Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 116

Minha filha não era uma mentirosa. Nunca foi.

Eu ri:

- Ela não mentiu. É filha de Charlie B., ou melhor, Charles. Porque este é o nome verdadeiro dele. Ela também é neta de J.R Rockfeller, herdeira da J.R Recording. Mas isso eu ainda não lhe contei. Ela saberá no Natal, quando nos reunirmos com o pai e o restante da família. – Menti para mim mesma.

A professora ficou me olhando, a face ruborizada. Só não tenho certeza se ela estava daquele jeito porque ficou envergonhada de não ter acreditado em Melody ou porque achava que eu era tão mentirosa quanto minha filha.

- Eu... Sinto muito. Achei que ela... Estivesse tentando impressionar os colegas.

- Bem sabemos que Melody não precisa mentir para impressionar... Por si só ela já é uma criança que impressiona a todos.

- Sim... É verdade.

Olhei no relógio e perguntei, a fim de finalizar a porra da conversa:

- Era isso?

- Sim... Obrigada por esclarecer.

- E pode dizer aos coleguinhas dela que Charlie está compondo uma música para ela... Aliás, ela já explicou que Melody vem de Melodia, em homenagem ao tempo que o pai era só um cantor de um bar chamado Cálice Efervescente?

- Não...

- Minha Melody... Sempre tão humilde. Tenha um bom dia, professora.

- Obrigada... E igualmente para você.

Saí sem olhar para trás. Como assim chamando minha filha de mentirosa? A menina falava a verdade. Por que não acreditavam nela?

Eu precisava resolver aquela porra logo.

As três semanas que passaram foi como se eu estivesse de luto. A dor se apossou de mim. Não vi Guilherme, pois ele estava a mil com os preparativos da formatura, já que além de organizador seria também orador da turma.

No sábado à noite eu teria que trabalhar, participando da cerimônia de colação de grau dos alunos de Ensino Médio. No entanto, ver Gui pegar seu diploma seria gratificante. Fazer parte da história dele, assim como de tantos outros alunos que auxiliei, de alguma forma, ou fiz a diferença na vida deles.

Eu partiria no dia seguinte para Noriah Norte, seguindo para a casa de praia dos Rockfeller. Já tinha inclusive comprado as passagens.

E tudo estava acontecendo ao mesmo tempo, quase me enlouquecendo.

Evitei ao máximo mexer no celular, a não ser para fazer ligações. Também evitei televisão ou lugares com muitas pessoas. Não queria ouvir falar do noivado de “el cantante”.

Para a noite de formatura, escolhi um vestido vermelho, não muito justo, de um tecido com bom caimento. Comprei-o especialmente para o evento, portanto não tinha decote. Era bem fechado e comportado. Combinei com sapatos dourados e cabelos lisos e soltos, completando com uma maquiagem caprichada.

Deixei Melody com Yuna, que já estava com parte de seus pertences na nossa casa, que mais parecia uma “zona” novamente, com caixas por todos os lados.

A cerimônia seria no auditório da escola, que estava lindamente decorado para o evento.

Após a colação de grau, os alunos iriam fazer uma festa num salão no centro de Noriah, com direito à banda de rock e traje à rigor.

Seria minha primeira formatura participando como professora. E eu estava feliz que tudo tinha dado certo. Rachel finalmente decidiu dar um tempo com sua ameaças infantis e infundadas. Até porque eu não tinha mais estruturas para lidar com tudo que estava acontecendo ao meu redor.

Estava sentada na mesa principal, sobre o palco, junto com demais professores. Dali consegui ver a mãe de Guilherme, Kelly, junto de um homem e uma mulher mais velha, que imaginei ser a avó dele.

Assim que Guilherme foi chamado para pegar seu diploma, seguindo todo o ritual, tradicional e mais importante momento da colação de grau, as palmas foram intensas. Ele era muito popular entre os colegas, assim como professores.

Aplaudi, sorrindo, feliz por ele e seu grande momento. Sabia que aquele era um grande passo na vida, talvez o maior ponto de transição para se tornar adulto e escolher o que faria da vida profissionalmente.

Enquanto ele cumprimentava todos os professores com aperto de mão, sorria daquela forma pretensiosa que me deixava com o coração a mil. Quando chegou na minha frente, apertamos as mãos e ele ergueu a minha, dando um beijo no dorso, enquanto me encarava seriamente.

Senti meu coração bater descontrolado e um leve tremor pelo corpo. Minhas bochechas ruborizaram e ele seguiu para o próximo professor, apertando a mão, como se nada tivesse acontecido de diferente comigo.

Olhei na direção de Kelly, que não parecia ter se importado muito, ainda aplaudindo o filho e com um sorriso largo no rosto.

Deus, ninguém viu aquilo, não? Será que poderiam perceber que tínhamos dormido juntos dias antes... Só dormido, não tendo feito nada além disso?

Fiquei inquieta interiormente. Ele deu seu pequeno discurso e por sorte não me mencionou nele. Agradeceu unicamente a avó e fiquei confusa pela mãe não ter sido citada.

Seguiu-se a chamada dos alunos, em ordem alfabética. Assim que o último pegou seu diploma e fez seu breve discurso, Guilherme foi chamado de volta ao microfone, onde faria o discurso final, enquanto orador da turma.

Embora eu não tivesse lido o discurso dele anteriormente, imaginava que seria carregado de emoção. E ninguém melhor que Guilherme Bailey para falar sobre o tempo que todos estiveram juntos e pelo que passaram ao longo dos três anos, visto que era o mais bem quisto e também dedicado aluno de toda a turma.

Ele não falou muito. Foi direto e ao mesmo tempo envolvente, deixando todos satisfeitos com sua fala, que tinha um gostinho de quero mais.

Do-Yoon havia sido escolhido paraninfo da turma e pela votação eu fiquei em segundo lugar. Fiquei grata por não ter sido a primeira opção, ou teria que passar a cerimônia toda em evidência e não gostava daquilo. Claro que um dos motivos é que eu tinha minha parcela de culpa ao ter me envolvido com o aluno orador da turma. Por sorte, depois de alguns minutos Guilherme estaria enfim livre do Ensino Médio e da Escola Progresso. E se acontecesse algo entre nós, não estaríamos quebrando nenhuma regra.

Tentei repelir aquele garoto de entrar na minha vida de todas as formas. Mas desde o primeiro momento que o vi, ele me chamou a atenção e eu não podia negar para mim mesma aquilo. No fim, não chegou a acontecer nada sério entre nós. Mas poderia ter acontecido sim. Fui forte e me senti orgulhosa por, depois de anos sem sexo, suportar ser tocada por aquele menino absolutamente lindo e sexy e não transar com ele.

No entanto eu não sabia o que aconteceria de agora em diante. Não havia mais empecilhos. E talvez fosse hora de seguir minha vida, apagando as lembranças de “el cantante”, que já tinha organizado seu futuro.

Nosso reencontro talvez tenha sido somente para fechar o que havíamos começado e não terminado. E sim, o destino me deu uma oportunidade de vê-lo e contar sobre nossa filha. E eu desperdicei... Em nome da minha boceta e uns dois orgasmos.

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