Já era quase sete da manhã. Vesti um conjunto confortável de terno e bermuda de linho, de marca renomada com slippers dourados. Precisava descansar meus pés, pois os sapatos que usaria com vestido de noiva embora fossem confortáveis, eram altíssimos.
Não usei maquiagem, pois logo faria os procedimentos de limpeza facial.
Quando desci para o café da manhã, a mesa já estava posta... Para uma pessoa. Min-ji serviu-me de uma xícara de chocolate quente.
- Ninguém vai tomar café da manhã comigo? – Perguntei, só para confirmar o que já estava bem claro.
- Sua mãe marcou o “dia de mãe da noiva” para bem cedo, seu pai não chegou ainda da viagem e a sua irmã apareceu quase pela manhã e pediu para não ser acordada em hipótese alguma porque precisava descansar.
Suspirei, resignada:
- Colin já foi?
- Sim.
- Estou para ver uma pessoa mais certinha e cheia de manias do que o meu futuro marido. – Bebi o chocolate fumegante e perfeito.
- Não pode falar... Você também é.
- Eu? Você quer dizer cheia de manias ou certinha?
- As duas coisas. – Ela sorriu, colocando a mão na frente da boca.
- Sabe que não me acho este tipo de pessoa?
- Mas é... Não a imagino fazendo algo errado.
- Min, eu vou sentir sua falta... Muito. – Confessei.
- E eu a sua. A parte boa é que vai morar próximo... E certamente virá com frequência visitar sua família.
- Sim... Acho que depois da lua de mel já vou vir ocupar a minha cama. Juro que se pudesse, a levava junto. Será que vou conseguir dividir a cama com alguém todas as noites? Eu ocupo literalmente todo o espaço que há no meu colchão.
- Vai acostumar.
- Eu ainda vou tentar convencer meu pai a deixá-la ir comigo, Min...
- Sabe que ele não vai aceitar. Trabalho com o senhor J.R e a senhora Calissa há mais de vinte anos. Ninguém sabe mais as manias desta família do que eu. Como seu pai mesmo diz: “só eu sei a forma como ele gosta que passem as suas camisas e calças e o que ele gosta de comer a cada dia da semana”. – Ela disse, orgulhosa.
Sim, Min-ji trabalhava como governanta dos Rockfeller desde sempre. Nasci e ela já fazia parte da nossa família. Ela tinha folga a cada quinze dias, nos finais de semana, porque literalmente meus pais não viviam sem ela. Eu poderia definir aquilo como trabalho escravo, não fosse o fato de ela ganhar um alto salário para ser responsável por toda a nossa casa e família. Salário este que fez ela sustentar os dois filhos, pagar alguém para cuidá-los adequadamente, dar-lhes a oportunidade de estudar nas melhores escolas do país e não privar a família de nada, exceto dela mesma.
Ela era de origem asiática e seu primeiro trabalho quando veio para Noriah Norte foi na família Rockfeller, quando meus pais não eram tão conhecidos no país e estavam apenas iniciando no ramo da música. Apesar de minha família ser extremamente afeiçoada a ela e saber retribuir financeiramente todo carinho que tinham pela governanta, nunca misturaram as questões profissionais com pessoais. Por isso, não conhecíamos a família de Min-ji. E por mais que ela fosse indispensável na nossa família, jamais lhe deram outro lugar a não ser o de governanta.
Terminei o chocolate e comi uma fatia de bolo quentinho de baunilha com gotas de chocolate.
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