Do lado de fora, o céu está carregado de nuvens cinzas e pesadas, ameaçando roubar mais um pouco da minha paz de espírito com muita chuva e trovões. Sinto um arrepio na nuca só de imaginar, resolvo me apressar e tomar banho para fazer o que tenho feito todas as noites antes que a tempestade comece, me esgueirar no quarto do homem que amo e dormir agarradinha com ele.
Caminhando para a cama em passos silenciosos, quer dizer, nossa cama, já que ele fez questão de comprar uma nova desde que passamos a dormir juntos todas as noites, desde que a antiga nos fazia desconfortáveis por ter sido a cama que ele e titia dormiam, acabo esbarrando com alguma coisa no chão e faço barulho, chamando sua atenção.
O seu cheiro gostoso chega às minhas narinas quase que de imediato, a visão privilegiada do seu corpo ainda molhado enrolado apenas por uma toalha branca me deixa tonta. Um sorriso sexy e convencido se instala na sua boca quando ele me pega babando no seu peitoral.
— Você é insaciável, princesa. — Comenta, mantendo o sorriso lindo e safado no rosto.
Dou de ombros, bancando a ingênua e entregando minha atenção para os seus olhos, lambendo meus lábios de propósito.
Sei que esse gesto costuma deixá-lo instigado e imaginativo.
— Você aguenta. — Digo, deixando claro minha intenção.
Ele solta uma leve risada, me encarando com os olhos brilhando, quase em contemplação.
— Céus, você não existe. Quando se tornou uma garota tão má?
É a minha vez de sorrir sensual.
— Desde que conheci seu pau.
Ele geme. Ruge. Avançando em passos largos na minha direção, agarrando um punhado dos meus cabelos com força assim que chega perto o suficiente, fazendo o meio das minhas pernas latejar em expectativa.
— Você quer ser fodida até desmaiar de exaustão, não quer? —Pergunta, e eu assinto. Deixo escapar um gemido alto quando sua língua desliza quente pelo meu pescoço e sua barba arranha minha pele.
Suspiro, ansiando por mais. Levando minhas mãos para seu peito nu e apertando.
— Hum... Sim, por favor.
— Safada. — Diz, mordendo o lóbulo da minha orelha em seguida. — O titio não vai te comer hoje.
O quê?
Endireito minha postura, levando alguns segundos para acreditar no que ele acabou de falar. O olho com incredulidade quando seu aperto no meu couro cabeludo afrouxa e ele beija minha testa.
— O quê? Por quê? — Pergunto, indignada com sua mudança.
Eu quero sexo, pô.
Ele dá mais uma de seus risinhos, mas mantenho minha cara fechada em protesto. Ele se afasta e veste um moletom cinza, deixando a toalha cair no processo e me dando a visão do quanto ele estava afim também.
Fico mais confusa e resolvo quebrar o silêncio.
— Tô esperando você me explicar o motivo de não me fazer ver estrelinha hoje. — Resmungo, fuzilando seu peito ainda desnudo.
— Porque nós precisamos conversar, Melissa. — Faço cara de desentendida, apesar de entender sua fala.
— Não faça essa cara, você está fugindo desse assunto desde que encontrei sua carta e você é bem mais madura que isso.
Me acomodo na cama, dando espaço para que ele venha se sentar ao meu lado.
Ele entende e senta, mas na minha frente ao invés do lado.
— Quero que tenhamos uma conversa de verdade agora, prometo te ouvir e tentar aceitar qualquer que seja sua decisão, apenas seja sincera comigo e com você mesma.
Suspiro, tomando coragem para encará-lo.
Ouço quando as primeiras gotas de chuva começam a cair, logo depois sinto as minhas lágrimas descerem também.
Lorenzo se mantém em silêncio, mantendo seus olhos sobre mim.
Tenho travado há tanto tempo uma batalha interna, conflitando em ser quem eu quero e o que esperam que eu seja. Mas a verdade é que me sinto perdida mesmo tendo o amor do homem que amo, insegura cada vez que me olho no espelho e vejo uma menina, ao invés, de uma mulher, incerta sobre nossa relação quando saímos na rua e não podemos agir como um casal.
Eu sou bem mais do que veem, tenho tanta coisa dentro de mim que sinto como se fosse sufocar a qualquer momento. No entanto, em nenhum momento isso foi maior que o sinto por tio Enzo.
Isso é sobre mim.
Sobre os meus próprios demônios.
Por isso, resolvo falar tudo o que venho guardando pra ele, mas que não faça sentido e eu corra o risco de perdê-lo. Aliás, esse é o meu maior medo. Perdê-lo enquanto me acho.
LORENZO
A sensação que tenho agora é de perda, estou tão vidrado nela que me esqueço de piscar. Sinto que a qualquer momento ela vai se levantar e partir, dizer que foi divertido no começo mas cansou de brincar de casinha e quer voltar pra sua vida normal de adolescente.
Por isso, não quis transar. Quis ter essa conversa antes que eu cedesse e lhe desse um orgasmo, não quero que o sexo influencie em sua decisão.
Meu peito aperta quando o silêncio se arrasta. Estou esperando que ela tome uma atitude e comece a falar, mas começo a temer que isso não aconteça.
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