Jogo de Intrigas romance Capítulo 51

TRÊS MESES DEPOIS...

Estou tão ocupada revisando orçamentos de uma obra que parece inacabável, que demoro a ver o telefone vibrando ao meu lado sobre a mesa. Mas quando vejo o número no visor, sinto um calor no meu rosto e não posso evitar um pequeno sorriso.

— Como estão as coisas? —ele pergunta, naquele tom rouco e profundo que faz minhas entranhas se diluírem.

Faz tempo que não vejo Theo pessoalmente. Meses se passaram desde o episódio na casa de Lucca Salazar, quando precisei atirar nele para nos libertarmos daquele psicótico. Salazar morreu e, agora, eu estava desfrutando de férias permanentes no lugar mais lindo do mundo, enquanto o cappo  continuava comandando seu império na Sicília.

— Tudo bem — respondo, debruçada sobre papelada na minha mesa.  — Os garotos estão felizes, mas eles sentem a sua falta.

— E você?

— Envolvida em muita burocracia — sorrio, ignorando de propósito as segundas intenções por trás da sua pergunta. — Como você está?

— Com saudades —  murmura e, como não digo nada, ele prossegue. —

— Você disse a eles que eu mandaria buscá-los para o ano novo?

— Sim, estão ansiosos.

— Mesmo, Heitor?

— Principalmente Heitor. Desde que vocês dois se acertaram, ele tem falado muito em você. 

— Tenho pensado muito nele — murmura, baixinho.  — Em vocês três.

Suspiro, com um misto de irritação e alegria que, eu juro, ainda vão me deixar louca. Theodoro e eu já tivemos aquela mesma conversa, tantas vezes, nos últimos meses! E o pior, acaba sempre como uma discussão sem solução, porque, ao passo em que eu me sinto contente com a vida que ando levando, me afogo e morro com a saudade agoniante que sinto dele.

— Eu preciso desligar —  aviso. — Aparentemente, tenho mais hóspedes do que imaginava nessa época do ano.

— Certo, eu também preciso ir. Tenho uma reunião urgente agora. 

— Problemas no paraíso? 

— Você está no paraíso, pequena —  seu sorriso termina com um pequeno  suspiro solitário.  — Eu sou apenas um homem de negócios tentando manter as coisas funcionando por aqui.

Tenho vontade de dizer a ele que o paraíso é o inferno se ele não está comigo. Mas no fundo sei que não é exatamente verdade. Porque tenho Joaquim e Heitor comigo e ver os meus filhos crescerem correndo pelas vielas e escadarias de Cefalú coloca um sorriso no meu rosto todos os dias.

— Venha quando puder — engulo em seco, forçando um sorriso.  — Prometo um tratamento de luxo para o nosso hóspede patrocinador.

— Eu irei, com certeza. E faço questão de exigir cada um dos luxos que está me prometendo, Vitória.

Dou uma risada nervosa. O tom de voz dele é sedutor, malicioso, e eu me pego com o coração a mil por perceber que é exatamente isso o que eu quero. Que ele venha e traga com ele suas ordens e exigências. Na cama, é claro. Minha recém conquistada posição de mulher independente não permite outro tipo de autoridade, fora aquelas que eu adoro me submeter por vontade própria.

Quando desligo, do jeito mais impessoal que consigo, ouvindo sua voz grave e deliciosa do outro lado, meu coração se enche de dúvidas e incertezas. Theo fez de tudo para que eu o perdoasse e ficasse ao seu lado, depois que descobriu a farsa tramada por sua irmã em conjunto com o filho do seu inimigo. Mas quando eu recusei, ele fez algo que eu nunca imaginava. Algo que me surpreendeu.

Ele me deixou ir embora e levar os meninos comigo. E ainda investiu no negócio que, agora, eu administro na vila mais bonita da Sicília, a maravilhosa Cefalú. E isso me deu algo para pensar nos seis meses que estou aqui, cursando fotografia, enquanto cuido da pequena e charmosa pousada na beira da praia.

— Mãe, mãe! Veja o que nós achamos — Heitor entra correndo pelo porta da frente, alguns minutos depois, e eu me obrigo a desviar a atenção do computador.

