Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 148

- Do que você está falando? – Perguntei à minha mãe.

- Da forma como vocês dois se olham... Como se conhecessem um ao outro por uma vida inteira... – Ela acompanhou meu olhar para dentro do mar, junto de Charles e Melody.

- Eu não estou entendendo... Onde quer chegar. – Fiquei nervosa.

- Pode continuar fingindo que não me entende... Eu mesma fico na dúvida se entendo tudo às vezes. Sei que há pontas soltas para todos os lados... E todas levam à Melody.

A olhei, o rosto sereno, falando de um jeito meigo. Eu creio que já fui como ela um dia, antes de ser destroçada, ainda grávida, e jogada para fora de casa. Satisfeita com o que tinha e achando que era feliz porque usufruía do dinheiro de uma forma fútil e nada me faltava. Mal sabia que me faltava uma vida de verdade.

Hoje eu não me contentava com pouco. E não me referia à dinheiro. A nova Sabrina Rockfeller queria ser feliz, por inteiro. E esperou muito tempo por este dia. E não deixaria nada intervir no seu momento.

- Nesta parte tem razão: todos os pontos levam à Melody. – Confirmei.

- Não se preocupa com a proximidade dos dois?

- Melody e Charlie B.?

- Ou Charles e Mariane? – Ela arqueou a sobrancelha, sem me olhar.

- Bem, neste caso, não me preocupo com a proximidade de Charles e Melody. – Respondi, enquanto observava Charles sem largar a filha, com Mariane tentando participar do momento dos dois, ainda sem ser aceita.

Calissa suspirou:

- Espero que estejam todos vivos até o ano novo.

Eu ri e a abracei:

- Pelo menos os que merecem, não é mesmo?

Ela arregalou os olhos:

- Não brinque com isso.

- Pior que não estou brincando, mamãe. – Dei-lhe um beijo e voltei para minha cadeira, pondo meus óculos escuros e sentando de frente para o mar.

- Quando pretende ir para a J.R Recording? – J.R me perguntou.

- Assim que iniciarmos o novo ano. – Me limitei a responder, sem olhá-lo.

Eu realmente não queria conversar com meu pai. Preferia ficar calada, observando os dois amores da minha vida, enfim juntos... E a mulher que destruiu cinco anos da minha vida tentando fazer parte daquele momento ao qual não pertencia.

Eu sabia que a vingança, como sempre foi dito, era um prato que se comia frio. Acredito que mais de cinco anos foi tempo suficiente para esfriar o prato... Por isso rezava para ter coragem e não estragar tudo ao confrontar a minha irmã e jogar-lhe na cara todas as minhas acusações contra ela. Eu precisava de provas.

Não deixei Melody ficar muito tempo na água e a fiz sair, mesmo sob os protestos dela e Charles. Realmente achei que a água estava gelada para ela, que não era acostumada a banhos sequer de piscina. Foi uma criança criada dentro de casa e tendo o parque como único espaço ao ar livre.

O almoço foi tranquilo, dentro do possível. Melody, cansada demais do banho de mar, acabou dormindo antes de comer.

Assim que saímos da mesa, vi Guilherme entrando com Yuna pela porta da frente.

- Por que demoraram tanto? – Cobrei Yuna.

- O lugar era longe daqui... E o garoto é rápido. – Ela alegou.

- O que deu em você, Gui?

- O que deu em mim? Você dormiu com ele, porra! – Ele praticamente gritou.

Fui puxando-o pelo braço para fora da casa, temendo que ele abrisse a boca para todo mundo.

Levei-o até a piscina e fiquei de pé, enquanto ele seguia me encarando, o semblante de raiva.

- O que você está dizendo?

- Que você dormiu com Charles esta noite. Ou vai me dizer que não?

- Não... Não... – Tentei arrumar argumentos, mas não conseguia pensar em nada, temendo que ele tivesse visto o horário que Charles entrou e saiu meu quarto.

- Tudo isso é uma vingança contra sua irmã? E eu fiz parte desta palhaçada?

- Você pediu para vir junto...

- Não me passou pela cabeça que ele estaria aqui.

- E acha que passou pela minha? Eu procurei este homem por anos, entende?

- E sabe onde ele esteve?

- Você sabe? – Questionei.

- Preso.

Senti meu coração acelerar. Ele sabia a verdade. Restava saber quais das verdades ele sabia: a verdadeira, contada por Charles, ou outra, contada por qualquer pessoa que não sabia nada sobre “el cantante”.

Vi um carro saindo da garagem e tomando a estrada morro acima, sem me importar muito.

- Sim, eu sei. E por minha culpa. – Falei.

- Sua culpa? Foi você a garota que ele estuprou?

- Ele não estuprou ninguém, Gui.

- Como você consegue ser tão cega?

- Como você consegue ser tão frio? Eu o ouvi falar de você há anos atrás... E nós mal nos conhecíamos. Charles me contou sobre a luta para reaver sua guarda. Quando fui procurá-lo, dias depois, ele havia ido a Noriah Norte por conta de uma audiência... Ainda por você.

- Ele não é como você pensa.

- Não me faça pensar que é o garoto mimado que também julguei sem conhecer, há anos atrás... Como um rebelde sem causa, que gostava de chamar a atenção.

- Quem lhe disse isso?

- Boatos... Você não adora dar ouvidos a eles? Será que eu deveria fazer isso também?

- Ele ficou na cadeia...

- Injustamente.

- Não há diálogo com você.

- Gui...

Mariane abriu a porta e veio andando rapidamente na minha direção. Me fuzilou com os olhos castanhos enquanto empunhava o dedo indicador na minha direção:

- Charles foi embora... E tudo por sua culpa.

- Minha culpa? Como assim ele foi embora? – Fiquei confusa.

- Pegou meu carro, a mochila e se foi, sem sequer me avisar. Ele fugiu de você... E da cilada que armou para ele.

- Não me acuse com base no que você faz.

Guilherme riu:

- Típico dele: fugir quando se sente acuado. Vai continuar a defendê-lo? Ele a deixou, mais uma vez.

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