Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 117

- ... E eu gostaria de em nome de todos, agradecer a professora Sabrina por toda dedicação e preocupação que teve conosco, se importando não só com nossa aprendizagem, mas também com o nosso futuro longe da Escola Progresso, quando organizou uma aula falando sobre como era a vida de um estudante Universitário, trazendo inclusive um aluno da Faculdade para nos falar sobre sua rotina e aprendizagens fora do Ensino Médio. Professora, você foi importante para nós. E ficará guardada dentro dos nossos corações... Sem dúvida. – Ele fez um coraçãozinho com os dedos na minha direção, causando-me certa timidez.

Fiquei inquieta na cadeira quando ouvi as palmas e olhares na minha direção. O garoto poderia ter me deixado fora de seu discurso. Mas não, ele não conseguia me deixar fora da sua vida, um minuto sequer.

Não prestei atenção no restante do discurso, que acabou em poucos minutos. Fui a única professora homenageada por ele.

A Diretora Sibila estava a ponto de encerrar o cerimonial quando Rachel Roberts levantou de seu lugar e pediu o microfone.

Claro que todos ficaram confusos e curiosos com a reação da formanda. E eu... Senti medo, muito medo.

- Boa noite a todos os presentes... – ela disse, sorrindo de forma doce – Tentei ser oradora também, mas Gui é muito mais popular do que eu – houve risadas – Mas não podia deixar este momento passar em branco. Até porque, nosso querido colega Gui Bailey também merece ser mencionado, não acham?

- Sim... – Os colegas falaram, olhando na direção de Gui, alguns abraçando-o, esperando pelo discurso da colega e ex namorado do garoto.

- Eu comecei a namorar com Gui aos quatorze anos. Neste meio tempo, tivemos muitas brigas... Algumas foram intensas, outras menos. Mas sempre o amei...

A Diretora tentou tirar o microfone das mãos dela, dizendo em tom baixo:

- Rachel, isso não é momento para declarações de amor. Pode fazer depois.

Ela deu um passo para trás, não disposta a largar o microfone. Percebi que ela estava chorando e fiquei muito abalada.

- A questão é que, nestes quatro anos, nunca deixei de amá-lo... E sabia que não importava o que acontecesse, ele sempre voltaria para os meus braços...

Olhei na direção de Guilherme, que se abaixou um pouco na cadeira, demonstrando insatisfação e vergonha com o discurso da ex.

Os olhares felizes e sorrisos se transformaram em rostos curiosos e tristes. Acho que sabiam de antemão que Rachel faria um escândalo, tentando reaver o namorado.

- E assim como Gui, eu também preciso agradecer à professora Sabrina... Por nossa relação ter acabado de vez... – Ela olhou na minha direção.

Fiz menção de levantar, mas Do-Yoon me impediu, dizendo no meu ouvido:

- Tarde demais. Fugir é pior. Enfrente de cabeça erguida.

Respirei fundo e olhei na direção de Gui, que tentou levantar também, certamente para impedi-la de me expor, mas foi contido pelos colegas, como se tudo aquilo fosse combinado anteriormente... Ou não.

- A dedicação e preocupação da professora Sabrina conosco foi realmente constante... – ela riu – Até demais, na minha opinião. E claro que seus ensinamentos foram além da sala de aula e ela se preocupou com o futuro de alguns fora da Escola Progresso. Mas isso não serviu para todos... Só para o seu escolhido.

Meu coração começou a bater tão forte que eu via meu peito balançando sob o vestido vermelho e a respiração acelerar. O frio na barriga virou constante e eu sentia medo... Muito medo.

- Se ela vai ficar guardada no coração de todos, não sei. Mas no meu, tenho certeza que não. Mas no de Guilherme Bailey, certamente. Afinal, não é sempre que uma professora ensina lições que vão além das fórmulas da matemática.

- Deu! – Sibila tentou tirar o microfone dela, sem sucesso.

- Calma, diretora. Eu posso apostar que a senhora vai adorar saber o que seus professores fazem com os alunos quando a aula acaba...

As luzes se apagaram e o telão ligou com a filmagem do fatídico dia que deixei Guilherme me tocar sob a saia. A garota teve o cuidado, inclusive, de não mostrar as partes íntimas do ex, usando uma tarja preta.

Pensei que ouviria gritos, desaforos, palavras horríveis... Mas não. Sibila desligou o telão da tomada e as luzes do auditório ligaram. E o silêncio foi pior que qualquer coisa naquele momento para mim.

Se eu podia me defender? Não... Eu não tinha defesa. Eu errei... Errei seriamente. E errei também quando não dei ouvidos para Rachel e pensei que ela seria incapaz de me expor daquela forma. Antes eu tivesse acreditado nela e pedido demissão. Eu não estaria tão fodida... Estaria “meio fodida”, como minha relação íntima com Guilherme: transar de roupa, parar na hora H, dormir junto sem tirar a calcinha. Sim, pagaria com meu emprego, meu futuro, a “meia foda” que dei com ele, porque nunca concluímos o que começamos.

Levantei e não disse nada. Saí do meu lugar, andando de forma segura, embora por dentro eu estivesse destruída. Encarnei a antiga Sabrina Rockfeller, que tinha tudo a seus pés, o mundo inteiro num estalar de dedos e nada a abalava, porque ela podia, com dinheiro, resolver qualquer coisa, embora não soubesse absolutamente nada sobre a vida real.

Quando cheguei ao lance de escadas que descia em direção à plateia, encontrei Guilherme na minha frente.

Nos encaramos e eu tive vontade de chorar. Mas não o fiz. Respirei fundo. Ele estendeu a mão na minha direção. Aquilo me deixou completamente emocionada. Ele não usou palavras, mas aquele gesto significava que ele estava ali, comigo, para enfrentar qualquer situação.

Antes que eu pegasse a mão estendida, ainda no palco, vi Kelly e a avó de Guilherme, que até então eu não conhecia pessoalmente. Elas estavam já junto de nós. Ambas eram parecidas e os olhares delas exalavam ódio.

- Como pôde fazer isso com o meu filho? – Kelly foi direta.

- Ela não fez nada comigo. Não ficou claro no vídeo que fui eu que fiz com ela, porra? – Guilherme gritou.

- Ela gostou... Não contestou. Poderia ter dito não. Mas preferiu fechar os olhos e deixá-lo se enfiar nela. Ele é um garoto, sua pervertida.

- Não aconteceu nada... Eu juro. – Falei, tentando me defender.

Ela gargalhou:

- Quer que alguém acredite em você?

- Não aconteceu – Guilherme confirmou – Porque ela não quis, ela não aceitou, pela droga do emprego. Eu sou louco por Sabrina, completamente apaixonado por ela.

- Vai lá, Gui, a garota é sua! – Ouvi o grito de um dos alunos.

Alguns aplausos por parte dos adolescentes, parecendo um final de filme clichê de Ensino Médio americano.

Só que aquele era o filme da minha vida. E eu estava fodida, sem emprego e sustentaria minha filha de que forma?

- Eu vou acabar com você – Kelly continuou – Vou processá-la e terá que vender até a sua filha para pagar o que fez com meu menino.

- Não ponha minha filha nesta história. – Falei em tom alto, com o dedo em riste para ela.

A mãe dela, vó de Guilherme, pegou meu dedo e abaixou-o, me olhando seriamente:

- Você botou o nosso Guilherme nesta história. Se tem filhos, sabe como nos sentimos neste momento.

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