Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 155

- Agora mamãe vai descer um pouquinho e logo estou de volta.

- Tá bom.

Dei-lhe inúmeros beijos e desci novamente, disposta a conversar com Charles sobre pararmos com toda aquela encenação. Eu não tinha mais estômago para seguir.

Não encontrei ninguém na sala principal, que estava vazia.

- Onde estão todos? – Perguntei à empregada.

- Na sala de TV. Irão assistir ao show do Charlie B. – Ela sorriu gentilmente.

- Obrigada.

Me dirigi até a outra sala, onde havia a televisão. Atravessei a sala de jantar e o corredor até alcançar o cômodo pequeno, mas acolhedor. Todos estavam sentados enquanto Mariane mexia no controle da televisão.

- Venha, Sabrina. Guardei lugar para você. – Guilherme tocou o sofá, pedindo que eu sentasse ao seu lado.

- Eu... Não estou muito bem. Vou dormir.

- Não mesmo! Você precisa assistir ao show do meu namorado, irmã. Ele é um dos artistas mais consagrados da atualidade. Esperou certamente a vida toda para estar na TV aberta, num especial de Natal... – ela olhou para Charles – Amor, você quer minha irmã conosco, assistindo você, não é mesmo?

Charles me olhou por cima do encosto do sofá e disse, confuso:

- Sim.

Sentei ao lado de Guilherme. Meus pais estavam olhando para tela:

- Cobrou pela transmissão do show, não é mesmo? – J.R perguntou para Mariane.

- Claro que sim, papai.

Ela sentou-se ao lado de Charles e pôs as pernas sobre ele, enquanto jogava o sapato sobre o tapete no chão.

Assim que ela ligou o play, a imagem não foi de um show de Charlie B. Era eu... E Guilherme... Dentro da sala de aula. O mesmo vídeo apresentado dias atrás por Rachel, que me fez perder o emprego e passar a maior vergonha da vida.

Guilherme pegou minha mão e apertou-a, parecendo querer me dizer, sem palavras, que estava ali, junto de mim, para o que precisasse. Entendi como um apoio. Lá estávamos nós dois, mais uma vez, numa cena totalmente fora de contexto, expostos.

- O que é isso? – J.R disse, confuso, com o tom de voz alterado – Como foi capaz, Sabrina? Isso... É uma sala de aula. Onde está seu profissionalismo? Me diga ao menos que o garoto tinha dezoito anos quando isso aconteceu.

Levantei e olhei para Charles, ainda olhando para a tela, sem dizer nenhuma palavra.

Limpei as lágrimas que caíam pelo meu rosto e disse, com a visão turva:

- Não tenho que lhe dar satisfações de nada. Felizmente não dependo de Jordan Rockfeller.

- Você expõe o nome da nossa família o tempo inteiro. Qual seu objetivo? Acabar comigo?

- Acabar com você? – eu ri ironicamente – Jordan Rockfeller não significa mais nada na minha vida. E só para deixar claro: eu vou trabalhar na empresa. Caso não permita, buscarei meus direitos judicialmente.

- Disso você deve entender bem... – ele levantou e me encarou – Como vai explicar esta porra quando chegar na imprensa?

- Eu não sou famosa... Sou só uma professora de Ensino Médio, vítima de um vídeo que foi feito com o objetivo de me expor. E caso o vídeo viralize, pois acho que Mariane fará questão disto, vou processar quem fez a filmagem e compartilhou.

- Processar, processar... Deveria ter feito Direito, já que quer processar o mundo todo. Mas não... Matemática lhe deixava mais à vontade para fornicar com garotos que mal saíram das fraldas.

Guilherme avançou na direção do J.R, tentando socá-lo. Me pus no meio e disse, olhando em seus olhos:

- Vamos embora, Gui... Eu não consigo mais ficar aqui.

Minha mãe pegou minha mão enquanto eu me dirigia para fora do cômodo:

- Não pode... É mais de meia-noite...

- Eu posso... Me lembra a cena de uma garota, há quase seis anos atrás, posta para fora de seu lar, somente com a roupa do corpo... E uma filha no ventre. Antes de sair, eu disse para minha irmã que eu não estava sozinha... Lembro exatamente das minhas palavras naquele momento: “Não se preocupe... Eu não estou sozinha... Eu sou a garotinha”.

Charles me olhou, sem expressão alguma, ainda parecendo assustado e surpreso com o vídeo.

- Era ele... – Calissa olhou para Charles.

- El cantante procura garotinha... – Charles disse, sem se mover do sofá.

- Eu sabia... Eu sabia... – as lágrimas rolaram pelo rosto de Calissa – Você é o pai de Melody, Charlie.

- Sim. – Confessei.

Olhei para Mariane, que certamente não esperava pela verdade tão cedo. A intenção foi acabar comigo. Só que ela foi prejudicada junto. Com todos sabendo a verdade, Charles não precisava mais ficar com ela.

- Como pôde trair sua irmã por duas vezes, de forma tão inescrupulosa? – Calissa a olhou.

- Eu me apaixonei... – Ela tentou se defender.

- Destruiu o casamento dela há um dia de acontecer... E depois foi atrás do pai da filha de Sabrina... Quem é você, Mariane? Eu não reconheço esta pessoa sem um pingo de amor no coração, que parece querer tudo da irmã...

- Eu não quero nada dela... – Mariane tentou defender-se.

- Vamos, Gui... – Peguei a mão dele e saí, sem olhar para trás.

Sinceramente, havia esperado uma atitude de Charles. Queria que ao menos ele me xingasse, me chamasse de qualquer coisa que viesse a sua mente naquele momento que me via sendo tocado pelo seu filho na sala de aula.

Mas não... Ele preferiu o silêncio. E aquilo me doía mais do que qualquer coisa.

- Pegue suas coisas, Gui... Vamos embora.

- Finalmente...

Antes que eu abrisse a porta para entrar no quarto, ele me puxou para si e abraçou-me:

- Sinto muito por aquele dia, Sabrina. Eu não devia tê-la tocado na sala... Me perdoe.

- Você não tem culpa... Não se preocupe. Eu deixei acontecer.

- Mas eu tinha que ter pensado nesta possibilidade... Ao menos de alguém ver. Mas não... Foi muito além do que prevíamos.

Suspirei e ele limpou minhas lágrimas:

- Eu amo você.

- Gui, por Deus, não insista nisso. Estou quebrada demais para ter que tomar qualquer decisão.

- Vamos embora.

Ele virou as costas e eu chamei:

- Gui?

Ele me olhou.

- Você não tem nada a ver com tudo isso, não é mesmo?

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