- Estão falando como se Guilherme fosse um mocinho virgem – me irritei – Meu erro foi ter deixado ele fazer o que fez comigo na sala de aula, dentro da escola. Mas seu filho não é nenhum santo... Ele é culpado – olhei na direção de Guilherme – Assim como eu. Ambos fizemos errado.
- Não é culpa dela... Nunca foi. Eu sempre fui atrás... Encontrei até mesmo a filha dela para me aproximar.
- Como assim? – o olhei – Achei... Que tinha sido coincidência...
- Ele é só um garoto. – Kelly argumentou.
- Um garoto de 18 anos. Guilherme não é criança. – Reiterei.
- Não vamos ter esta conversa aqui, Sabrina, definitivamente – Guilherme disse – E nem em outro lugar. Porque não devo satisfações sobre o que faço ou com quem me envolvo – ele olhou para as duas, mãe e avó.
- Gui... – Rachel se aproximou.
- Fique longe de mim – ele gritou – Você é uma maníaca, uma maluca, doente... Eu não aguento mais suas perseguições. Tem noção do que fez? Destruiu a vida de Sabrina. Nunca vou perdoá-la. Jamais vou sequer olhar na sua direção novamente. Fingirei que nunca passou pela minha vida, Rachel. Você foi um erro... O pior erro de toda a minha história.
- Eu... Não fiz por mal... – Ela tentou se defender.
Eu ri, ironicamente. Ela sabia muito bem o que tinha feito e havia anunciado anteriormente seu plano. Me destruiu, em público, da pior forma possível.
Guilherme ergueu a mão em direção a minha, encarando-me:
- Venha comigo... Você não precisa passar por isso. E me perdoe... Pelo que causei na sua vida.
- Ainda pede desculpas? Isso é um absurdo. O que esta mulher fez o que com você, afinal? – Kelly olhou para o filho, furiosa.
Peguei a mão que Guilherme me estendia, enlaçando meus dedos nos dele. Desci os degraus e não olhei na direção de ninguém.
- Arrume minhas coisas – ele disse para a avó – Eu vou embora daquela casa.
- Não! Não pode fazer isso! – Ela ficou em prantos.
- Eu posso fazer o que quiser.
Ele saiu, me puxando junto dele. Segui, sem olhar para trás, me sentindo segura de alguma forma. Guilherme não me deixou. Encarou tudo comigo, fazendo o que estava ao seu alcance para não me deixar tão mal. O garoto era corajoso e eu começava a acreditar que os sentimentos dele por mim eram reais... Tão reais que estava abrindo mão de tudo, inclusive a própria família por mim.
Eu fiz aquilo um dia... Deixei tudo por “el cantante”. E no fim deu tudo errado. E agora ele estava formando outra família. E eu não estava mais incluída na vida dele.
Por que Charles se metia o tempo todo nos meus pensamentos? Antes eu não tinha mais lembranças dele, porque estavam apagadas. Mas agora ele fez novas. E quanto tempo eu demoraria para apagá-las? Mais cinco anos?
Quando deixamos o Ginásio, ainda de mãos dadas, ouvimos Do-Yoon atrás de nós. Virei na direção dele, que estava com a respiração acelerada. Certamente tinha corrido até ali.
- Eu sabia que isso não daria certo. – Ele me disse.
- Me desculpe, Do-Yoon... Você me indicou e eu fiz besteira, como sempre. Me perdoa. – Larguei a mão de Guilherme e abracei meu amigo.
- Eu não me preocupo por mim, Sabrina... E sim por você. – Ele me afastou, encarando-me.
- Eu... Vou tentar ficar bem. E dar a volta por cima. Sou expert nisso...
- As famílias destes alunos vão destruí-la.
- Eu não vou deixar. – Guilherme afirmou.
- Você não poderá contê-los, Guilherme. Virão para cima dela com tudo.
- Farei o que tiver ao meu alcance.
- Pode manipular a sua família, mas não a dos outros alunos.
Guilherme abaixou a cabeça, pensativo.
- A escola certamente vai demiti-la por justa causa. Vão abrir um processo interno e talvez até mesmo pessoal contra você, fora do âmbito escolar. A família de Guilherme não vai deixar assim.
- Eu sou de maior... Tenho 18.
- A imagem de Sabrina já vai estar destruída, independente da sua idade.
- Eu... Sei... – Balancei a cabeça, aturdida.
- Não será mais professora de Matemática em Noriah Sul... Nunca mais. Sabe disso?
- Eu... Acho que sim.
- E o que vai fazer, Sabrina? E Medy?
- Eu... Eu...
- Nós vamos para Noriah Norte. Ela vai encontrar abrigo em sua família. – Disse Guilherme.
Eu ri:
- Abrigo na minha família? Está brincando!
- Eles a puseram para fora um dia porque estava grávida. Houve arrependimento... Sua mãe mesma disse isso. Eles vão protegê-la, Sabrina. E também à Medy.
- Eu não quero a proteção deles...
- Eu estou com você... E sempre estarei. – Guilherme pegou minhas duas mãos, apertando-as contra as dele.
- Vá... Antes que tudo piore. E talvez Guilherme tenha razão... Não sobre ser acolhida pelos Rockfeller, mas uma viagem neste momento seria conveniente, até todos esquecerem o que houve.
- Eu... Vou ver. Preciso ir.
Virei as costas e segui com Guilherme até o carro. Ele me pôs no banco do motorista e nem me dei em conta, de tão nervosa que estava. Quando percebi, ele estava dirigindo o meu carro.
- Você... Tem habilitação? – Perguntei.
- Claro que sim! – Ele sorriu.
Fiquei em silêncio, olhando a estrada à nossa frente, a lua no céu, as estrelas brilhando de forma tímida. Fazia tempo que eu olhava para as estrelas e que elas não eram mais um momento de diversão ou mesmo de fuga. Era como se elas não mais existissem, tamanha turbulência da minha vida.
- Eu nem sei quando foi a última vez que eu olhei as estrelas do céu... E fazer isso me deixava tão feliz. Eu dormia, quando mais jovem, com as cortinas abertas, só para ficar vendo-as, enquanto imaginava mil coisas... – sorri, lembrando do passado – E agora vejo que elas ainda estão aqui, no mesmo lugar... Não me deixaram... Mas eu as deixei. Eu preciso recuperar meu brilho... Pegá-lo de volta, lá no passado.
- Estou com você, Sabrina. E me desculpe...
- Você não é culpado... Eu sou culpada.
- Não... – ele pôs a mão sobre a minha perna – Você me avisou e eu não quis ouvir. Fui o responsável pela destruição da sua vida.
- Não... – Balancei a cabeça, confusa e não querendo que ele se culpasse – Eu poderia ter dito não... Mas não o fiz. Porque no fundo... Eu queria. – Admiti.
Ele me olhou, tentando desvendar meus pensamentos.
Peguei o meu celular e disquei um número gravado.
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