- Às vezes me parece que tudo é um sonho... E vou acordar amanhã e Charles não vai mais estar conosco.
- Você merece isso, Sabrina.
- Eu sei... – Comecei a rir.
- E o que vai fazer com Rachel?
- Vou abrir um processo contra ela ou a porra da família. Sei que meu nome não vai sair da lama, mas o dela vai entrar junto. Menina mimada e egoísta.
- O que deu em você, afinal? Como deixou o garoto fazer aquilo na sala de aula?
- Isso foi resultado de uma mulher há mais de cinco anos sem sexo... Só isso.
Ela riu:
- Só faltou subir as paredes?
- Acho que subi algumas vezes... Literalmente.
Melody usou um de seus vestidos rodados para a noite de Natal. Ela amava se vestir bem e receber elogios. Assim como eu, detestava prender os cabelos. O rostinho estava levemente queimado do sol. Pus um hidratante infantil específico para região do rosto, que a melhor pediatra do mundo, doutora Yuna, havia nos indicado.
Escolhi um vestido vermelho para mim, pois se não usasse esta cor Melody teria um ataque do coração, já que representava, na cabeça dela, Papai Noel e o Natal. Por cima dele fiz questão de usar algo que sempre esteve comigo, por muitos anos: a jaqueta de couro que recebi de um certo cantor, para me proteger do frio e da chuva.
- A jaqueta do papai! – Melody agradou-se quando viu.
- Acha que ele vai gostar?
Os olhinhos verdes abriram-se ainda mais:
- Sim... – O sorriso largo veio junto da afirmação.
Descemos próximo das oito horas, conforme havia sido combinado o encontro na sala principal.
Todos os olhares se puseram em nós duas enquanto descíamos as escadas. Ao mesmo momento em que a porta se abriu e Charles entrou, paralisado, nos encarando, com vários pacotes de presentes nas mãos.
Melody parou e olhou para o pai. Fiquei amedrontada da reação dela. Mas o que fez foi pedir-me colo.
Assim que a peguei, ela disse no meu ouvido:
- Acho que o papai roubou os presentes do Noel.
Comecei a rir:
- Acha mesmo? Bem, o seu presente está ali... – não consegui deixar de olhar para ele – Juntos dos outros presentes.
Sim, pois só faltava ele estar embrulhado na árvore de Natal. O amor das nossas vidas era tão lindo e perfeito. E Papai Noel existia... Ou nossa Medy não estaria frente a frente com o homem que esperamos por tantos anos.
Assim que cheguei ao último degrau, ele estava na minha frente, com os braços erguidos na direção da nossa filha, falando baixinho:
- Não deve pegá-la...
Melody deu os braços para ele, enquanto todos nos observavam. Ninguém ouviu o que ele me disse, mas era impossível não perceber o que rolava entre nós três. Para mim era perceptível o sentimento intenso que nos unia.
Alguns antepastos foram servidos ali, junto de bebidas. Claro que o som de fundo eram músicas do nosso cantor favorito, em volume baixo.
Eu poderia dizer que era um momento divertido e cheio de felicidade. Mas não. Era estranho... Muito estranho.
Yuna estava completamente deslocada. Meus pais sequer se falavam entre si, se preocupando apenas com Melody e focados em tirá-la dos braços de “el cantante”, que por sua vez parecia não querer seguir nosso combinado de fingir que não éramos uma família. Guilherme observador, retirado dos demais. Mariane tentando a todo custo as atenções do “namorado”, competindo com a filha dele.
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