- Precisamos? – Me fiz de desentendida.
- Você sabe que sim. – Ele foi sério.
- Quer... Entrar no quarto que lhe pertence e termos nossa conversa aqui? – Debochei, não conseguindo me conter.
- Melhor não... Melody pode nos escutar.
- O que tem para me falar que minha filha não pode escutar? Pretende me falar palavrões? Algo que me ofenda... Ou ofenda à ela? Ou quem sabe alguma coisa relativa ao pai dela?
- Sabrina, não torne as coisas mais difíceis. Estou tentando fazer tudo dar certo.
- Jura?
- Sabrina, eu fico com ela, não se preocupe. – Yuna me tranquilizou.
Me vi fechando a porta e o seguindo pelo corredor estreito e pouco iluminado em função da fraca luz natural da rua.
Entramos na pequena sala que tinha no andar superior e ele fechou a porta. Em anos, quase nada tinha mudado naquela casa. E aquele lugar, particularmente, tinha cheiro de coisa antiga e ambiente por muito tempo fechado.
Os sofás brancos, depois de tanto tempo, tinham uma coloração mais para bege. Eram antiquados e fora de moda. Várias coisas naquela casa me levavam a crer que realmente meu pai estava falindo, quebrando o nome Rockfeller e destruindo nossa herança.
Sentei-me, sem me preocupar muito com o que ele tinha para dizer. J.R sentou no sofá de frente para mim. O que nos separava era um espaço de pouco mais de dois metros, com uma mesa de centro em madeira escura ao meio, coberta de pó.
- Por que não trouxe Min-ji para cá? – Perguntei.
- Achei que seria bom ela descansar nas festas de final de ano.
- Nunca fez isso antes. Por que agora?
- Ela merecia. E nunca é tarde para mudarmos os pensamentos.
- Mas você sabia que eu viria...
- Achei que ela pudesse preferir ficar com os filhos. Eu não tinha como saber que você traria junto a filha dela.
Encarei-o e fui direta:
- O que você quer?
- Minha filha... Eu... Sinto muito pelo que aconteceu no passado.
- E eu sinto muito que tenha se arrependido tão tarde.
- Não foi tão tarde... Foram só cinco anos.
- Só? Não... Não foram “só” cinco anos. Foram longos cinco anos.
- Que para você não foram tão ruins. Sabrina cresceu e amadureceu. – Sorriu, sem que eu conseguisse identificar se era em tom de deboche ou não.
- E você não foi responsável por isso. Deste amadurecimento “obrigatório”, aos dezoito anos, com uma criança na barriga, nasceu uma mulher que não tolera qualquer coisa. E não perdoa facilmente. Porque ela teve que crescer sozinha.
- Filha...
- Não me chame de filha, por favor. Hoje eu tenho uma filha e sei sobre sentimentos. E entenda jamais seria capaz de fazer para Melody o que você fez comigo.
- Foi para o seu bem.
- Foi? Tirá-la da convivência com o pai foi para o meu bem? Querer que minha filha fosse abortada foi para o bem? O seu? O meu? O dela? De quem, afinal?
Ele respirou fundo:
- Sinto muito.
- Eu também... Por tudo que você me causou.
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