Em seu lugar romance Capítulo 14

No dia seguinte, cinco e meia eu já estou pronta, antes mesmo de Zafira aparecer para me chamar.

Eu a sigo até a cozinha e sou apresentada a Salma, a cozinheira. Ela é uma mulher de idade bem avançada. Dá dó de saber que ela ainda precisa trabalhar.

Sim, esse é o destino das mulheres que não se casam, que não tem parentes, elas vivem para seus patrões, fiéis até o final de sua vida. Era o caso de Zafira e pelo visto, o futuro de Darla, que cuida da faxina e outras empregadas também que eu vejo pela casa e que ainda eu não entendo a rotina delas já que vivo trancada no quarto.

Salma me observa por um tempo.

— Eu vou preparar o café de Said. — Ela diz para meu alívio. —Mas hoje, temos muitas coisas para fazer. Haverá um jantar à noite. Sente-se que te passarei o que fazer.

Logo Salma já me ocupa, me dá uma massa pronta e me ensina a fazer majestades. Uma maça folhada de frango ou ricota. Faremos os dois. Não achei difícil modelar os bolinhos, estava até gostando. Depois de prontos eles iriam para o forno.

Quando ela prepara a bandeja de Said, eu me ofereço para levar. Salma nega com a cabeça.

—Said pediu para eu fazer a refeição e levar.

Eu dou de ombros e me sento na cadeira para continuar meu serviço. Quando Zafira entra para tomar um cafezinho, eu pergunto:

— Zafira, como será esse jantar?

—Na verdade é uma reunião, pois eles não se sentarão à mesa, será algo descontraído.

— Descontraído como?

—Conversarão, ouvirão música...

— Você conhece as pessoas que virão?

— Você acha que Said se abre comigo? Uma empregada? Talvez ele irá receber a família de Naja, ou talvez ele receberá os gerentes do hotel. Ele só me informou a quantidade de pessoas.

De tudo que ela me disse, só o nome Naja que me perturbou:

— Naja é a moça que ele namora?

— Sim, exatamente.

Sinto-me triste por dentro, mas disfarço e me envolvo com meu trabalho. Pensando na moça, eu admito que entendo o que Said viu nela. Ela está bem mais próxima do nível dele do que eu jamais estive, segue às tradições. Ela deve andar com o véu na rua, ser obediente, prendada. Não trabalhará fora e viverá para o marido.

Faço uma careta...

Eu observo Zafira depositando a sua xícara na pia, mas antes dela sair, pergunto:

— Quem os servirá?

—Terá uma aparador. E você ficará responsável por ele, o mantendo sempre cheio com os quitutes e ficando à disposição de Said.

—Sei.

Nessa hora Said entra na cozinha. Ele está vestido com roupas descontraídas. Então me lembro que hoje é Sábado, com certeza ele não irá trabalhar. Acalorada, desvio meus olhos do Adônis.

Mas a imagem dele permanece na minha mente. Arrogante, vestindo uma calça preta, camisa creme de algodão egípcio, um pouco entreaberta no peito peludo e moreno. A presença dele é um constante lembrete de o quanto ele mexe comigo.

Tento ficar calma, e me envolvo com meu serviço.

Será que ele se levantou cedo por força do hábito? Penso.

Dou uma olhadinha para ele, nossos olhos se encontram. Não consigo, descrever sua expressão. Mas consigo ver um fogo em seu olhar que me faz pensar que pelo menos não sou indiferente para ele. Eu baixo meus olhos. Preciso ser a menina obediente que ele espera de mim.

Continuo fazendo meu papel de mulher prendada, com a atenção voltada para o meu serviço.

— Adara!

Meu coração dá um pulo no peito e eu levanto. O rosto surpreso quando ele me chama.

—Me acompanhe.

Eu reluto um pouco, mas obediente me dirijo até a pia e lavo minhas mãos. Depois de enxugá-las me viro para ele. Said sai na frente. Eu o sigo. Pelo caminho que fizemos entendo que iremos até a biblioteca.

Ele vai liberar a ligação?

— Pode fazer sua ligação.

Ele me olha com aquele cabelo devidamente penteado para trás, negros como carvão. Seu queixo quadrado voluntarioso. Esse é homem é lindo. Minha frequência cardíaca acelera enquanto o homem alto à minha frente me observa.

Sim, terrivelmente bonito.

—A essa hora minha amiga não está em casa, ela é enfermeira e o turno dela é de manhã. Ela que me informa a saúde de...Maysa.

Ele me olha com aqueles incríveis olho negros expressivos.

—Entendo. Então, depois do jantar, você me lembra, e você fará sua ligação.

— Obrigada.

—Pode ir.

Eu aceno para ele e me afasto e me dirijo para a cozinha. Quando entro, Salma olha para mim, curiosa, mas não diz nada. Eu volto a minha tarefa.

Passo o dia inteiro praticamente dentro da cozinha. Não é uma tarefa fácil, fizemos vários tipos de salgados e docinhos.

O homem árabe é assim, virão cinco pessoas, ele fará um banquete para dez. Faz parte da nossa cultura oferecer uma mesa farta. O bom disso tudo é que não vou precisar me preocupar com o café de amanhã.

Suspirei aliviada.

Na hora do almoço pude me deliciar com os salgados e doces. Experimentei todos. Uma delícia. Se eu ficar na cozinha, com certeza irei engordar.

À tardinha, tudo pronto, e eu ganhei uma dor nos ombros. Zafira me leva até o meu quarto, cerca de três horas da tarde.

Segundo Zafira, o jantar começará as seis horas. Ela já tinha me dado um caftan mais festivo. Sorri amarga.

Allah! Quando que um vestido largo, branco e preto pode ser chamado de festivo?

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