Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 140

Mariane não disse nada, parecendo não entender a deixa.

- Com tantos homens, por que escolher os meus?

- Ninguém é proprietário de ninguém nesta vida, Sabrina. Achei que você já tinha percebido isso.

- Existe uma coisa que se chama amor... Você conhece?

- Claro – ela me olhou, seriamente – Eu o amo. Mas nunca tive sentimentos por Colin. Foi só uma transa de uma noite.

- E tinha que ser justo na noite antes do meu casamento? Eu gostava de Colin... Nos dávamos bem.

- Deveria ter casado com ele. Eu sugeri isso, inclusive.

- Eu não sou mais a menina ingênua que você conheceu e traiu, da pior forma possível.

- E eu não estou disposta a abrir mão de Charles por você.

Peguei o cigarro da mão dela e joguei na areia, pisoteando:

- Eu lhe contei toda minha verdade naquele dia. Estava sendo posta para fora da nossa casa com um filho no ventre. E você teve a capacidade de ir atrás do homem que eu amava, mesmo sabendo que eu estava grávida dele... E... – Engoli a saliva, tentando não chorar, incapaz de terminar a frase, tamanho asco que senti.

Mariane levantou e disse:

- Ele não vai me deixar. Me deve muito... A vida praticamente. Eu fiz dele Charlie B. Assim como o fiz brilhar, apago a luz dele em segundos e o destruo para sempre.

- Imagino que sim. Você fez bem a lição de J.R Rockfeller, sobre decidir a vida das pessoas e se achar dona delas.

- Sabrina, eu acredito que Charles não ficará muito contente ao saber que você foi demitida de seu emprego por transar com o filho dele.

Senti meu coração bater mais forte. E não foi por medo do Charles pensaria, mas pelo que “ela” sabia sobre mim o tempo que estive fora:

- Como assim? – Perguntei.

- Com direito a telão, para comprovar a putaria. Eu não quero filhos, mas se fosse mãe de Guilherme Bailey, jamais aceitaria o que você fez.

- Não quer filhos? – ri, ironicamente – Não tem sequer capacidade para ser mãe. Você é um monstro.

- Para que ter filhos? Charles já tem dois: um casal. Poderei receber as crianças nos finais de semana... E prometerei a ele que não vou deixar o filho lindo dele “me comer”.

Tentei estapeá-la, mas Mariane foi mais rápida, segurando minha mão:

- Não brinque comigo. – Ameaçou-me.

- Isso não é uma brincadeira. Tampouco uma competição. Quero você longe da minha filha... E de Gui.

- Quanta preocupação com os filhos de Charles. Sei que você cuida muito bem deles... Até demais, não é mesmo?

- Você sabe que não é um anel no seu dedo que vai fazer Charles gostar de você. Isso nunca vai acontecer.

- Por que você veio, afinal?

- Para tomar o que é meu por direito: a empresa, a casa e o seu futuro noivo. – Sorri e saí, fingindo segurança quando na verdade estava morrendo por dentro.

Quando passei pela sala, Charles estava sozinho. Assim que me viu, levantou:

- Eu... Tentei levá-la para o quarto. Mas Gui a pegou. Ela está dormindo... Como um anjo.

- Como está sua situação com ele?

- Péssima. Ele não deixa eu me aproximar. E o fato de ter você no meio dificulta tudo ainda mais.

- Aconteça o que acontecer, não esqueça do nosso plano, por favor. – Olhei para os lados, para me certificar de que ninguém nos observava.

- Não vou esquecer. Embora... Seja muito difícil. Tanto por você quanto por Medy. – Os olhos verdes pousaram sobre os meus, docemente.

Ele vestia um conjunto confortável de moletom claro e estava diferente do estilo de sempre: calças justas e jaquetas pretas. Era lindo de qualquer forma.

- Eu sinto seus olhos... Me engolirem, garotinha. – Falou baixo.

- Juro que eu gostaria muito de engolir outra coisa. – Sorri e dei uma corridinha até a escada.

- Garotinha levada... – Ele riu e deu grandes passos na minha direção enquanto eu subi as escadas rapidamente, tentando escapar.

- Charles? – Mariane o chamou.

Ficamos imóveis. Imaginei que agora eles subiriam e dormiriam na mesma cama e aquilo fez meu sangue ferver de ódio. Respirei fundo e disse:

- Boa noite, irmã. Boa noite, cunhado. – Pisquei na direção dele.

Ouvi Mariane dizendo:

- Sente aqui. Precisamos conversar.

Ele não disse nada. Mas imagino que tenha feito o que ela pediu.

Pensei em escutar o que falariam, mas não. Talvez fosse pior. O que os olhos não veem o coração não sente.

Assim que acessei o corredor, vi Guilherme parado na porta do meu quarto.

- Obrigada por botar Medy na cama.

- Falou com ela?

- Falou com ele?

- Não há o que ser dito entre nós dois.

- Há muito a ser dito, Gui. Tanto por ele quanto por você.

- Eu sinceramente não quero discutir isso com você, Sabrina.

- Ok... E eu falei com ela. Mas não o que deveria.

- Pelo visto seu “el cantante” não é tão melhor que Colin Monaghan.

Claro que tinha ciúme e ressentimento nas palavras de Guilherme. E eu deveria ter ciúme também, mas confiava tanto no amor de Charles por mim que me sentia segura, quanto à qualquer mulher que cruzasse o seu caminho. Mariane o manipulou e usou da sua sensibilidade, lhe dando fama e apoio quando ele estava completamente sozinho e destruído. Ele era grato. Nada mais. Aceitou se envolver com ela por insistência e gratidão.

- Boa noite, Gui.

Tentei passar por ele, que me pegou pelos ombros, pondo-me contra a porta, ficando com o corpo grudado ao meu.

- Gui... Não...

Ele tentou em beijar. Eu não queria ser grossa e sabia que havia sido uma péssima pessoa quando o aceitei e agora simplesmente o rejeitava porque o homem que eu amava tinha voltado. A questão é que o pai dele era o amor da minha vida e qualquer envolvimento entre nós dois tornava tudo ainda mais complicado e doloroso.

Virei o rosto para o lado e ele tentou encontrar a minha boca, mesmo eu negando, a boca selada, os lábios comprimidos.

Quando percebi, Charles estava tirando-o de cima de mim, puxando-o pela gola da camisa, deixando-nos surpresos e assustados.

- Não encoste nela. – Proferiu, em tom ameaçador ao filho.

Guilherme riu, debochadamente:

- Sinto muito, tarde demais, “papai”.

- Charles, por favor... – Pedi, tentando contê-lo.

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