Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 109

Se eu estava segura do que disse? Não, claro que não. Mas também não poderia deixar que ela soubesse que eu estava amedrontada com as ameaças dela, pois isso lhe daria ainda mais confiança.

Quando cheguei em casa e abri o celular, digitando o nome de Charlie B, fiquei sem ar quando li que ele estava de volta em Noriah Norte, cidade onde morava e se preparar para uma nova turnê na Europa.

Nos dias que passaram, quando Melody saiu do hospital, procurei notícias sobre possíveis shows dele e não tinha nada. Agora estava explicado... Não tinha show porque ele não estava no país. E como ele simplesmente partiu, fazendo dois únicos shows em Noriah Sul?

Como assim? “El cantante” simplesmente me deixou, sem sequer dar explicações? Você nem me procurou! Onde está a minha música, a solicitação de um reencontro? Você é famoso agora. O mundo todo está voltado para Charlie B. Você pode pedir por mim num estalar de dedos...

Eu poderia ter deixado um bilhete... Mas era Melody. Quando acontecia qualquer coisa com ela eu simplesmente ficava sem noção, cega, surda e muda, com o único objetivo de vê-la bem.

Poderíamos ter trocado telefones, mas só pensamos em apagar o fogo dos nossos corpos, sem termos tempo para mais nada.

Fomos completamente tolos, parecendo adolescentes, com hormônios sexuais aflorando por todo corpo.

Fim de jogo... “End game” para Sabrina e Charles.

Europa já foi longe demais para mim, há seis anos atrás. Hoje não era mais longe... Era fora de alcance, um lugar impossível.

Naquele final de semana eu e Melody fomos ver Yuna. Assim que ela abriu a porta, vi os olhos inchados e vermelhos da minha amiga.

Retirei meus calçados, pondo Melody já estava descalça no chão, devido ao gesso. Ela andou sem dificuldades até a cozinha, para pegar algo para comer. Minha filha se sentia em casa ali, tanto quanto na sua própria residência. Ambos os lugares eram seu lar, afinal, nasceu com Yuna e Do-Yoon e morou com eles por anos.

- O que houve? – Perguntei, preocupada, sem sentar.

- Eu... Fui demitida.

- Demitida? Como assim?

- Corte de pessoal. Esta foi a desculpa que me deram.

- Sente-se, eu vou fazer um chá para você. – Falei.

- Ei... Eu já tomei vários chás. – Ela disse.

- Mas não o meu. Sua mãe me ensinou um calmante natural que é simplesmente incrível.

- Sabrina, não é preciso. Eu já tomei...

Peguei as mãos dela e olhei em seus olhos:

- Deixe-me fazer algo por você... Por favor. Você e Do-Yoon fizeram tanto por mim. Retribuir é o mínimo que posso fazer. Você não é uma rocha... E mesmo que fosse, por mais que não se quebre por inteiro, tamanha sua força, pode ter pequenas rachaduras. E elas podem e devem ser coladas, acredite. E tudo voltará ao normal, inclusive a sua força.

- Eu dei minha vida pelo trabalho.

- E o trabalho não deu a vida por você – sorri – Mas amigos dão. Você pode demonstrar fraqueza e nem por isso deixará de ser a rocha... E o esteio da nossa família.

Ela me abraçou com força e pela primeira vez a vi chorando de verdade, com lágrimas, expondo fraqueza, dor e sentimentos.

Yuna tinha que entender que não era uma pessoa imune a tudo. E nem precisava ser.

- Quem perde são eles, minha amiga. Porque você é a melhor pessoa e profissional que conheço. O carinho com que trata seus pacientes é simplesmente sem igual.

Ela limpou as lágrimas, já tentando parecer que nada daquilo a abalava:

- Tem o lado bom. Talvez seja hora de trabalhar sozinha... Montar meu próprio consultório.

- Jura? – vibrei – Yuna, já estava na hora.

- Acha que eu consigo?

- Não acho. Eu tenho certeza.

- É complicado... Ter que arranjar um lugar, comprar móveis... É tudo tão caro...

- Do-Yoon pouco tem parado em casa. Você está sozinha... Eu estou sozinha. Por que não vai morar comigo e Medy? E aqui poderia montar seu consultório. É um bairro residencial e familiar. Acredito que teria muitos pacientes. Há várias crianças nas redondezas.

- Eu... Não tinha pensado nisso.

- Lembre-se que para tudo precisamos sair do bairro. Imagine ter uma Pediatra aqui, pertinho. Todos iriam amar. E não haveria tanta concorrência para você quanto na zona central.

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