INDECENTE DESEJO romance Capítulo 45

A porta automática do aeroporto principal de Belo Horizonte se abre e uma sequência de flashs dispara, mamãe tampa o rosto utilizando a bolsa e eu apresso meus passos em direção ao nosso carro.

— Com licença. — Peço a um jornalista que tenta impedir minha passagem, fazendo uma sequência de perguntas descabidas.

— Amélia, como está sua irmã? — Um deles pergunta, enfiando uma espécie de gravador no meio do meu rosto.

Grunho, cansando de ser educada e utilizando a brutalidade para afasta-los.

Como eles sabem de Aurora se eu mesma fiquei sabendo tem menos de uma hora? 

— Sua mãe sabe da morte do amante? — Outro pergunta e eu rosno, abrindo passagem com minhas mãos e finalmente tocando a maçaneta da porta do carro. A abro e entro seguida por mamãe.

— Abutres do caralho! — Mamãe rosna, assim que entra no carro e bate a porta, retirando os óculos escuros.

— Como eles sabiam da nossa chegada? — pergunto, ainda olhando incrédula para a quantidade de jornalistas do lado de fora do carro.

Ela vira o rosto para mim, meio incerta se a pergunta foi feita para ser respondida ou apenas um pensamento solto.

— Eles descobrem tudo. — Sussurra, ainda me olhando com incerta.

Engulo a seco e desvio do seu olhar, corrigindo minha postura e olhando para frente.

— Vamos direto para o hospital. — Informo o motorista, ele assente e engata o carro, dando partida em poucos segundos.

— Não se preocupe, sua irmã ficará bem. — Mamãe tenta me tranquilizar, descansando sua mão sobre a minha.

— Acredito que nossa chegada não esteja sendo como a senhora planejou. — Falo ríspida, afastando minha mão da sua.

Ela limpa a garganta, pegando o celular e da um sorriso contido.

— Bom, não se tem como controlar tudo. — Diz, meio sem jeito e volto a olhar para a frente, tendo a ciência de que seu tudo engloba bem mais que o parto antecipado de Aurora.

Fecho os olhos e respiro fundo, finalmente processando o telefonema que Pedro me deu assim que o avião pousou, ele estava nervoso e atropelava as palavras, mas consegui entender a parte sobre Aurora precisar ser internada as pressas pelo fato de sua bolsa ter estourado antes do tempo.

Oito meses.

Ela só estava com oito meses, perto de completar nove e meu sobrinho não podia esperar mais. Tive de lhe dizer que já estava em terra brasileira, ele enviou nosso motorista e pediu para que esperássemos, ao invés, de pegar um táxi, acontece que esse ínterim foi o suficiente para se criar uma algazarra do lado de fora do aeroporto. Repito para mim mesma enquanto encaro meu reflexo no espelho da janela do carro, há poucos segundos de entrar no hospital e tento me colocar nos eixos e aprumar minha vida antes de encarar a realidade. Repetindo que Não vou permitir ser controlada e feita de marionete novamente. Tenho dezoito anos. Posso não ser vista como uma adulta pelos meus pais e ainda ser dependente financeiramente deles, mas tenho maturidade o suficiente para tomar as rédeas da minha própria vida. Foda-se, cansei de alimentar a sede pelo do Sr. Augusto Leal e não permitirei mais que mamãe viva por mim, tentando que eu seja o que ela nunca foi quando mais jovem. Puxo o ar com força e solto um longo suspiro, ligo a torneira da pia e lavo meu rosto.

Posso fazer isso. — Digo pra mim mesma.

Olho de soslaio para minha progenitora, observando sua expressão indecifrável pra mim e por mais que eu tente, não consigo enxergá—la como antes, não depois da nossa conversa ainda no aeroporto.

" — Você demorou. — Mamãe diz assim que paro ao seu lado, dou um sorriso de boca fechada e tomo o lugar ao seu lado no banco de espera. — Nosso voo vai atrasar alguns minutos. — Relata, folheando uma revista qualquer.

Assinto, aproveitando que está distraída para checá—la mais uma vez. Ela está usando calça jeans slim assim como eu, mas nos seus pés, ao invés, de tênis, estão suas rotineiras sandálias de salto finíssimo, mas ambas, ela e eu usamos camisetas de tecido leve e tom claro.

— Como você está? — Faço a pergunta que tenho repetido desde que chegamos à Missouri. Ela larga a revista e me olha, encontrando meus olhos.

— Eu já falei que você não precisa se preocupar. — Fala, tocando  minha bochecha com uma de suas mãos como fazia quando eu era pequena. Adoto uma expressão mais séria, ressentida.

— Não me trate como criança, nem esconda nada de mim, Anna. — Ela faz careta, torcendo o rosto quando cito seu nome, ao invés, de chamá-la de mãe.

Bom.

Objetivo atingido.

— Não estou escondendo nada de você. — Esclarece, parecendo levemente magoada. Aperto meus lábios um no outro e a encaro, não desviando o olhar do seu.

