Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 115

- O quê? – Levantei a cabeça, encarando-o.

- Você acha que sou um garoto? Eu posso ser um garoto levado. Seu pai reclamou porque seu relacionamento não era como ele queria. Imagina você voltar anos depois, com um homem mais novo, rompendo novamente os tabus da família?

- Isso... Ia deixá-lo puto.

- Eu faço este sacrifício por você.

- Você não desiste, não é mesmo? – Eu ri, achando graça da proposta dele.

- Não... Mas desta vez, juro que estou só tentando ajudá-la.

- Não tenho certeza se posso confiar em você, menino.

- Pode... Juro que não vou tocar num fio do seu cabelo... A não ser que me peça.

- Eu não pedirei.

- Só quero estar ao seu lado... E de Medy. E acabar com a tranquilidade do Natal do seu pai, como ele fez com sua gravidez.

- Faria isso por mim? E sua família? Os deixaria, nas festas de final de ano?

- Minha família... Vejamos... – ele pôs o dedo no maxilar, fingindo pensar – Minha avó dorme sempre no mesmo horário: 22 horas. Não importa se é sábado, domingo, Natal ou o raio que o parta. Ou seja, eu sairia de casa do mesmo jeito. Quanto à minha mãe... Bem, ela arranjou um namorado novo. E não vem passar as festas de final de ano conosco.

- Não me diga que ela está envolvida com Colin.

Ele riu:

- Não... Parece que ele a dispensou.

- Colin sendo Colin... E sempre me surpreendendo de alguma forma: seja me traindo ou me ajudando quando mais preciso.

- Eu vi os olhos dele para você naquele dia, no hospital.

- E...

- Ele a ama.

Eu ri:

- Já se passaram cinco anos.

- E ele não a esqueceu. Para mim isso ficou muito claro.

- Se ele me amasse, não teria feito o que fez.

- E se ele foi dopado pela sua irmã?

Arqueei a sobrancelha, confusa:

- Não... Por que ela faria isso?

- Para dormir com o seu namorado. Ponto final. Porque ela é uma vadia... E vadias são vadias.

- Eu... Nunca pensei nisso. E ele nunca tentou se defender... – Fiquei pensativa.

- Vamos nos vingar dela também.

Eu ri:

- Defensor dos fracos e oprimidos?

- Não... Justiceiro. – Me deu um beijo no rosto.

Conversamos até que meus olhos foram se fechando... E a nossa fala ficando com espaçamento de tempo cada vez maior.

Acordei com o despertador. E envolvida nos braços de Guilherme Bailey.

- Porra, porra, porra! – Levantei, verificando se estava de calcinha e pijama.

Enfim, tudo no lugar. Inclusive minha integridade física e emocional.

Ele abriu os olhos e espreguiçou-se. Ainda estava com a calça jeans, o zíper aberto, sem camisa:

- Bom dia, Sabrina.

Peguei a camisa dele e joguei-a na sua direção:

- Precisa ir, antes de eu acordar Medy.

- Ela vai gostar de saber que dormir aqui... Ou pode pensar que vim para o café da manhã.

- Ela não é burra, seu idiota.

- Agora me trata assim... Sendo que sou o seu salvador.

- Guilherme, eu não posso me atrasar... – Eu já pegava a roupa que usaria naquele dia e organizava a cama, o empurrando para fora.

- Você não acorda de bom humor.

- Não... Não mesmo. Porque as pessoas... – falei, enquanto arrumava os lençóis – Tem a porra da mania de arrumar a cama, sendo que vão usá-la logo em seguida. Uma coisa ridícula... Que a sociedade impõe... E... – olhei-o – Que porra você ainda está fazendo aqui?

Ele pôs a camisa, rindo:

- Nos vemos na aula, professora linda. Você acorda de mau humor... Mas gostosa... Muito gostosa.

- Seu sem vergonha... Suma daqui. – Joguei um travesseiro nele, que se abaixou, escapando.

Guilherme veio correndo e me deu um beijo no rosto, saindo rapidamente, sem olhar para trás.

Me peguei sorrindo. Ele era diferente. Se tivesse aparecido cinco anos... Bem, se tivesse aparecido cinco anos antes, ele teria 13. Isso seria pior ainda.

A ideia dele de provocar meu pai, embora infantil, me agradou. Eu não queria simplesmente aparecer e fingir que tudo estava bem. Porque não estava. E ao mesmo tempo, estar lá, por si só, os faria pensar que eu perdoei. E isso não tinha acontecido.

