Olhei para o meu menino, que virou os olhos em outra direção quando percebeu que eu o observava. Suspirei, temeroso. Não tinha certeza se algum dia ele deixaria aproximar-me.
Os Rockfeller decidiram que os presentes seriam entregues antes do jantar, devido à ansiedade de Melody.
Enquanto ela abria os vários embrulhos, cheguei perto, sorrindo enquanto minha filha falava sem parar, agradecendo cada presente e dizendo o que faria com eles. Foram muitos brinquedos, todos dados pelos avós.
Eu não gostava de J.R. E o sentimento era recíproco. Embora fizesse parte da J.R Recording e talvez o artista atualmente que mais lhe rendia, ele não parecia se agradar com minha presença, nem mesmo na gravadora. E nunca fez muita questão de esconder. Claro que até então eu não me preocupava tanto porque não sabia da relação dele com Sabrina. Agora a antipatia dele me intrigava.
Mariane também nunca fez questão de me levar à casa dela quando começamos a nos envolver. Eu fazia menos questão ainda.
- Agora me diga, Papai Noel trouxe tudo que você pediu? – Calissa perguntou, enquanto a ajudava a retirar as bonecas das caixas.
- Na verdade, eu só pedi uma coisa... – ela não conseguiu evitar me olhar – E eu ganhei. – Sorriu.
Calissa me olhou. Tenho certeza que não conseguia esconder o quanto eu amava aquela menina.
- Eu... Tenho um presente para você. – Avisei-a.
Ela levantou imediatamente e veio na minha direção:
- Este presente é bem pessoal... Só entre eu e minha pequena fã. – Sorri, pegando-a no colo e indo para rua, em direção à piscina.
- Você comprou um presente para mim, papai? – Ela perguntou ansiosa, o cheiro doce de perfume de bebê vindo na minha narina, dando vontade de apertá-la entre meus braços com tanta força até cansar.
- Papai Noel trouxe o que você pediu, não é mesmo?
- Sim... Você! – ela levantou os braços para cima, demonstrando felicidade – Medy pediu papai na noite de Natal.
A desci do meu colo e retirei o colar do meu pescoço. Ela me olhava sem piscar. Entreguei-o a ela, que imediatamente virou-o, para certificar-se se eu havia colocado a letra do seu nome ali.
Tocou o M em ouro, junto do C e do S, que eu mandei fazer, pondo sobre a letra que no passado fiz com uma faca.
- Eu amei. – Ela me olhou, sorrindo.
Fechei-o ao redor do pescoço dela:
- Este é o original... O primeiro colar de conchas da nossa família. E será seu.
- Obrigada, papai. – Me abraçou com força.
Enquanto ela ainda estava com o corpinho gelado junto do meu, falei no seu ouvido:
- Você está preparada para ser a irmã do meio?
Ela se afastou, enrugando a testa, confusa.
- Sabe que Guilherme é seu irmão, não é mesmo? Você é uma menina esperta e aposto que ouviu todas as conversas que aconteceram por aqui desde a sua chegada.
- Sim... Eu sei. Não quero que ele seja o namorado da mamãe.
- Papai é o namorado da mamãe... O resto é só fingimento. Lembra do nosso combinado, não é mesmo?
- Eu lembro.
- Se Gui é o irmão mais velho e Medy vai ser a irmão do meio... O que será que vai acontecer?
- Mamãe vai ter outro bebê?
- Sim... Mamãe vai ter outro bebê – impressionei-me com a esperteza dela – E papai está muito feliz.
Ela me abraçou novamente:
- Medy está feliz... Muito feliz. Eu vou ajudar a cuidar dele?
- Claro que sim.
- Não podemos contar a ninguém que vamos ter um bebê?
Eu ri, suspirando:
- Acha que consegue guardar este segredo só mais um pouquinho?
- Claro que sim... Medy é muito esperta. – Vangloriou-se.
- Se é... Não tenho certeza se seu irmãozinho ou irmãzinha vai se assim... E se for... Vai ser complicado. Papai vai se sentir muito burro.
Peguei a mão dela e voltamos para dentro da casa. Todos já estavam abrindo os presentes.
- Eis meu presente. – Mariane gritou, levantando a sacola da joalheria, contendo um laço vermelho enorme.
Claro que todas as atenções se voltaram para ela, como gostava que fosse. Percebi Sabrina desconfortável com a situação, mas seguia ali, firme e forte.
Peguei uma taça com Champagne e fui me aproximando deles, até conseguir ficar ao lado da minha garotinha. Enquanto Mariane abria a sacola e retirava de dentro a caixa envolta em courino preto, toquei a mão de Sabrina levemente, sentindo-a gelada.
Porra, fui tomado de um intenso frio na barriga com o toque escondido. O dedo dela passou pelo meu, alisando de leve, fazendo meu coração acelerar.
Fiquei cego e surdo por alguns minutos, completamente concentrado no toque dos nossos dedos. Olhei-a e ela sorria, enquanto seguia com os olhos na irmã.
Não pude evitar o riso quando apertei os dedos dela dentro da minha mão, mesmo que rapidamente, tentando mostrar-lhe que eu estava ali, ao lado dela, para qualquer situação.
Ficou óbvia a decepção nos olhos de Mariane quando olhou o bracelete.
- Obrigada, amor. – O sorriso ia se desfazendo nos lábios dela.
Me dirigi até ela, dando-lhe um beijo no rosto:
- Fico feliz que tenha gostado, querida!
Ao ver os olhinhos de Melody sobre mim, rapidamente me afastei um passo.
- Charlie B., você comprou um presente para mim? – Sabrina perguntou – Minha filha é sua fã... Mereço, não acha? Jamais encontrará uma fã tão fiel e carinhosa quanto ela.
- Claro, cunhada! Não deixaria de lhe comprar uma lembrança – fui até o pinheiro e retirei a sacola pequena, dando-lhe em mãos – Espero que goste. Embora singelo, é de coração.
Ela abriu a sacola e retirou a barra de chocolate artesanal de dentro, observando atentamente:
- Obrigada... Não há nada que eu goste mais do mundo do que chocolates.
Fui até ela e a abracei com força:
- Feliz Natal.
- Para você também, Charlie B.
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