Nunca passou pela minha cabeça que deixar alguém partir seria tão difícil, mas quando você ama alguém de verdade e essa pessoa precisa bater asas e voar, então você só sorrir e acenar, torcendo para que
ela volte o mais rápido possível e não perceba que você está destruído por dentro, dando o seu máximo para não subir a merda da escada rolante e trazê-la de volta para seus braços.
PORRA!
Mas, aí, no exato momento que seu pé ameaça se mexer, ela vira e te dá o melhor sorriso de todos os tempos, enquanto aperta forte a maldita corrente que você lhe deu de presente como se fosse uma promessa.
Eu sou sua.
Eu vou voltar.
Sou sua.
E tudo que você pode fazer é sorrir de volta, pressionar com mais força a aliança solta no bolso da frente de sua calça jeans e torcer para que a promessa se cumpra.
E assim, com o coração quase saindo pela boca, com a merda da aliança que voltei no shopping só pra comprar pesando uma tonelada, a vejo partir.
Cacete. Essa merda dói para um caralho.
A gente se ama, o tesão é uma loucura e mesmo assim estamos escolhendo ficar longe um do outro, parece uma completa idiotice nesse exato momento.
Maturidade emocional é uma coisa desgraçada, te faz sangrar por dentro mesmo fazendo o certo.
Faz mais de uma hora que o avião dela partiu, mas ainda estou sentado no aeroporto sem acreditar que ela realmente se foi e eu deixei.
Faz mais de dois meses desde que conversamos e concluímos que estava tudo bem, ela ficou até o natal, fizemos amor debaixo da árvore e fodemos na cozinha de madrugada, comi rabanada a noite toda.
Mas agora, quando tudo está realmente acontecendo não estou sabendo processar. Por mais que eu tenha tentado conviver com ideia esses meses, não consigo voltar pra casa.
— Moço, você está bem? — Um adolescente, moreno e com trajes formais pergunta. Encaro seu rosto em silêncio por alguns segundos, procurando uma resposta para sua simples pergunta.
Eu estou bem?
— Senhor, quer que eu chame alguém? — O rapaz pergunta, me olhando com preocupação e uma certa curiosidade.
Por dera, um homem do meu tamanho chorando sozinho no meio de um aeroporto é de chamar atenção mesmo.
— Não precisa. — Falo, enxugando as lágrimas com o dorso da mão e me levantando, tratando de manter a postura de forte.
— Tem certeza? Posso chamar minha mãe. — Fala, me fazendo levantar uma sobrancelha em questionamento.
Ele dá de ombros, como se a resposta fosse óbvia.
— Ela tem bons conselhos amorosos, sempre me ajuda.
Aquilo me fez sorrir.
— E que tipos de problemas amorosos uma criança teria? — Pergunto, debochado.
Ele fecha a expressão por no mínimo cinco segundos e suspira alto, impaciente comigo.
— Típico dos adultos, vocês nunca dão créditos para nós jovens. Acham que pela pouca idade não temos o direito de formar boas opiniões, acontece que mesmo tendo apenas quinze, já me apaixonei e tive minha cota com decepções. Provavelmente não foi o grande trauma da minha vida e nem lembro mais da garota, mas não significa que não tenho respaldo algum para lhe dá um bom conselho. Eu apenas quis ser gentil e ajudá-lo.
Aceno, envergonhado. Até porque a garota que fisgou meu coração e pau é só um pouco mais velha que ele.
Bagunço meus cabelos sem jeito, tentando evitar os olhos castanhos escuros do garoto.
Só estou sendo a merda de um grande hipócrita.
— Você tem razão, sinto muito. Não precisa chamar sua mãe, também não estou decepcionado, apenas desolado.
— Por quê? — O jovem pergunta.
Suspiro, ficando um pouco desconfortável e envergonhado por querer desabafar com alguém com a metade da minha idade no meio de um aeroporto.
“Sua sobrinha era só um ano mais velha e você estava enfiando seu pau e gozando fundo nela.”
O pensamento traz de volta uma sensação enterrada há muito tempo.
Culpa.
Nojo.
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