Por Allah! Adara, por favor, você não irá me entregar para Said, vai?
Esse rapaz é Nurab, o cara que influenciou minha irmã a roubar?
Eu o fito com ódio nos olhos. Como eu permaneço calada ele diz angustiado:
— Por Allah, não faça isso!
Falo com ameaça velada, bem devagar.
—Não sei. Estou pensando!
Ele então, me fita sério e fala baixo, como um aviso:
—Se você contar, eu juro, eu te levo para o buraco que você me mandou. Que crédito você tem para ele acreditar em você? Eu sou rico, Said sabe disso. Só pedi o dinheiro para você, pois não queria que meu pai soubesse que perdi no jogo e ele anda nervoso comigo e ele cortou minha renda.
Eu fico pálida.
— Você é rico?
—Sim. Sei que por essa você não esperava!
Eu começo a tremer de desgosto.
Esse idiota é responsável por eu estar nessa situação e minha irmã no hospital.
Nervosa e respiro fundo tentando me acalmar.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Em seu lugar
🖊️ AVALIAÇÃO FINAL: Texto com vários erros e trama muito superficial, pueril e inverossímil, voltada essencialmente para a atração física e a tensão sexual, confundindo o tempo todo paixão com amor e não convencendo minimamente o leitor quanto à seriedade dos acontecimentos, visto que são dois adultos que mal se conhecem se comportando como adolescentes inexperientes, dominados pelos hormônios enquanto tentam entender o que sentem (confundindo imaturamente amor com paixão) e desenvolver não um relacionamento profundo, maduro, duradouro e com propósito, mas uma espécie de cabo de guerra emotivo-sexual, onde o foco está em quem vai conseguir satisfazer melhor seus próprios desejos físicos e anseios emocionais ou em quem terá que ceder mais às exigências culturais do outro... Eu vivi uma paixão forte antes de conhecer meu esposo e sei que não é fácil abrir mão de um relacionamento entre desiguais quando estamos muito apaixonados, mas também sei que é possível e agradeço a Deus por ter acontecido o término, pois só assim pude conhecer meu esposo, com quem sou feliz há 20 anos sem nunca ter precisado fingir ser quem não sou nem viver essa montanha-russa emocional 🎢, pois as renúncias que ambos precisamos fazer desde que nos conhecemos nunca foram relacionadas à nossa essência. Além disso, não foi em 1 mês que me apaixonei tão fortemente pelo meu ex, foi num relacionamento de quase 2 anos, com muito menos diferenças a considerar e muito mais profundidade de sentimentos - perto do qual essa situação do texto é simplesmente SURREAL (foi por muito pouco que não desisti de ler antes de chegar ao desfecho)... 👀 EM SUMA: estorinha adolescente e supercial que não convence minimamente, voltada essencialmente para situações rasas e tensão sexual. No final tenta passar algo um pouco mais aprofundado, mas já está contaminado pela superficialidade e falta de maturidade dos personagens, não dá mais pra levar a sério (a mudança abrupta torna tudo ainda menos verossímil). Muita decepção depois de ter lido "O Egípcio", da mesma autora... 💔...
* Além de tudo é hipócrita. O discurso de tradicionalista só vai até onde lhe convém, onde não convém que se lasque... Não é convicção religiosa, é mero interesse... Mais uma característica revoltante desse mimadinho narcisista fantasiado de homem... 🤮...
⁉️ "Até que ponto ela lutaria por mim?"... "Não aceitarei pontos nem vírgulas entre nós" ... Ora... E você, cara pálida, até que ponto lutará e cederá por ela?... Esses "mocinhos" de romance hoje em dia não servem nem pra espantalho de horta... É a mulher que tem que conquistar os caras, nunca o contrário... 🙄 E essas protagonistas pamonhas me dão nos nervos, sem força de vontade e respeito próprio nenhum, só pensando com os hormônios... 😒...
😒 Oh, coitadinho... O abusador bárbaro com pose de juiz justiceiro está arrazado porque em poucos dias se apaixou pela ladra que ele desprezava e agora percebeu que ela é de outra cultura e o vê com maus olhos depois de ele ter agido como um troglodita... Ah, faça-me o favor!... Que coisa mais sem nexo. Até parece que um árabe tradicionalista iria perceber que era visto como um bárbaro selvagem, sendo que pra ele ser assim é que é o certo... E um cara desse nunca iria se interessar por uma mulher cujo comportamento ele despreza, muito menos em poucos dias... Ainda mais tendo visto a mulher desde o início como se fosse apenas um pedaço de carne, não uma pessoa... Essa conversa de "eu a amo" e "eu o amo" chega a ser risível... Quem ama alguém em poucos dias, só porque não consegue controlar os próprios hormônios e vê o outro como se estivesse no cio? Desde quando isso é amor?... 👀...
😵💫 Mas que negócio sem cabimento... O cara tem namorada/noiva e fica querendo agarrar e beijar a outra, enquanto tenta dar lição de moral... Num dia quer humilhar a mulher e no outro já está dizendo que não sabe como ficar longe dela, como se fosse bipolar... Parece redação de adolescente do ensino médio isso... 😒...
❗ Ah, vá catar coquinho na descida, amigo... Sério que você quer "preservá-la, torná-la uma pessoa melhor e fazê-la agir como uma dama"... olhando-a como se fosse um pedaço de carne, agarrando-a e beijando-a ao seu bel prazer? Que conversa pra boi dormir é essa? Só se for pra rir... Já não basta a tola agir como uma adolescente dominada pelos hormônios e sem juízo, com essa rebeldia infantil de querer se mostrar e se afirmar com essa maquiagem fora de hora e lugar, ainda vem o cara com esse discurso de político em véspera de eleição?... Tá cada vez pior essa estória... 🙄...
⁉️ Minha nossa, quanta superficialidade e futilidade... Comecei a ler essa estória depois de ler O EGÍPCIO, mas que decepção... Pelo visto será só mais do mesmo de apelação sexual e relacionamentos baseados no carnal, sem nada de realmente relevante ou mais profundo, com personagens que mais parecem ratos marsupiais australianos do que seres humanos... Se for isso mesmo, não vou até o final, não. Sinto muito. Quero literatura de verdade, não futilidade e pornografia disfarçada de romance... 🫤...
Aff... Por que essas protagonistas sempre tem que ficar se derretendo diante dos caras como adolescentes sem cérebro, dominadas pelos hormônios? Me dá até vergonha como mulher esse comportamento fraco e patético... Não podem ver um rosto bonito ou um corpo bem feito que já estão se derretendo, mesmo o cara sendo um néscio, um cafajeste, um animal violento, um qualquer que não vale nada... 🙄 Esse tal Said poderia ser lindo de morrer, mas com esse comportamento de besta quadrada, sem contar a arrogância e o abuso sexual, sequer seria visto como um homem por mim... E ainda fuma, pra piorar (cheira mal)... Que atitude deprimente a dessa Maysa... Se passar pela irmã tola e irresponsável para pagar por uma dívida que não é sua e ainda sentir atração pelo energúmeno que a trata como vadia... É uma vergonha pra mim como mulher... 😒...
Uma das melhores historias que ja li aqui no site,muito boa mesmo!...
Linda a história!!!!...