Os olhos verdes dele encontraram os meus, confusos, desesperados. Os lábios chegaram a tremer.
- Charles, nós precisamos ter calma. Não vamos dizer a ninguém sobre nós... Ou pelo menos que nos encontramos, finalmente, e estamos juntos. Precisamos saber quem está por trás da sua prisão. E punir os culpados.
- Não vou aguentar ficar longe de você, “garotinha”. Não agora que a encontrei... E tem nossa filha...
Olhamos para Melody deitada próximo da árvore, num sono tranquilo e eu poderia apostar que feliz. Ajoelhei-me de frente para ele:
- Acha que eu consigo ficar longe de você, depois de tanto tempo?
- Eu espero que não... Não posso ficar sem tocá-la... De forma alguma... – Os dedos dele alisaram meu rosto.
- Vamos fingir que não estamos juntos. E ganhar tempo.
- Mas Mariane sabe... Se você contou para ela, não há como fingir...
- Gui também sabe.
- Meu Deus, Sabrina... Como você foi se envolver com o meu filho, porra?
- Foram só uns beijinhos. – Tentei deixar tudo mais leve.
- E você não tem vergonha de dizer isso? Acha que eu me sinto como?
- Aposto que bem melhor do que eu imaginando você enfiando seu pau na minha irmã.
Ele relaxou o corpo e deitou no chão, com as costas na terra, começando a rir.
- Isso não é engraçado, “el cantante”.
- Não? Tem noção do que a vida fez com a gente, Sabrina?
- Tenho... – Comecei a rir também, deitando ao lado dele.
Viramos nossos rostos um para o outro, parecendo loucos, deitados sobre o chão molhado, alguns pingos de chuva caindo sobre nós, completamente encharcados.
- Sabe que se falarmos sobre isso, nosso destino é um Hospital Psiquiátrico não é mesmo? – Ele disse.
Assenti, com a cabeça, tentando controlar o riso.
- Porque vamos estar todos juntos à mesa, na ceia de Natal... Sendo que dormi com a sua irmã... E você “deu uns pegas” no meu garoto.
Não consegui mais me conter e comecei a gargalhar.
- Sua louca... Isso é estranho pra caralho.
- Pelo menos... Você não dormiu com ela um dia antes da cerimônia de casamento? – Tentei me conformar, as lágrimas escorrendo de tanto que eu ria com a hipótese.
- E devo dar graças por meu filho não ter “fodido” você?
- Neste caso, “el cantante”, eu fiquei no prejuízo. Talvez eu possa mudar os fatos... Esta noite. – Provoquei, sentando sobre ele.
As mãos de Charles foram diretamente para minha bunda, que apertou com força enquanto mordia o próprio lábio:
- Esta noite a única pessoa que estará no seu quarto sou eu, “garotinha”. E em todas as outras... Velarei seu sono, serei seu vigia. Entenda que a partir de agora, jamais sairá debaixo dos meus olhos, amor da minha vida. E pouco me importa o que houve conosco neste meio tempo... Porque eu só amo uma pessoa e é você. O resto não existe mais, entende?
- Não vai mais dormir com ela?
- Minha vontade era pegar minhas coisas, você e nossa filha e ir embora daqui imediatamente.
- Não...
- Ok, vou tentar ter paciência e seguir em frente, como é do seu desejo. Mas saiba que é difícil ter sangue frio quando o meu ferve... Quando está próximo de você... – As mãos entraram pela minha blusa molhada, tocando as costas com suavidade.
- E Gui? Você parece não se importar muito com ele...
- O garoto não me aceita... Nunca me deixou sequer explicar nada. Kelly e a velha rabugenta entraram na mente dele. É um fraco... Sei que é meu filho e tenho sentimentos por ele. Mas Guilherme precisa crescer e amadurecer. E não vai ser comigo implorando o perdão dele que isso vai acontecer. Porque simplesmente cansei de correr atrás e não receber sequer uma chance. Ele não é mais uma criança. Deveria pensar por si próprio e não se deixar manipular pelas mentes perversas daquelas duas.
- Eu conheci Kelly.
- Chegou a tanto o relacionamento de vocês dois? Chegou a convidar a “sogra” para passar o Natal em família?
Comecei a rir novamente:
- Não... Não convidei. Porque de cara ela não gostou de mim.
- Kelly não gosta de ninguém a não ser dela mesma. Acha que ela sente algo por Guilherme? Abandonou-o quando ele era um bebê... E foi viver a vida dela.
- Ele sabe que morou com você?
- Ele não lembra... E a velha rabugenta não deve ter contado.
- Por que você não conta?
- Acha que ele me deixa ter uma conversa de mais de três minutos com ele? Me acionou judicialmente, querendo dinheiro...
- O advogado dele... É meu ex-noivo.
Ele ficou me olhando um tempo, pensativo. Depois pontuou:
- O idiota do Monaghan foi quem dormiu com a vagabunda da Mariane?
- Sim... Neste caso, sou a corna... Duas vezes.
- Uma: eu não traí você, Sabrina. Não sabia quem ela era, assim como você não sabia sobre Gui...
Ele moveu-se, me pondo no chão e sentando sobre mim, invertendo nossas posições.
- Eu jamais vou trair você, pois é a mulher da minha vida...
- Vai ser só meu de agora em diante? – Retirei a camisa dele para fora da calça, tocando sua barriga tonificada e perfeita, sentindo minha intimidade encharcar-se.
- Eu sempre fui seu, meu amor. E a parte da vingança contra ela, pode deixar comigo.
Arqueei a sobrancelha:
- Jura?
- E não falo sobre a parte do que ela pode ter feito a mim... Mas pelo que fez a você, meu amor. – ele desnudou minha barriga, trilhando com o dedo do umbigo até minha calcinha, que aparecia sob o cós do jeans.
- Precisamos ser firmes... Não importa o que aconteça, todos tem que pensar que não estamos juntos. Que desistimos disso... Ao menos quem sabe sobre nosso passado...
- Concordo... Desde que não haja qualquer tipo de toque no parceiro.
- Beijo e sexo. – Fui mais específica.
- Qualquer toque.
- Charles, isso é sério. Precisamos saber quem foi o responsável por tudo isso.
- Sinceramente, foi horrível, mas já passou.
- Quer dizer que não tem interesse em saber o que está por trás desta mentirada toda? Você ficou preso quatro anos injustamente.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Lembranças das noites quentes de verão