Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 141

- Não vou bater nele... Não se preocupe. Embora devesse apanhar uma surra para aprender a ser homem.

- Como você? – O garoto provocou, ainda de forma sarcástica.

- Como eu. Jamais toquei uma mulher sem que ela quisesse.

- Minha mãe era uma menina quando você a engravidou.

Charles soltou-o, dando um passo para trás, os olhos ficando tempestuosos:

- Eu tinha dezesseis anos, porra. Eu também era uma criança.

- Mas sabia como fazer crianças.

- Tanto quanto sua mãe. Éramos adolescentes... Nos gostávamos. E chegamos a tentar criar você juntos, mesmo em casa separadas.

- Nada do que vem de você é verdade.

- Nunca me deu uma chance de lhe dizer a minha verdade.

- Charles, por favor. O adulto aqui é você. Vamos encerrar isso. – Pedi.

- Está me chamando de criança agora, Sabrina?

- Não, Gui. Só estou tentando explicar-lhes que aqui não é hora nem lugar para discussões. Já é tarde e...

A porta se abriu e Melody apareceu, com os cabelos amassados e os olhinhos quase fechados. Olhou para nós e levantou os braços na minha direção, pedindo colo.

Mariane entrou no corredor, vindo na nossa direção. Não faltava mais nada.

- Eu... Estou com sono. – Melody deitou no meu ombro.

Mariane simplesmente passou os braços em torno de Charles e o levou para o quarto, trancando a porta com a chave.

No momento que ouvi o som da chave na fechadura, meu coração ficou apertado. Me vi olhando para a porta, morrendo de ciúme e imaginando o que poderia acontecer ali dentro.

- Acha que ele nunca dormiu com ela? – Gui me perguntou.

- Respeite a minha filha. – Falei, entrando no meu quarto e fechando a porta.

Pus Melody na cama e deitei ao lado dela, tentando me acalmar. Não sei o que me deixava pior: Gui tentar me beijar a força, como um moleque, ou Charles sozinho com minha irmã no quarto. Não pensei que aquilo fosse mexer tanto comigo.

- Eu quero água. – Melody disse, ainda sonolenta, sentando na cama.

Fui até o aparador e pus água da jarra no copo, entregando-lhe.

Ela bebeu tudo e devolveu o copo vazio:

- Não vá fazer xixi na cama. – Ri.

- Não... – Ela deitou de novo.

Eu deitei no travesseiro, ao lado dela e a cutuquei com meu dedo, chamando sua atenção:

- Estive pensando, docinho... Que talvez seu pai deveria cantar para você dormir.

- Mas... Ele cantou várias músicas para mim... – Ela virou para o outro lado.

- Mas teria que ser só você e ele... E uma música para dormir... Não das que ele já tenha escrito.

Ela sentou na cama num salto:

- Acha que ele faria isso?

- Eu tenho certeza que ficaria feliz. Acho que poderia fingir que é uma fã incontrolável... Ou algo do tipo. Afinal, temos o nosso segredinho. E a tia Mariane não pode saber.

- Eu não gosto dela.

- Vou te contar outro segredo: eu também não.

Nós duas começamos a rir.

- Por que papai namora ela?

- É tudo fingimento... Lembra?

- Eu acho que ela gosta do meu papai. Como Gui gosta de você.

- Isso eu também acho. Mas papai é nosso.

- Sim. – Ela pôs os braços para cima, achando engraçado e levantando.

- Onde vai? – Perguntei ao vê-la se dirigindo para a porta.

- Chamar o meu papai.

Vibrei internamente. Melody acabaria com Mariane. O sentimento de posse dela com o pai era visível. Eu só dei uma “empurradinha”.

Fiquei atrás da porta, ouvindo-a bater na porta do quarto do pai. Não demorou muito para Charles abri-la:

- Medy?

- Charlie B., pode cantar uma música para eu dormir? – Ela falou com voz doce, daquelas que ninguém conseguia negar, principalmente o papai babão.

- Claro que sim, meu anjinho.

- Sabe que horas são? – Mariane perguntou-lhe.

- Não importa que horas são... É uma fã me requisitando. E você sabe o quanto sou dedicado com as fãs. – Ele disse, pegando Melody no colo.

- Isso é sério? – Ela perguntou, furiosa.

- Podemos entrar no seu quarto, será? – Charles perguntou.

- Sim, na minha caminha. – Melody exigiu.

Corri para o banheiro, vendo os movimentos deles em direção ao quarto. Fechei a porta e liguei o chuveiro. Talvez devesse mesmo tomar um banho. Retirei a roupa e fui para baixo da água. Regulei na temperatura gelada. Não conseguia ouvi-los dali, mas imaginava que “el cantante” já estava cantando para a filha, como ela tanto sonhou, por anos. E eu prometi a mim mesma que não iria chorar. Nós duas merecíamos aquilo. Foi muito tempo esperando por ele nas nossas vidas.

Não foi proposital, mas não havia roupas limpas no banheiro, porque o banho não foi planejado. Enrolei-me numa toalha e saí, com os cabelos úmidos, depois de ter borrifado um pouco do meu perfume favorito no colo.

Abri a porta e dei de cara com Charles cantando para Melody, sentado na nossa cama.

- Eu não acredito nisso!

Vi a voz de Mariane sentada sobre uma cadeira, próxima da porta que dava para a sacada.

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