Improvável romance Capítulo 52

|DEKLAN|

-Você tá de sacanagem comigo, Deklan Callaham? Eu vou arrancar a sua cabeça de cima do pesco...

O grito furioso do outro lado da linha telefônica é a primeira coisa que escuto assim que atendo a ligação de uma Kayra extremamente enraivecida, ao final do dia, e que eu preciso interromper antes que ela continue com uma série de reclamações sem fim em minha orelha a qual não estou disposto a ouvir. A culpa é totalmente dela se a situação teve que chegar aonde chegou. Kayra pediu por isso, se ela quer bancar a irresponsável e louca, pois bem, que banque! Mas enquanto estiver carregando os meus filhos dentro do ventre ela não irá se aventurar de forma inconsequente e arriscada!

Eu não irei permitir isso!

Durante os minutos que levou de percurso até o tempo em que recebi a notícia de Dexter, de que a maluca havia chegado viva e a salvo no hospital, uns trinta fios brancos de preocupação surgiram entre os meus cabelos, além de sentir uma intensa dor no alto da minha cabeça, devido o medo que senti pela segurança dos três sob aquele monstro de duas rodas no trânsito caótico de Bullut. Acho que apenas senti algo parecido, uma constante sensação de pavor, quando recebi a notícia acerca da morte de Derick e logo depois com a descoberta da doença do meu pai.

O sentimento de medo que se apoderou do meu coração e me amedrontou até a alma foi tão semelhante ou talvez pior. Por essa razão, eu precisava eliminar a fonte do problema pela raiz, e foi exatamente o que fiz. E sem nenhum um pingo de arrependimento! É o que penso comigo mesmo, sabendo que tomei a atitude correta, mesmo que Kayra discorde de mim. Mas ela que rosne e resmungue sozinha, oras! Ela pediu por isso, então agora que aguente as consequências de suas decisões equivocadas e perigosas.

-Boa noite para você também, querida!

Eu respondo sua ira com uma boa dose de sarcasmo que a leva a outro nível de raiva, fazendo com que me xingue com todos os palavrões existentes e alguns que eu ainda nem conhecia. Rio de seu exaspero, um chilique um tanto desnecessário do meu ponto de vista, e aguardo até que ela cale a boca e ouça com atenção o que tenho para lhe dizer.

-Imagine, primeiramente o susto, e logo depois a raiva cega que tomou conta de cada parte de mim, Callaham, quando na hora de ir embora para casa após um longo dia de trabalho estressante, eu cheguei na minha vaga no estacionamento do hospital, e fui surpreendida com um baita aviso de merda pregado numa placa no lugar em que deveria estar a minha moto?

-Hum... é mesmo? E o que estava escrito nesse aviso?

Eu pergunto banhado de cinismo, sem medo de estar brincando com o perigo, e no mesmo instante ouço o som de algo se quebrando do outro lado da linha. Eu rio achando graça de sua reação tão previsível. Ela gosta de constantemente me irritar, não gosta? Ótimo, esse é um bom momento para a revanche.

-Seu babaca, idiota e prepotente! Você mandou raptar minha companheira de vida! Eu e a Harley somos inseparáveis desde que nos conhecemos, Callaham! Você roubou minha melhor amiga de mim, seu insensível! Como pôde faze...

-Opa, opa, opa! Calma aí, minha querida! Vamos esclarecer duas coisinhas: primeira delas, antes que tenha a coragem de questionar como eu pude fazer isso, coloque a mão na consciência, pense duas vezes e reflita. Você sabe muito bem a razão para eu ter agido dessa forma. Eu não poderia deixar que você continuasse colocando a vida dos nossos filhos em risco naquela monstruosidade.

-Mas...

-E segunda coisa, eu não roubei sua preciosa amiga, Kayra! Deixe de ser dramática por um minuto, pelo amor de Deus! Eu só a confisquei por um período de tempo, até que você dê a luz as crianças. Depois disso você pode muito bem encontrá-la guardada com todo o cuidado e segurança no estacionamento do castelo. De onde você não tem permissão para retirá-la no momento, é claro, e muito menos a coragem para dizer a alguém o motivo de seu brinquedinho mortal estar naquele lugar, e quem ordenou que o deixasse ali, certo?

Eu jogo a provocação no ar ao que ela emudece por alguns segundos sem retrucar nenhuma resposta a altura.

-Ou eu estou errado? Você teria peito para contar a verdade a alguém? Abriria essa linda e deliciosa boquinha para dizer que fui eu quem "raptou" sua amada Harley para proteger os gêmeos? Os nossos filhos? Porque eu não teria problema algum com isso. Na realidade eu adoraria que você tivesse toda essa atitude e marra que pinta para as pessoas a sua volta, e revelasse para toda a Bullut que em pouco tempo trará ao mundo dois filhos meus.

O silêncio é quase palpável diante do desafio. Kayra, que se diz tão desprendida e corajosa para realizar tantas coisas, não diz uma única sílaba em protesto ou confronto.

-Bom, foi exatamente o que pensei...

Eu murmuro meio presunçoso, mas com uma pitada de decepção que faço questão de esconder quando digo. Meu desejo era que Kayra me contradissesse, que se rebelasse e jogasse na minha cara que eu estava totalmente errado. Que ela teria sim, coragem de revelar a verdade, mas ela não o faz. Apenas ouço um suspiro resignado através dos autofalantes do celular, que me faz olhar um tanto chateado para o teto do quarto e também fazer o mesmo. Eu suspiro sem esperança.

-Eu... eu não vou tomar mais do seu tempo, Callaham. Só liguei para gritar um pouco com você e também para avisá-lo que amanhã tenho uma consulta pré-natal dos gêmeos, marcada para às dez da manhã. Será aqui mesmo no hospital. Então se você quiser vir...

-É claro que eu estarei aí, Kayra! Eu disse que não perderia mais nenhum acontecimento da vida dos nossos filhos.

Respondo o óbvio.

-Ah sim, tudo bem. Então nos vemos amanhã?

-Sim, nos vemos amanhã, Kayra. Tenha uma boa noite e diga que o papai disse um olá para os meus pequenos antes de dormir, ok?

-Ok... eu direi. Tchau, Callaham.

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