Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 112

- Mamãe, nós vamos, não é mesmo? Diga que sim, por favor. – Melody juntou as mãos, em prece.

- Medy... Não tem como.

- Por quê?

Tinhas vezes que eu odiava responder aos porquês dela. E agora era uma destas vezes.

- Porque... – tentei pensar rápido – É longe... E mamãe tem que trabalhar.

- Mas não tem aula no Natal. – Ela arqueou a sobrancelha.

- Esta menina é simplesmente magnífica. – Calissa falou, não conseguindo desviar os olhos da neta.

- Você quer me pegar no colo? – Melody ofereceu-se.

- Eu... Ficaria muito feliz se você deixasse eu pegá-la. – Vi as lágrimas nos olhos de minha mãe, que tentou contê-las em vão.

- Mãe, ela está muito pesada por conta do gesso... Não precisa... – Tentei alertar, mas era tarde. Melody já estava no colo dela.

Calissa Rockfeller estava completamente apaixonada pela neta... Pela minha Medy... Minha filha com “el cantante”.

- Você tem cheiro de...

- Filha – ela completou – Mamãe diz que é o melhor aroma do mundo inteiro. Ela já pensou em pôr num frasco. – Sorriu, orgulhosa.

Calissa me olhou:

- Eu diria que tem cheiro de amor... Misturado com doce e ternura. – Sorriu.

Comprimi os lábios, sentindo meu coração bater fraco, como se estivesse apertado dentro do peito. Minha mãe e minha filha... Ambas tão significativas na minha vida.

- Esta menina não parece ter apenas cinco anos. – Calissa observou.

- Eu faço seis em breve.

- Não... Ainda falta tempo. Mas ela já conta os dias para o próximo aniversário assim que completa anos.

- Você também era assim.

- Eu posso ajudar você a montar a árvore de Natal na casa de praia? – Melody perguntou, com os braços envoltos no pescoço da avó.

- Claro que sim. Vovô pode ajudar?

- Sim... E mamãe e papai também?

Calissa me olhou:

- Seria um prazer... Todos nós, juntos, neste Natal.

- Não... – Falei, com a voz fraca.

- Pense que nunca sabemos quando será o nosso último Natal... E se for este?

- Não se preocupou nos anteriores... Se eu tinha sequer o que comer na ceia.

- Acha mesmo que eu nunca soube sobre você, Sabrina?

Olhei para Min-ji, que abaixou a cabeça.

- Como assim?

- Respeitei sua decisão por cinco anos, Sabrina. De onde você acha que Do-Yoon tirou dinheiro para pagar a sua faculdade?

- Foi você? – Fiquei furiosa e ao mesmo tempo incrédula.

- Sim, fui eu. E estou recebendo de volta o seu pagamento, como combinou com ele. Claro que não gostaria de pegar este dinheiro, mas Do-Yoon também não o quis. E sei que você não aceitaria que eu pagasse. Então veja como um empréstimo.

- Eu não queria que você estivesse por trás disso tudo... Eu queria minha independência, ter feito tudo sem a sua ajuda.

- E fez. Eu não comprei esta casa. Eu não visto e alimento sua filha. Eu não lhe arranjei um emprego. Também não lhe dei um carro. Mas você é mãe e sabe que jamais uma mãe é capaz de deixar a filha ir embora sem nunca procurar saber como ela está.

- Mas... – não contive as lágrimas – Você não o impediu... Nem veio atrás de mim.

Min-ji pegou Melody do colo de Calissa e levou-a dali novamente.

- Acha que não tentei? Não houve argumentos que o fizessem mudar de ideia. Eu fui fraca... Submissa... Mas ir com você significa deixar sua irmã também.

- Então escolheu ela, claro.

- Não há como escolher entre um filho e outro. Amo as duas da mesma forma. No entanto, ambas precisavam de mim.

- Eu estava grávida! – As lágrimas escorriam sem cessar pelos meus olhos e ela também estava muito emocionada.

- E eu fiz errado. E me culpei por cinco anos... E certamente levarei isso para o resto da vida. Mas sempre soube como você estava... Porque Min-ji me botava a par de tudo. Acompanhei cada passo seu, mesmo de longe. E fiz o que estava ao meu alcance, que era ajudar na faculdade. Na verdade, como já disse, foi só um empréstimo.

Eu não disse nada. Não tinha condições.

- Eu não quero que você vá para casa de praia, perdoe seu pai e tudo que nossa família fez, fingindo que nada aconteceu. Sei que não é assim... Que se um dia houver o perdão, será demorado. Só quero sua presença e a de nossa neta. J.R quer vocês... Porque estamos envelhecendo e não sabemos o dia de amanhã.

- Por que se preocuparam com isso só agora?

- Porque sempre há tempo... E é melhor depois de cinco anos do que dez... Ou nunca. Pedidos de desculpas são feitos para reparar erros... Isso quer dizer que errar é do ser humano e sempre aconteceu...

- Não consigo...

- Melody quer ir. Não é justo privá-la da convivência com os avós e a tia. Ela é parte de nós.

- Vocês não a quiseram.

- Eu sempre quis... Você sabe disto. Inclusive tentei vir conhecer Melody. Você não permitiu. E mesmo com o coração partido, eu respeitei sua decisão. Mas cheguei no ponto de perceber que cinco anos é tempo demais. E que não me importa mais o que você pensa sobre mim ou seu pai ou o que sua irmã fez no passado. Porque todos cometemos erros... E você também deve cometer os seus... Porque é humana, porque é mãe, porque é como todos nós...

- Eu vou. – Falei, num impulso, muito mais por ela, “mãe”, do que por J.R e Mariane.

Calissa me abraçou:

- Obrigada!

Minha mãe não ficou muito tempo. Realmente só queria me convencer a passar o Natal com os Rockfeller, na casa de praia, a qual íamos com frequência quando éramos crianças, mas que com o passar do tempo ficou muito mais como uma lembrança distante, já que meu pai preferia hotéis e países diferentes no nosso período de férias.

Assim que fiquei somente com Melody, voltei a fazer o nosso chocolate quente. Entreguei-lhe a caneca fumegante, com o líquido que amávamos.

- Você não pode me dar chocolate muito quente, mamãe. Eu posso queimar a boquinha.

- Eu não faria isso, docinho. – Apertei seu nariz.

- Está saindo fumaça.

- Mas eu já assoprei.

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