Quero dar pulos de alegria toda vez que o escuto me chamar de mamãe, mesmo que isto agora aconteça todos os dias, agora, umas mil vezes. Ele está mais moreno e bronzeado, assim como Joaquim, das tardes na praia ou no campo de futebol, depois da escola. E mais alto também. Meus dois filhos estão crescendo.

— E o que é?

Estou preparada para alguma de suas travessuras de garoto como um sapo ou outro lagarto, mas o que eu vejo faz minha respiração parar e ter início um conhecimento formigamento na pele.

Por trás dele e, de mãos dadas com Joaquim, está Theo. Seus olhos castanhos cálidos encontram os meus e eu me perco deles. Está vestindo uma camisa branca aberta no peito e jeans que modelam os músculos das coxas com perfeição. Seus lábios assumem um sorrisinho cínico.

— Achei que você tinha uma reunião importante — assumo um ar de bronca, enquanto saio de trás do computado r e passo para o outro lado do balcão com eles.

— Aqui. Com vocês —  ele enfatiza, com a expressão bastante séria enquanto os meninos se penduram em seus braços.  — Não vejo reunião mais importante do que essa, pequena.

Meu estômago se contrai e eu acho que vou morrer. É bom demais para ser verdade e , por isso mesmo, é terrível. Algum dia, vou ser capaz de me tornar imune ao sentimento que tenho por esse homem? Acho difícil dizer. Só de olhar o seu rosto, minhas pernas tremem e sofro com o desejo violento de pular no seu colo e enchê-lo de beijos.

— Mãe, o meu pai veio passar o reveillon com a gente — Quim me olha com empolgação.  — Não é irado?

— É sim, filho... é irado.

Theo morde o canto da boca e não tira os olhos de mim. Com todos os problemas que temos, sei que o que está se passando pela sua cabeça, agora, não tem nada a ver com uma desagradável DR. Ele quer me ver na cama, sem roupa, satisfazendo cada um dos seus caprichos masculinos.

— Sinto muito ter vindo sem aviso —  ele franze as sobrancelhas grossas, levantando a única mala em sua mão para mostrar que pretende ficar.  — Espero que não sejam problemas.

— Seus filhos moram aqui, então não vejo problema nenhum em aparecer, Theodoro.

— Obrigado. E quais são os planos para o ano novo?

— Bom, teremos a festa tradicional de Cefalu —  informo, passando por ele para guiá-lo até o quarto onde ficará hospedado. As crianças se dispersam e Theodoro vem subindo as escadas atrás de mim.  — É uma festa linda, com direito a fogos de artifício na praia, e os moradores falaram muito a respeito. E, depois, pensei em virmos para casa, para cear juntos. O que acha?

Quando chego ao último degrau, ele me agarra pela cintura, quase me derrubando, e eu solto um gritinho, me debatendo em seus braços.

— Agora, diga que sentiu minha falta.

— Theo... O que? Para com isso.

— Diga que sentiu minha falta ou não deixo você ir — sussurra perto da minha boca, apertando meu corpo junto ao dele. — Porque eu não consigo parar de pensar em você, pequena. Nem um minuto.

— Theo, já conversamos — meu coração dispara.  — Eu não posso.

Eu me desvencilho dele e abro a porta da suíte master, depressa, para não cair na tentação de retribuir suas investidas. Minhas mãos estão trêmulas e a chave quase quebra na fechadura antes que eu tenha sucesso na minha missão. Vou até o banheiro e dou uma vistoriada rápida. A suíte foi liberada, naquela mesma manhã, por um casal em lua de mel, mas já está perfeitamente limpa.

— Tudo pronto. Você já pode...

— É aqui que vamos dormir?  — ele pergunta em tom de provocação e eu dou uma revira de olhos.  — Sei que eu deveria ter escutado e confiado em você, mas nunca imaginei que Alessandra pudesse... esqueça, isso não é desculpa. Chega de jogar a culpa sobre os outros.

— Por falar em Alessandra, teve notícias dela?

— Não e nem quero — diz, rancoroso. — Não vim para falar dela. Vim para ver vocês e para falar de nós dois.

Quando passo por ele a caminho da saída, Theodoro segura o meu braço e meu coração bate forte.

— Theo...

— Eu amo você, Vitória. 

— Você já disse. Preciso que pare de falar essas coisas.

—  Vou falar quantas vezes mais forem necessárias — avisa, decidido.

Epílogo 1

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