— E com quem tem falado nas últimas semanas? — Questiono, lembrando de como estranho tem sido seu comportamento nos últimos dias.

— Estive falando com seu pai, meu marido. — Arqueio uma sobrancelha para sua fala, achando o seu tom extremamente forçado apesar do seu esforço para parecer natural.

Ela está me escondendo algo.

— Meu pai?

— Sim, seu pai. — Reafirma, voltando a folhear a revista em um falso interesse, aumentando minha certeza de que está me escondendo algo.

— Ele não sabe estamos voltando. — Afirmo, fazendo com que volte a me olhar.

— Será uma surpresa. — Diz em tom doce, patético.

Bufo.

— Não me trate como criança, lembro muito bem que queria a separação de papai. — A lembro, praticamente cuspindo as palavras em seu rosto.

Sua cara é de desagrado quando me olha, mas me mantenho firme.

— Não lhe devo explicações, Amélia Leal. Seu pai e eu estamos tentando uma reaproximação, você não precisa estar de acordo, mas lembre—se que todas as minhas decisões são pensando em você.

Bufo novamente.

— E você pensou em mim quando pediu a separação e pretendia fugir com seu amante? Me diga, querida mãe. Era em mim que pensava quando decidiu jogar tudo para o alto sem me avisar? — Esbravejo, chamando atenção de algumas pessoas que nos cercam.

— Amélia... — Começa, mas a corto, erguendo uma mão para que pare.

— Não, eu estou cansada de vocês. Todos vocês. — Me levanto, agarrando a alça da minha mala e indo para o outro lado do saguão do aeroporto. "

Ela é uma mentirosa hipócrita, assim como papai. Ambos, os dois tem me manipulado por todos esses anos e só agora consigo enxergar, sou boa quando precisam de mim, mas não o suficiente para que confiem.

Os braços grandes circulam minha cintura com uma força desumana e preciso bater em suas costas para que se afaste e me deixe respirar.

— Desculpe. — Pedro sussurra, passando as mãos pelos cabelos meio sem jeito.

Sorrio de boca fechada, passando uma parte do meu cabelo para a parte de trás da orelha e ajeito minha blusa, que acabou subindo pelo abraço sufocante. — Sem problema, como eles estão? — Sua expressão muda, se tornando mais dura, sombria, amedrontada e fico tensa.

Ele parece extremamente cansado, os ombros estão caídos, os cabelos despenteados e sua camisa social não está abotoada até o final.

— Não foi um parto natural, mas ambos estão bem e descansando. No entanto, meu filho precisará ficar um tempo na UTI sobre observação médica. — Franzo a sobrancelha, não gostando nada nada da sua expressão e tom.

— O quê? Por quê? Você disse que ele estava bem.

Ele esfrega o rosto com as duas palmas de suas mãos e anda até o banco mais próximo, sigo atrás dele em silêncio, respeitando seu distanciamento.

— Ele nasceu antes da hora, também não tinha peso suficiente e demonstrou dificuldade para respirar, o médico disse que não é nada alarmante, mas ainda precisam observa—lo. — Agarro a sua mão na minha e a  beijo, apertando forte contra meus lábios. — Vai ficar tudo bem. — Sussurro, olhando no fundo dos seus olhos, porque isso é tudo que desejo.

— Obrigado por voltar. — Ele leva minha mão até sua boca e repete meu ato, sendo mais gentil no gesto do que eu fui.

Por algum motivo, eu não afasto a mão, fico lá segurando a dele por todos os minutos de espera até que sou permitida entrar para visitar Aurora. Não olho na direção de mamãe quando passo por ela, mas sinto seu olhar queimar em minhas costas e posso intuir que ela está com um olhar de desagrado em seu rosto.

— Ela está dormindo, mas pode entrar. — Aceno com a cabeça para enfermeira, indicando que compreendi e adentro o quarto. Tento pisar devagar, sem fazer muito barulho, mesmo sabendo que Aurora está sedada e não vai se acordar tão cedo.

Você nem estaria aqui se ela estivesse. Minha consciência pontua, me fazendo sorrir ao olhar o rosto sereno da minha irmã.

— Você não estaria tão relaxada se soubesse que eu estou aqui, não é? — Falo, sentindo meus batimentos cardíacos acelerarem.

— Não, você estaria me expulsando antes mesmo que eu entrasse por aquela porta. — Aponto para o pedaço de madeira que nos permite privacidade, mesmo que ela não possa olhar e bufo, caindo na real de que estou falando sozinha. Esfregando minha testa com uma de minhas mãos.

— O que diabos eu te fiz? — Me exalto, sentindo uma lágrima descer.

Droga.

— Eu só queria uma irmã. — Outra lágrima desce e meu tom muda para choroso. Eu não consigo controlar. — Você perdeu uma mãe, mas me negou o direito de uma irmã por todos esses anos e agora eu nem sequer posso te visitar quando está acordada. — Puxo o ar para meus pulmões, limpando as lágrimas que banham meu rosto e deixo o quarto, me apoiando na porta assim que a fecho.

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