O observei caminhar por toda a sala, acreditei e ansiei por sua atenção nem que fosse por míseros segundos, o fitei em silêncio e esperei pacientemente, precisando do seu sorriso cúmplice para acalmar a inquietude que se instalava em meu interior. A decepção veio em cheio quando nem um olhar de desculpas me foi direcionado, engoli o nó formado em minha garganta junto com o orgulho quando a porta foi fechada sem cerimônia, não entendi sua pressa em me deixar e julguei ser arrependimento sobre o que fizemos, talvez, tivéssemos idos longe demais para sua personalidade íntegra e ética.
Era a única explicação. Tinha de ser isso, por favor, que fosse isso. Eu tratarei de consertar quando ele chegar.
A manhã se arrastou tal como a tarde, a angústia já me dominava por completo por volta das seis da noite e meu cérebro já apresentava as últimas justificativas criativas tanto quanto torturantes para seu comportamento indecente, sim, era indecente deixar uma jovem apaixonada e inexperiente sozinha com suas ideias férteis, as lágrimas me abandonaram ao longo do dia a cada lembrança da nossa foda, porque pra mim aquele momento não era mais tido como especial ou único, foi prazer carnal e satisfatório e merecia ser chamado de foda.
Foda.
Eu o amei de alma e não só de corpo, não entreguei só minha virgindade e sim meu coração, fiz promessas e criei expectativas durante nossos beijos, mas no final tudo que me restara novamente foi a sensação de perda e a certeza de que nada voltaria a ser como antes, estou magoada e meu orgulho foi erguido. A dor retornou, no entanto, dessa vez ela trouxe o gosto da decepção e me fez sentir a fragilidade, ao invés, de força e encorajamento pra superar.
Me agarro com o retrato de mamãe e lamento por não tê-la comigo agora, ela saberia o que fazer.
Bufo.
Se meus pais ainda estivessem vivos eu não estaria nessa situação, talvez até mesmo titia ainda estivesse viva e compartilhando com Lorenzo um casamento feliz, de repente sinto raiva das circunstâncias e de tudo que colaborou para esse momento, meu amor é errado e ainda assim intenso o suficiente para continuar acesso, ignorando a todos.
A porta se abre, ou melhor ela é escancarada tamanha agressividade. O homem mais velho parece alcoolizado e carrega um semblante carregado de raiva, suas íris carameladas brilham de forma maliciosa ao analisar meu corpo coberto por uma camisa sua.
— Será que você puxou sua tia? — Pergunta, encurtando o espaço entre nós.
O encaro confusa, seu cabelo está bagunçado e seu maxilar trinca conforme nossos corpos se aproximam.
Meus pés me guiam para trás, leves passadas de segurança para longe dele, mas isso só parece incentivar seu avanço.
— Você bebeu. — Não é uma pergunta, seu estado é notável para qualquer um.
— Um pouco. — Responde, inclinando a cabeça para o lado, me dando um olhar rancoroso.
— Sério? — Arqueio a sobrancelha em deboche. Ele bebeu o bar inteiro.
Sorrir.
— Tem mais álcool circulando em suas veias do que sangue. — Acabo falando e um leve riso escapa de sua garganta, ele parece está se divertindo e para de andar no momento em que minhas costas encontram a parede que divide a cozinha da sala.
— Você está com medo de mim, garotinha? — Minha respiração está irregular, por isso, não respondo sua pergunta.
— Ontem a noite você parecia bem receptiva. — Ele continua a me provocar, se regozijando com minhas reações.
Fecho os olhos, sentindo minhas pernas fraquejarem com seu toque dominante em meu corpo, sua mão direita acaricia minha cintura por cima do tecido e seus lábios roçam a pele sensível do meu pescoço.
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