No dia seguinte, depois de uma noite mal dormida, perturbada por sonhos confusos, acordo cedo. Coloco a roupa que ganhei dele. Penteio os cabelos e coloco o lenço da mesma cor, cinza.
Olho meu reflexo no espelho me sentindo horrorosa.
Saio do banheiro e dou com Said no meu quarto. Ele está de costas para mim, fitando a janela. Terno preto que molda perfeitamente suas costas largas. Quando ele se vira eu retenho o ar. A camisa branca, um pouco aberta no peito, contrasta com sua tez morena. Os cabelos negros estão molhados. Ele me dá um sorriso lindo. Seus olhos me olham apreciativos.
Essa será a última imagem que terei dele. É a última vez que o verei e última vez que falarei com ele.
Allah! Dai-me forças para não dar bandeira, preciso passar tranquilidade.
— Bom dia! — Eu digo sorrindo. E aperto minhas mãos no corpo. Elas tremem tanto... tenho medo que ele perceba.
Ele fica sério. Eu engulo em seco.
—Sairá agora cedo?
Eu aceno com a cabeça.
—Sim. Vou com Adara. Sabe se ela já acordou?
Said sorri.
—Sua irmã madruga. Ela está na cozinha ajudando Salma.
É Said, você aos poucos a enxergará como a mulher da sua vida. Eu sou inútil nessa casa. É assim que eu me sinto.
— Ótimo. Esse país é muito quente. Por isso quero ir cedo.
Said se aproxima de mim.
— Não sabe quanto eu estou feliz por ter entendido.
Meu coração está apertado. Eu sinto um nó fechando minha garganta. Não está sendo fácil. Mas é necessário. Ele não será feliz comigo, e eu também não serei feliz. Já senti a liberdade, voei alto, não quero minhas asas cortadas. Aqui nesse país me sinto claustrofóbica.
— Tenho uma coisa para você.
Ele se aproxima. Tira do bolso um estojo de veludo. Abre ele voltado para mim. Era um lindo colar de ouro formando por pequenas esmeraldas.
Eu forço um sorriso.
— É lindo. —Digo sem pegá-lo.
— Pegue! É seu.
Eu pego o estojo com as mãos trêmulas.
— Você está tremendo. Tudo isso é por causa do colar?
Dou um sorriso nervoso.
— Não esperava.
Said tira o estojo de minhas mãos e coloca em cima da cama. Ele me abraça. Eu choro. Não me contenho. Vou deixá-lo. Esse é o nosso último abraço.
Ele me afasta.
— Você está chorando?
Eu enxugo minhas lágrimas.
— Fiquei emocionada com seu gesto.
Said sorri terno, passando o polegar por uma lágrima que caia do meu rosto.
— Isso é o começo. Pretendo te encher de joias.
Eu estou triste por ir embora. Fico a olhá-lo, guardando na memória seu rosto. Cada pedacinho dele. E não há nada a dizer.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Em seu lugar
Linda a história!!!!...