Levar o garoto irritaria profundamente meu pai, embora talvez ele não se manifestasse a respeito, sendo que minha presença era o que eles queriam. Por mais que não dissesse o que realmente achava do meu suporto namorado, temendo minha partida, ficaria muito furioso.

Sim, eu levaria Guilherme Bailey conosco. E diria que estávamos juntos. E que ele era meu aluno. Queria ver se J.R Rockfeller me expulsaria.

Arrumei Melody e a pus no carro. Enquanto afivelava seu cinto, meu telefone tocou. Era Yuna.

- Não me diga que mudou de ideia quanto a vir morar conosco.

Ela ficou um breve tempo sem dizer nada.

- Yuna? Tudo bem?

- Sabrina, acho que você deveria ver as notícias da internet.

- O que houve?

- Apenas olhe.

- Ok... – Me preocupei.

Assim que sentei no banco do carro, abri o Google. O que ela queria que eu visse?

Melody começou a falar e eu não prestei muita atenção. Abri a tela e a segunda coisa que apareceu foi “el cantante”. A notícia era: “Finalmente, Charlie B. assume namoro com sua empresária, que confirma noivado no Natal.”

O aparelho caiu da minha mão, que ficou trêmula imediatamente. Tinha algumas fotos de Charles, mas nenhuma da namorada. Claro que as lágrimas tentaram se apossar de mim.

Olhei para Melody, risonha, contando sobre algo que eu não conseguia entender, pois estava longe dali. Engoli as lágrimas e não as derramei, ficando orgulhosa de mim mesma.

- Tudo bem, mamãe?

- Tudo bem o que?

- Eu levar vários biquínis para a casa de praia da vovó?

- Tudo bem. Vamos pôr outra coisa na mala.

- O quê?

- Gui. Acha que ele cabe na nossa mala?

Ela sorriu e vibrou, levantando os braços:

- Gui! Oba!

Eu já sabia de antemão que tinha que pôr um fim nas minhas esperanças. E a hora chegou. El cantante era o pai da minha filha... Só isso. O nosso tempo já tinha passado. Conheci Charles... Não Charlie B. Ele seguiu a vida. Eu precisava fazer o mesmo. O procuraria, pois era direito dele saber que tinha uma filha comigo. E dela, a convivência com o pai. Mas nós dois não existia mais.

Abri mão de tudo por uma lembrança, uma esperança... Cinco anos eu abdiquei de mim mesma. Era hora de voltar a ser Sabrina... Não só Sabrina mãe, nem Sabrina amiga, tampouco Sabrina professora. Era hora de eu ser Sabrina mulher.

Não sabia se poderia gozar tão intensamente nos braços de outro se não desse uma chance para isso acontecer.

Foi tudo muito estranho... Nos encontramos no meio da multidão, transamos e ele decidiu noivar com outra mulher dias depois. Que porra de vida e destino era o meu, afinal?

Assim que chegamos na escola, eu ainda desestabilizada, tentando sorrir e fingir que tudo estava bem, fui levar Melody na sala.

A professora, assim que me viu, veio na minha direção:

- Será que podemos conversar um pouco? Teria um tempinho?

Olhei no relógio. Tempo eu não tinha... Estava sempre em cima da hora. Mas era sobre minha filha. Então eu tinha que tirar um tempo sim.

- Posso me atrasar um pouco... Sem problemas.

Ela não chegou a me levar para uma das salas, seja da psicóloga ou da direção ou supervisão. Só me chamou de canto, afastando-se da porta. Então imaginei que não fosse algo tão sério.

- Bem... Você já observou que Melody é muito madura para idade dela, não é mesmo?

- Sim... Ela sempre foi assim. Aprendeu a andar, falar... Tudo antes do tempo.

- Já pensou em altas habilidades?

- Já. Mas foi descartado pelos médicos. Isso vem da convivência dela com adultos... Intelectualizados. Ela morou a vida toda com uma Pediatra, que acompanhou todo o desenvolvimento dela diariamente.

- Entendo... Mas o que me impressionou é que, ela sendo tão madura, e esperta, tem agido de forma estranha nos últimos dias.

- Como assim? O que ela tem feito?

- Inventando mentiras para os colegas...

- Mentiras? Melody não costuma fazer isso...

- Disse aos colegas que Charlie B. é seu pai. E quando chamei sua atenção, ela continuou sustentando a mentira para mim.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Lembranças das noites quentes de verão