Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 150

- Às vezes me parece que tudo é um sonho... E vou acordar amanhã e Charles não vai mais estar conosco.

- Você merece isso, Sabrina.

- Eu sei... – Comecei a rir.

- E o que vai fazer com Rachel?

- Vou abrir um processo contra ela ou a porra da família. Sei que meu nome não vai sair da lama, mas o dela vai entrar junto. Menina mimada e egoísta.

- O que deu em você, afinal? Como deixou o garoto fazer aquilo na sala de aula?

- Isso foi resultado de uma mulher há mais de cinco anos sem sexo... Só isso.

Ela riu:

- Só faltou subir as paredes?

- Acho que subi algumas vezes... Literalmente.

Melody usou um de seus vestidos rodados para a noite de Natal. Ela amava se vestir bem e receber elogios. Assim como eu, detestava prender os cabelos. O rostinho estava levemente queimado do sol. Pus um hidratante infantil específico para região do rosto, que a melhor pediatra do mundo, doutora Yuna, havia nos indicado.

Escolhi um vestido vermelho para mim, pois se não usasse esta cor Melody teria um ataque do coração, já que representava, na cabeça dela, Papai Noel e o Natal. Por cima dele fiz questão de usar algo que sempre esteve comigo, por muitos anos: a jaqueta de couro que recebi de um certo cantor, para me proteger do frio e da chuva.

- A jaqueta do papai! – Melody agradou-se quando viu.

- Acha que ele vai gostar?

Os olhinhos verdes abriram-se ainda mais:

- Sim... – O sorriso largo veio junto da afirmação.

Descemos próximo das oito horas, conforme havia sido combinado o encontro na sala principal.

Todos os olhares se puseram em nós duas enquanto descíamos as escadas. Ao mesmo momento em que a porta se abriu e Charles entrou, paralisado, nos encarando, com vários pacotes de presentes nas mãos.

Melody parou e olhou para o pai. Fiquei amedrontada da reação dela. Mas o que fez foi pedir-me colo.

Assim que a peguei, ela disse no meu ouvido:

- Acho que o papai roubou os presentes do Noel.

Comecei a rir:

- Acha mesmo? Bem, o seu presente está ali... – não consegui deixar de olhar para ele – Juntos dos outros presentes.

Sim, pois só faltava ele estar embrulhado na árvore de Natal. O amor das nossas vidas era tão lindo e perfeito. E Papai Noel existia... Ou nossa Medy não estaria frente a frente com o homem que esperamos por tantos anos.

Assim que cheguei ao último degrau, ele estava na minha frente, com os braços erguidos na direção da nossa filha, falando baixinho:

- Não deve pegá-la...

Melody deu os braços para ele, enquanto todos nos observavam. Ninguém ouviu o que ele me disse, mas era impossível não perceber o que rolava entre nós três. Para mim era perceptível o sentimento intenso que nos unia.

Alguns antepastos foram servidos ali, junto de bebidas. Claro que o som de fundo eram músicas do nosso cantor favorito, em volume baixo.

Eu poderia dizer que era um momento divertido e cheio de felicidade. Mas não. Era estranho... Muito estranho.

Yuna estava completamente deslocada. Meus pais sequer se falavam entre si, se preocupando apenas com Melody e focados em tirá-la dos braços de “el cantante”, que por sua vez parecia não querer seguir nosso combinado de fingir que não éramos uma família. Guilherme observador, retirado dos demais. Mariane tentando a todo custo as atenções do “namorado”, competindo com a filha dele.

E eu? Bem, me perguntei: o que estou fazendo aqui?

Me deu vontade de pegar minha filha, meu homem e fugir daquele lugar, para nunca mais voltar.

No entanto, enquanto o olhava, ele virou na minha direção, observando-me, com um sorriso no canto dos lábios. Meu coração quase saltou para fora do peito, praticamente transpondo-me para outra dimensão. Estávamos separados, mas nossos corações unidos. E nada nem ninguém poderia impedir aquilo... Nunca mais.

Charles estava vindo na minha direção quando Mariane pôs-se na frente dele:

- Espero que meu presente esteja ali... Junto dos demais. – Sorriu.

- Claro, querida! – Os olhos voltaram para mim, sem disfarçar.

Ela olhou na minha direção também, a taça de Champagne na mão, o vestido tomara que caia, longo, mostrando cada curva do seu corpo.

- Tia, você pode me pegar no colo e mostrar-me qual presente comprou para mim? – Ouvi Melody olhando para cima, dando os braços para minha irmã.

Mariane olhou para Charles, que ficou sério, esperando uma reação dela com relação à menina. Em seguida percebeu que estava sendo observada por todos.

Praticamente obrigada, pegou Melody no colo, reclamando:

- Você é muito pesada. Tem certeza de que só tem cinco anos?

- Sim, cinco anos. – Melody confirmou.

- Você tem certa semelhança com o ex noivo da sua mãe, sabia?

Ela virou as costas com minha filha no colo e tive vontade de gritar ao mundo o quanto aquela mulher era uma vagabunda e que queria tudo que era meu, sem ao menos uma justificativa.

Cheguei a dar um passo, decidida, quando vi Melody tentando piscar, o queixo descansando no ombro da tia, fazendo meu coração quase parar.

Ela havia planejado aquilo, para que o pai pudesse chegar até mim. Deus, até eu mesma às vezes duvidava que minha filha era uma criança de cinco anos, tamanha esperteza dela.

Claro que Charles chegou em segundos, parando ao meu lado, fingindo ser uma simples coincidência:

- Pus um presente dentro do bolso da sua linda jaqueta. – Ele disse, não me olhando, bebendo um gole da tequila que tinha na mão.

- Jura? – Fiquei curiosa.

- Quero que suba para abrir... O mais rápido possível.

Pus as mãos no bolso e no lado direito senti uma pequena caixinha de papel, estreita. Não conseguia imaginar o que poderia ser.

- Me diga que comprou um presente para ela. – Falei.

- Melody?

- Mariane.

- Você se preocupa muito com ela.

- Sei bem com quem estou lidando... Olha a maldade que ela tentou colocar na cabeça da nossa filha.

- Comprei o presente dela, sabendo o quão importante é para você toda esta mentira.

Seguíamos conversando lado a lado, fingindo que era só uma fala amigável.

Guilherme aproximou-se, pondo o braço sobre meu ombro, enquanto o encarava:

- Papai Noel me deixou um presente debaixo da árvore? – Ironizou.

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