- Do que você está falando? – Perguntei à minha mãe.
- Da forma como vocês dois se olham... Como se conhecessem um ao outro por uma vida inteira... – Ela acompanhou meu olhar para dentro do mar, junto de Charles e Melody.
- Eu não estou entendendo... Onde quer chegar. – Fiquei nervosa.
- Pode continuar fingindo que não me entende... Eu mesma fico na dúvida se entendo tudo às vezes. Sei que há pontas soltas para todos os lados... E todas levam à Melody.
A olhei, o rosto sereno, falando de um jeito meigo. Eu creio que já fui como ela um dia, antes de ser destroçada, ainda grávida, e jogada para fora de casa. Satisfeita com o que tinha e achando que era feliz porque usufruía do dinheiro de uma forma fútil e nada me faltava. Mal sabia que me faltava uma vida de verdade.
Hoje eu não me contentava com pouco. E não me referia à dinheiro. A nova Sabrina Rockfeller queria ser feliz, por inteiro. E esperou muito tempo por este dia. E não deixaria nada intervir no seu momento.
- Nesta parte tem razão: todos os pontos levam à Melody. – Confirmei.
- Não se preocupa com a proximidade dos dois?
- Melody e Charlie B.?
- Ou Charles e Mariane? – Ela arqueou a sobrancelha, sem me olhar.
- Bem, neste caso, não me preocupo com a proximidade de Charles e Melody. – Respondi, enquanto observava Charles sem largar a filha, com Mariane tentando participar do momento dos dois, ainda sem ser aceita.
Calissa suspirou:
- Espero que estejam todos vivos até o ano novo.
Eu ri e a abracei:
- Pelo menos os que merecem, não é mesmo?
Ela arregalou os olhos:
- Não brinque com isso.
- Pior que não estou brincando, mamãe. – Dei-lhe um beijo e voltei para minha cadeira, pondo meus óculos escuros e sentando de frente para o mar.
- Quando pretende ir para a J.R Recording? – J.R me perguntou.
- Assim que iniciarmos o novo ano. – Me limitei a responder, sem olhá-lo.
Eu realmente não queria conversar com meu pai. Preferia ficar calada, observando os dois amores da minha vida, enfim juntos... E a mulher que destruiu cinco anos da minha vida tentando fazer parte daquele momento ao qual não pertencia.
Eu sabia que a vingança, como sempre foi dito, era um prato que se comia frio. Acredito que mais de cinco anos foi tempo suficiente para esfriar o prato... Por isso rezava para ter coragem e não estragar tudo ao confrontar a minha irmã e jogar-lhe na cara todas as minhas acusações contra ela. Eu precisava de provas.
Não deixei Melody ficar muito tempo na água e a fiz sair, mesmo sob os protestos dela e Charles. Realmente achei que a água estava gelada para ela, que não era acostumada a banhos sequer de piscina. Foi uma criança criada dentro de casa e tendo o parque como único espaço ao ar livre.
O almoço foi tranquilo, dentro do possível. Melody, cansada demais do banho de mar, acabou dormindo antes de comer.
Assim que saímos da mesa, vi Guilherme entrando com Yuna pela porta da frente.
- Por que demoraram tanto? – Cobrei Yuna.
- O lugar era longe daqui... E o garoto é rápido. – Ela alegou.
- O que deu em você, Gui?
- O que deu em mim? Você dormiu com ele, porra! – Ele praticamente gritou.
Fui puxando-o pelo braço para fora da casa, temendo que ele abrisse a boca para todo mundo.
Levei-o até a piscina e fiquei de pé, enquanto ele seguia me encarando, o semblante de raiva.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Lembranças das noites quentes de verão