Sua mão direita aperta meu punho, fazendo com que a pressão exercida diminua a circulação do sangue e a deixe com o aspecto esbranquiçado. A foto ainda presente na sua mão esquerda está amassada.
Daniel Matoso leal.
Eu conhecia esse nome, estava em vários comprovantes de depósito nas coisas de titia, mas quando a questionei sobre quem era o sujeito, ela me disse que era só um pobre velhinho, um ex vizinho seu e de mamãe que passava necessidade e não tinha ninguém para pedir ajuda.
As coisas começam a se ligar no meu cérebro.
As fotos grávidas de titia.
O homem na porta.
Minha cabeça lateja mais forte, meu tornozelo protesta quando forço meus pés para fora da cama e tento ficar de pé. Vacilo, me desequilibrando e quase caio de volta. Consigo notar agora que minha panturrilha está inchada e por isso o desconforto para ficar de pé é tão gritante.
— Era você na porta da minha casa no outro dia, não era? — Mantenho o tom baixo, ainda processando todas as informações.
— Eu pretendia te contar as coisas naquele dia, mas eu não queria ser interrompido por ninguém, por isso te trouxe pra cá.
— O que você queria me contar?
— Que eles te roubaram de mim.
Meu coração palpita forte com um filme de toda a minha vida passando bem na minha frente, mesmo tendo ciência de que eu não quero ouvir a resposta, pergunto:
— Quem me roubou de você?
— Seus pais e sua tia.
Meus pais.
Era a primeira vez que ele se referia aos meus pais.
— Como?
Ele toma um tempo, parecendo analisar se deve ou não revelar o que esconde.
— Eu namorava com sua tia desde que éramos muito jovens, ela tinha treze e eu dezessete, não éramos as pessoas mais fáceis do mundo, mas éramos perfeitos um para o outro. Fomos vizinhos por muito tempo, mas ninguém apoiava nosso namoro, principalmente sua mãe.
Suspira, fazendo uma pausa dramática em sua fala, mas não o questiono. Dou-lhe o tempo necessário, levando o meu próprio para absorver todas as informações que me deu até agora.
— Gostávamos de experimentar qualquer coisa que nos fizesse bem, começamos com a maconha, cigarros, bebida e daí, só piorou.
— Você a apresentou para o mundo das drogas. — Falo, com raiva inflando meu peito.
— Não, ela que me convenceu a experimentar cada uma daquelas merdas.
Não pode ser.
— Você está mentindo, ela não...
— Ela não era quem você imagina. — Me interrompe, presumindo que eu falaria algo em defesa dela.
Não o contradigo. Apenas me mantenho parada, encarando a parede.
— Continue. — Peço.
— Ela engravidou. — Declara sem rodeios e é como um soco no meu estômago.
Não é como se não estivesse esperando por isso, eu já sabia de alguma forma o que essa conversa revelaria, eu tinhas as fotos dela.
As fotos.
— Você enviou as fotos pra mim. — Concluo.
— Sim, eu precisava que você começasse a questionar.
— Eu não fiz isso.
— Eu sei, mas aquele verme do Lorenzo fez. — Arregalo meus olhos na menção de seu nome.
O homem está dizendo que Lorenzo fez algo, mas o quê exatamente?
Ele parece notar a confusão em meu rosto, pois começa a explicar com um sorriso zombador no rosto.
— Lorenzo descobriu faz uns meses que sou seu pai e desde então, está tentando me manter longe.
As ligações.
A conversa com a advogada.
Ele sabia sobre Daniel e não me falou nada, ao contrário disso, escondeu e arquitetou para que eu nunca soubesse.
Meu peito dói em decepção, todo aquele discurso para que eu nunca o deixasse independente de qualquer coisa começa a fazer sentido.
AS FOTOS.
Ele queria que eu questionasse.
Não.
— Solange...
— Ela não é sua mãe. — Ele se adianta mais uma vez e me perco na história.
— Mas, ela estava grávida. — Afirmo, dizendo muito mais pra mim do que pra ele.
— Ela o perdeu com cinco meses de gestação, o consumo de drogas aliado com sua pouca idade a fizeram sofrer um aborto. Era um menino. — Declara, parecendo verdadeiramente triste.
As informações são como um bombardeio no meu coração, luto com a falta de ar.
— Você está bem? — Pergunta, demonstrando preocupação.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: INTENSO DESEJO