Quando Theo revelou que a irmã havia me visto na biblioteca, no dia da festa, com Rico Salazar, eu havia presumido que estava se referindo a Isabela.
Afinal, quem mais seria capaz de soltar um veneno como aquele para nos ver separados?
Sem querer, foi a própria culpada, Alessandra Tremesso, quem me fez duvidar daquilo. Primeiro, ela descartou a ideia, convencida demais de que aquilo seria impossível. Depois, tentou reverter o jogo e acusou o irmão de estar mentindo. Theodoro não tinha motivos para inventar uma história absurda como aquela e, então, cada vez mais, eu passei a ficar atenta a tudo o que os dois diziam. E a cada dia que passava ficava mais claro que Theo havia sido enganado, vítima da mesma farsa que eu.
Mas eu ainda acreditei em Alessandra. Tentei fechar os olhos, não queria enxergar o óbvio. Ela tinha sido minha única e melhor amiga. Tinha me ajudado quando mais precisei ao organizar minha fuga para o Brasil, grávida de Joaquim.
O que me levava a outro ponto.
Qual era o verdadeiro interesse de Alessandra Tremesso em me ver pelas costas?
Foi quando encontrei Lucca Salazar pela primeira vez, na festa de Theodoro, que algo estranho me ocorreu. Aquele mal estar acompanhado de uma vaga sensação de reconhecimento. Quando ele revelou ser filho do inimigo de Theo, que eu havia visto rapidamente na casa de Isabela, anos antes, atribuí esse sentimento de deja vu às semelhanças entre pai e filho.
Mas, agora, olhando para Alessandra, parada ao lado dele, com os mesmos olhos azuis charmosos e sua traços delicados, tão diferente da beleza marcante do Tremesso, uma triste convicção deixa meu coração devastado para sempre.
– Venham comigo, garotos — ela se agacha, com um sorriso débil, abrindo os braços para os sobrinhos. — Vamos deixar os adultos conversarem.
Joaquim e Heitor lançam um olhar hesitante na direção da tia, mas acabam obedecendo quando Salazar afrouxa os braços em torno deles e seguem na direção dela, de cabeças baixas.
— Por que não me contou que ela não era sua irmã de sangue? — eu exijo de Theo, com o rosto ardendo, mas ele mantém seus olhos presos na arma apontada para ele. — Por que nenhum dos dois me contou?
— É uma longa história.
— Ah, qual é? Não é uma história tão longa assim, Theodoro. Por que não conta para ela? — Lucca Salazar solta o ar pelo nariz com um ruído. — Por que não conta como o bastardo do seu pai roubou minha irmã quando ela ainda era uma criança?
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