Minutos depois, quando deixo o casarão, o vento gelado açoita o meu rosto.
A mala, que eu já havia deixado pronta, pesa em minhas mãos, enquanto eu corto a noite escura, em silêncio, com o peito apertado. Como Salazar avisou, há um carro esperando por mim do lado de fora do portão. Não tenho dificuldade nenhuma em atravessar a guarita, mesmo a uma da manhã, porque é Vincenzo que me aguarda dentro dele.
Cerro os punhos, atingida por uma fúria violenta, enquanto ando a passos largos em direção ao veículo. O homem de confiança de Theo, que se revelou um bastardo traidor, acena com a cabeça por trás do vidro dianteiro.
Eu não me manifesto. Mantenho os olhos cravados sobre ele, com uma ira silenciosa. Abro a porta do carro e ele me lança um olhar duvidoso.
— Onde estão os meus filhos?
— Don Salazar está com eles — o desgraçado diz. — Fique calminha, você logo irá revê-los. Deu tudo certo?
— Ah, deu sim — Theodoro se aproxima dele pelo outro lado, pisando duro, com sua 45mm cromada apontada para a cabeça de Vincenzo. — Miserável desgraçado, eu não preciso dizer o quanto você está fodido, preciso? — ele rosna.
Vincenzo levanta as mãos, pálido e prestes a mijar nas calças. Theodoro entra pela porta traseira do carro, sem abaixar a arma, e eu deslizo para o banco da frente, o coração batendo forte, martelando nas costelas a ponto de explodir.
— Para onde, Sr. Tremesso? — o idiota trêmulo pergunta, dando a partida no carro.
— Para a casa de Salazar.
***
De dentro do Bentley, eu envio uma mensagem. Apesar da hora avançada, a resposta chega rápido, mas isso não me surpreende.
Meu coração se parte em pedaços, mas eu sorrio, friamente, devolvendo o celular para o bolso.
— Tudo certo? — a voz de Theo soa distante e impessoal.
— Sim, como previsto.
— Ótimo.
Eu me viro para ele no banco traseiro, bastante apreensiva. Sei que não está nada bem, é claro que não está. Depois de toda essa loucura horrível, uma descoberta como aquela seria suficiente para destruir a sanidade de qualquer pessoa. Mas o cappo se mantém firme e impassível. O homem de negócios determinado tinha assumido o controle mais uma vez.
—Chegamos — Vincenzo comunica, depois que atravessamos a guarita de Salazar em segurança. Ele para o carro nos fundos, afastado das câmeras de vigilância, exatamente como Theo ordenou. — Sr Tremesso, por favor, eu gostaria de pedir...
Levo as mãos a boca e seguro um grito alto, quando a cabeça de Vincenzo voa contra o volante, com a pressão do tiro disparado por Theodoro, com silenciador. Ele cai com o rosto virado para mim, os olhos esbugalhados e sangue espalhado por toda a parte.
Meu coração vai parar na garganta. Tenho a sensação de que continuo gritando em silêncio, por vários segundos, até que, tremendo da cabeça aos pés, sinto Theodoro acariciar minhas costas.
— Sinto muito por isso. Ele estava tentando contatar Salazar pelo telefone — ele diz e só, então, eu noto o aparelho aceso e vibrando no bolso do paletó de Vincenzo. O celular dele se apaga e o meu se acende quase ao mesmo tempo. Eu tenho um sobressalto e o deixo cair no meu colo. — É melhor você atender.
Balanço a cabeça, concordando, mas os meus músculos continuam travados. Merda. Por mais que eu tente me forçar a obedecer, não consigo. Meu coração está batendo na porra dos meus ouvidos!
— Atenda, pequena. É Salazar. Diga a ele que está tudo bem e então poderemos seguir com o plano.
Respiro tão fundo quanto posso e pego o celular com um movimento rápido, sem querer tocar no corpo imóvel, mas ainda quente de Vincenzo.
Atendo a ligação, controlando o desespero na minha voz.
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