Em suas Mãos (Barak 2) romance Capítulo 45

Rashid

Os demônios do passado não me afligem mais, estão enterrados no profundo da minha alma. Levei muito tempo para aprender a não sentir nada por ninguém, para apagar toda a dor que Jéssica havia me infligido. A única maneira que eu conhecia de silenciar a dor era amortizar meus sentimentos e esquecer meu passado, esquecer o quanto ela me magoou.

Eu tentei me libertar da minha alma insensível com Jade. Ela foi algo instigante. Ela me olhava de igual para igual, isso me fez querê-la. Ela me fez acreditar novamente que alguém pudesse me ver além das aparências. Além do meu título, com aquele deslumbramento momentâneo que eu odeio tanto.

Como sinto por não ter dado certo. Se eu a tivesse conquistado, eu teria ao meu lado uma bela mulher. Mas não foi isso que acorreu. Então, cheguei à conclusão que eu não deveria ter permitido me deixar iludir novamente. Eu forço agora minha alma ficar dormente, porque se ela não estivesse dormente, eu sentiria tudo.

Quando eu tenho flashes de ternura e o cuidado que Jéssica demonstrava ter comigo, eu percebo como nos enganamos com as pessoas.

Allah!

Ela era meu êxtase. Meus sonhos, minhas alucinações! Nós éramos tão bons juntos que eu não acreditei que fosse tudo mentira...

Porque tudo isso começou com ela, ela fez minha vida mudar, sair dos trilhos. No momento em que a vi beijando meu melhor amigo tudo mudou. Eu estava tão errado com ela...

Percebi que eu estava chorando até eu senti no rosto as lágrimas. Eu as enxuguei com raiva.

Khara! Fazia tempo que eu não me lembrava mais disso. Ando emotivo com a morte de meu pai. Isso nem me afeta mais.

Entro na sala me sentindo ainda abalado pelas lembranças. Meu primo Almir quando me vê, vem ao meu encontro e, esticando o braço, coloca a mão no meu ombro direito.

—Você está bem? Quer conversar?

Eu encaro Almir. Ele tem a mesma altura que eu. Os cabelos negros e olhos negros. Herdados da nossa família. Ele é jovem ainda. Vinte e cinco anos, a mesma idade de Kadija. Nessa idade eu era cheio de vivacidade como eles. Hoje me sinto um velho.

— Não, não quero. Preciso de um tempo. Acho que aos poucos vou me reerguendo.

—Vamos nos sentar? —Ele me convida.

—Não, eu vou me recolher cedo hoje. Vou apenas até a ala dos empregados para falar com Zilá. Quero passar algumas instruções para ela.

Almir assenti para mim, mas vejo algo no ar. Como se ele pensasse muito em algo.

—Está certo. Mas antes de ir, eu gostaria de te fazer uma pergunta.

Allah! Mal consigo ouvir sua voz por causa do latejar de sangue em meus ouvidos. Faço que sim com a cabeça.

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