Em suas Mãos (Barak 2) romance Capítulo 44

Faz três dias que estou enfiada no quarto. Como ele mandou. Nem com os parentes dele pude conversar. Fiquei pouco tempo ao lado do corpo do Sheik e logo ele me mandou para o meu quarto, como se eu tivesse alguma doença contagiosa.

A mansão passou o dia inteiro cheia de gente, o corpo do sheik ficou aqui. No Islã não se vela o corpo, apenas se faz orações e citações do alcorão. Sei que Rashid não segue a religião, mas em respeito a alguns parentes dele, ele fez tudo conforme às tradições.

Eu só peguei a primeira parte da oração, logo ele me dispensou. E só veio me buscar no quarto para ir ao enterro.

Eu nem sei se a casa estará vazia agora ou se algum parente dele ficará hospedado aqui. Eu só sei por Zilá, que o irmão dele, Zafir e sua família iriam embora logo depois do enterro.

Conheci Amina de vista. Ela ficou pouco tempo ao lado do pai, pois passou muito mal. Grávida de seis meses, estava muito emocionada. Então Samir, seu marido, a levou embora. Eles acharam por bem poupá-la. Ela não tinha condições nenhuma de acompanhar o enterro.

Percebo que Rashid está me observando. Seu olhar é triste, acho que a realidade está o cercando novamente. Ele e seu pai eram muito unidos.

—Está com fome? Quer que eu peça para Zilá trazer algo para você comer?

—Não.

—Você não é do tipo que faz dietas malucas, não é?

—Não, só estou sem fome.

—Zilá me disse que não anda comendo bem.

Claro, era natural. Eu estava triste com a morte do sheik e a forma que Rashid tem me tratado. Esse era o motivo da ausência de fome.

—Se estiver fazendo dieta, pode parar com isso! Você ficará doente. E seu corpo é lindo. Eu gosto do jeito que está.

—Eu só ando triste com a morte de seu pai e por você me trancar no quarto.

Ele me observa calado por um momento. Chego a ver ternura em seus olhos. Tudo nele é caloroso seus olhos, sua voz, seu sorriso e isso não combina com suas ações.

Não é estranho isso?

—Já conversamos sobre isso e era um momento da família. —Ele me disse de um jeito calmo, apaziguador.

Ele é sempre assim, exala aquela bondade paciente. Isso me confunde.

—Tudo bem. —Eu digo.

Ele se levanta e começa a se trocar.

Normal isso, já virou rotina. Ser deixada depois que transamos. Mas eu não me acostumo. Agora ele vai para o seu quarto, dormir.

Respirei profundamente algumas vezes e repeti mentalmente umas palavras que minha mãe um dia me ensinou: "Saber esperar é uma virtude! Aceitar sem questionar. Cada coisa tem um tempo certo para acontecer... isso é ter fé! "

Mas apesar de repetir as palavras, eu me sinto um fracasso.

Aceitando o inevitável, eu o observo. Ele é a perfeição, e eu não sou a única que pensa assim. Eu vejo como as mulheres se comportam quando o veem em festas, nos lugares que frequentamos. Elas parecem todas excitadas, até gaguejam.

Agora, seu cabelo espesso está todo bagunçado, do jeito que eu gosto. Ele fica muito sexy assim. Rashid termina de colocar a camisa, depois que coloca os sapatos se levanta, procura meus olhos.

—Meu primo está aí. Ficará até terça. Não saia do quarto. Qualquer coisa que precisar, peça a Zilá.

Meus ombros desabam.

— Ficar dentro do quarto? De novo? —Eu pergunto com angústia.

— É só mais um dia. —Ele diz com aquela calma, como se fosse a coisa mais normal do mundo eu ficar presa ali.

Senti um aperto no peito.

—Você tem vergonha de mim? Você acha que é fácil ficar enfiada dentro de um quarto?

— Pare de se lamentar. Tudo isso é para evitar especulações sobre minha vida. — Seu tom é neutro, mas ele está se esforçando para se controlar. Dá para sentir a raiva vibrando dentro dele. — Quando se sentir mal ou enfadada com os sacrifícios que está fazendo, lembre-se de suas dívidas pagas e de sua conta bancária. Tudo que prometi no final dessa relação. Você ficará muito bem, não precisará se preocupar com seu futuro.

Queria poder dizer a ele que não me importo mais com isso. Que hoje eu só quero o coração dele, mas isso é confessar meus sentimentos. E nessa relação tem sexo, não amor.

Mas eu tenho fé. Sonho em ser uma mulher que mostrará a ele o que é amar, viver, se entregar. Ser sua força nos momentos mais sombrios de sua vida. E o melhor, receber tudo isso de volta...

Eu observo sua expressão fria e pergunto:

—Você já amou alguém, Rashid?

Seu rosto se contorce, ele me olha calado por um tempo.

Eis aí minha resposta.

Está claro que ele se decepcionou com alguém.

Ou foi uma perda?

—O que está acontecendo com você hoje? Pare! Você precisa entender que não há uma célula do meu corpo que sonhe com esse sentimento idiota. — Diz ele com rispidez, o tom de voz elevado por causa de algum sofrimento. —Eu amava meu pai. Meu pai! Você poderia me poupar hoje. Meu pai morreu. Não pode subestimar minha dor. Você não tem ideia da tristeza que estou sentindo? E falar sobre qualquer coisa é o que menos quero fazer!

Fiquei confusa com a súbita explosão de sentimentos. Nunca tinha visto ele assim. Meu rosto ficou ainda mais quente, e eu fechei os olhos, ofegante, como se tivesse corrido.

Rashid respira fundo, antes de ele me dizer qualquer outra coisa que venha me ferir e antes de me dar conta do que estou fazendo, meus pés ganham vida própria e eu saio da cama nua e caminho até o banheiro. Fecho a porta e a tranco. Parece infantil isso, mas eu não quero ouvir mais nada. Esse é o lugar mais seguro que eu conheço da casa. Ele pode estar triste com o pai, mas ele não precisa ser estúpido comigo. Não sou seu capacho.

Ouço a porta se abrir e fechar. Rashid saiu do quarto.

Saio do banheiro e me deito na cama, sentindo um aperto no peito, angustiada, e quase desmorono ali mesmo. Mas meu coração não se tornará duro como o dele. Eu mesma me surpreendi com o poder do amor. Jamais me sujeitaria a tudo que tenho passado se não fosse por ele.

Rashid precisa de ajuda e eu serei a chave para a liberdade da prisão que ele se encontra.

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