O gosto amargo da bebida âmbar desce queimando, o aroma forte entorpece os meus sentidos e minha cabeça lateja como se alguém a tivesse acertado com socos o dia todo. A culpa me fez encher meu copo muitas vezes e ainda não me sinto melhor, a raiva cresce a cada gole e as lembranças de todos esses anos se ampliam em minha mente.
Era tudo uma mentira. Todos esses anos juntos.
Encaro o retrato sobre minha mesa, uma foto nossa de quando começamos a namorar, os traços delicados moldando o belo rosto pueril e risonho. Ela transbordava perfeição e vitalidade, capaz de fazer até mesmo um cara como eu acreditar que poderia ser feliz. Achei que tinha encontrado a mulher ideal quando botei os olhos nela, o jeito sereno me causavam uma comoção tão natural que fiquei desesperado para realizar cada sonho que ela me proporcionava só com olhar. Me joguei sem aviso prévio no nosso relacionamento.
Mesmo ciente que ela não merece nenhuma gota das lágrimas que continuo derramando, choro em homenagem aos momentos verdadeiros que tivemos, incapaz de destruir todas as boas lembranças. Arremesso o copo com a bebida longe, o vidro se choca contra a porta e se estilhaça no processo, derramando o líquido por todo o assoalho, meu corpo treme, meu coração pulsa rápido e em descompasso com a adrenalina, sorrio com o milésimo de alívio que a ação me trouxe, me permito soltar a dor da decepção. Grito, urro, desesperado pela sensação de paz outra vez e passo a destruir todas as fotos dela que encontro. Quero beber até cair inconsciente, me afogar no álcool até esquecer quem sou e o que descobri. Minha cabeça está latejando, não estou nada bem e preciso me apoiar para permanecer de pé.
Eu sou um merda.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: INTENSO DESEJO