Maysa
— Allah! Socorroooooo! Zafira! Me ajuda! — Eu grito e tusso, com os olhos cheios de lágrimas.
Dou graças a Allah quando vejo Zafira entrar na cozinha. Ela tosse com a fumaceira que a carne queimada dentro do forno produziu.
Eu estou apavorada e não sei o que fazer. Eu desliguei o forno quando vi a fumaça saindo e agora estou o mantendo fechado. Abri-lo parece-me pior, pois a fumaça está densa.
— Adara! Você não cuidou da carne?
Eu falo chorosa:
— Zafira, eu sou uma negação na cozinha. —Fico pensativa. — E agora? Vou ter que improvisar.
—Como da outra vez?
—O que posso fazer? E o pior é que a casa está tomada com esse cheiro de fumaça.
—Dá para sentir o cheiro lá na sala. Não era a sua especialidade o carneiro?
Eu fico calada, sem saber o que dizer. Então pergunto a ela:
— Onde você acha que eu errei?
—Eu e Salma estávamos comentando que você não besuntou de óleo a forma, e não cobriu com papel alumínio. Você simplesmente colocou no forno e fechou. A água deve ter secado e a carne grudado, por isso queimou a carne.
—Zafira! Por que você não me disse?
—Pois Said logo cedo nos chamou dizendo que não era para dar um pio. Palpite nenhum. Hoje ele parecia tomado por um gênio ruim!
—Ele estava nervoso?
—Said, acordou de mau-humor. Ele nunca gritou com ninguém nessa casa. E hoje, ele gritou com o motorista que estava demorando.
Eu começo a pensar nos convidados. O que faremos?
—E agora? E os convidados?
—Você não precisa se preocupar, pois não haverá convidados.
—Não? Como assim, não haverá convidados? Então por que eu fiz tudo isso?
Zafira fecha o semblante.
—E você pergunta para mim? Eu é que sei?
Nos entreolhamos sem realmente saber essa questão.
Eu bufo!
Said com certeza sabia que eu não saberia fazer o carneiro. Deve ter deduzido isso ao ver que eu não sei fazer um simples Kafta.
Fez isso para me punir?
Lembro-me de sua ameaça lá no quarto.
" E amanhã, quero que apronte o carneiro, os convidados serão importantes. E não falhe! Se falhar teremos outra conversa."
Zafira pega a bandeja com a carne e joga água por cima dela, de onde sai uma fumaça branca densa, criando um caldo preto.
—Vou ter que jogar essa bandeja fora. — Ela reclama.
Eu conheço tão pouco de Said. O que aconteceu? Ultimamente se agita em mim o desejo de saber mais dele.
—Zafira, Said tem família?
—Sim, e numerosa.
Eu fico surpresa.
—Sério? Mas eu nunca vi ninguém aqui?
Zafira lavava as mãos.
— Eles não vêm muito aqui. Said que vai visitar a mãe, a irmã e os tios. Ele é quietão e gosta dessa independência.
Eu me aproximo dela, curiosa:
— E a irmã dele. É casada?
—Não. Ela é apenas uma adolescente. Filha da segunda esposa do pai de Said, a mãe dela morreu.
—Allah! Segunda esposa?
Zafira dá de ombros.
—Que mundo você vive? Desde quando a mulher tem poder de decisão nesse país? Se o homem resolver ter mais uma esposa, ela não pode fazer nada.
— Acho tão errado isso. Eu jamais aceitaria outra esposa!
—Errado ou não, não é um assunto a ser discutido.
Zafira enxuga as mãos no avental.
—E o jantar? O que faremos?
—Não vou deixar você improvisar. Vou chamar Salma e faremos algo para o jantar.
—Obrigada Zafirinha.
—Às vezes me pergunto, para que você serve nessa casa?
— Zafira, que horror! Eu ajudei muito fazendo os salgadinho e docinhos naquele jantar.
—Isso é verdade.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Em seu lugar
Linda a história!!!!...