Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 153

Guilherme aproximou-se e pôs o braço sobre os ombros delicados dela, me encarando.

- Há um presente para você debaixo do pinheiro. – Falei.

- Não me interesso por nada que venha de você.

Aquilo me feriu profundamente. Mas estava calejado. Respirei fundo e segui:

- Não quer nem saber o que é?

- Não.

- E se for o dinheiro que quer tirar de mim, todo numa caixa?

- Não quero numa caixa. Quero todo o processo judicial junto.

- Não me importo... Não é minha intenção fazer o processo se prolongar. Darei o que for determinado pelo juiz.

Ele me olhou, silenciosamente, talvez não esperando por aquilo. Eu mal começava a ganhar dinheiro com minha música e Kelly já queria tudo que achava que fosse de direito do filho. E sim, ele tinha a parte dele. Por que eu diria não? Já sofri coisas muito piores do que perder grana.

Para mim, que nunca tive nada, qualquer pouco era muito. Não me importava com a pouca quantia que me sobraria.

- Qual é o presente? – Sabrina perguntou, indo ao pinheiro.

Entreguei a ela, que tentou adivinhar:

- Acho que é um skate, Gui... – Sorriu.

- Não quero nada dele. – O garoto reforçou.

- Gui, você ama andar de skate. Seu pai se preocupou em dar-lhe algo do seu gosto... Aposto que é de boa qualidade, como você sempre faz questão das suas coisas... Pelo menos abra, por favor. – Ela entregou na mão dele.

Guilherme pegou o pacote e foi até a porta, colocando do lado de fora, o semblante sério enquanto me encarava.

- Tudo bem... Você não é obrigado a aceitar – falei – Mas posso lhe pedir um presente de Natal?

Ele me olhou, surpreso:

- Como assim?

- Eu... Gostaria de neste Natal, receber um abraço do meu filho.

POV SABRINA

O pedido de Charles doeu dentro de mim. E a negativa de Guilherme me fez segurar as lágrimas.

Charles saiu e olhei para o filho dele:

- Você é um garoto mimado... E mau. – Me ouvi dizendo.

- Agora é isso que pensa de mim?

- Você sabe o que é realmente não ser amado pelo pai? Não, você não sabe – olhei para J.R, que conversava com os empregados, orientando o jantar – Jordan Rockfeller sempre foi um homem interesseiro e pôs os negócios acima da família. Pouco se importa com sentimentos... Por Deus, você tem um pai que se importa com você. Que abriu mão de toda sua juventude para criar um menino de dois anos, enquanto sua mãe foi estudar fora do país, deixando-o sem se preocupar em como você ficaria. Eu disse “dois anos”, Guilherme. Na minha opinião, um bebê...

- Sabrina, você não vai me convencer a perdoar este homem que se diz meu pai.

- Você é um ingrato.

- E você uma mentirosa e dissimulada... – Ele se afastou, fingindo que estava tudo bem, como se nada o abalasse.

Porra, como fui me interessar um dia por aquele menino mimado e imaturo?

Eu até poderia tentar entender o lado dele naquela história. Mas não deixar sequer o pai lhe explicar sua versão era muito ridículo. Uma total falta de empatia.

- O jantar está servido, família! – A empregada veio avisar.

- Por favor, vamos cear. – Minha mãe convidou, sorrindo.

Calissa usava um vestido preto com alguns detalhes em dourado. Seu corpo continuava escultural e a pele como se não tivesse passados dos trinta anos. Eu a achava linda. E apesar de tudo, uma mulher forte. Pois se sua decisão na vida foi aturar tudo que a vida lhe ofereceu, inclusive J.R, sem lutar para mudar absolutamente nada, ela tinha se saído muito bem.

Enquanto eu me dirigia para a sala de jantar, Mariane me puxou pelo braço, levemente.

- Que achou do meu bracelete? – Mostrou-me o braço com a joia reluzente.

Toquei o bracelete em ouro liso, com uma pedrinha em forma de pingente pendurada.

- É bonito.

Ela olhou para minha sacola, ainda na mão:

- Um chocolate? É isso que você vale para ele?

Eu ri, balançando a cabeça:

- Não é sobre o quanto ele pagou... E sim sobre o que significa para ele cada presente.

- Você significa comida?

Suspirei:

- Talvez...

Ela seguiu na minha frente, talvez percebendo que não me abalou.

- Ei, Mariane?

Minha irmã virou-se na minha direção:

- Que horas será que você receberá sua aliança com o pedido de noivado?

Ela me encarou, sem responder nada. Esperei um tempo pela explicação, mas não veio. Virou as costas e se foi, certamente furiosa.

Antes de pôr a sacola sobre a mesa dos presentes, retirei o chocolate para dar uma pequena mordida. Simplesmente porque minha boca salivou só de saber que tinha um chocolate caseiro ali dentro.

Seria só um pedacinho... Ninguém ia ver para me criticar.

Assim que abri a embalagem, tinha escrito com letras em chocolate branco, sobre o preto: Para minha garotinha, com amor: “El cantante”.

Eu sorri, desistindo de devorar a barra ou sequer dar uma mordida. Embalei novamente e a pus junto dos outros presentes recebidos por todos. Olhei para o pinheiro e agradeci mentalmente ao Papai Noel por realizar o desejo da minha filha e ao mesmo tempo o meu: só queríamos Charles.

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