- Agora mamãe vai descer um pouquinho e logo estou de volta.
- Tá bom.
Dei-lhe inúmeros beijos e desci novamente, disposta a conversar com Charles sobre pararmos com toda aquela encenação. Eu não tinha mais estômago para seguir.
Não encontrei ninguém na sala principal, que estava vazia.
- Onde estão todos? – Perguntei à empregada.
- Na sala de TV. Irão assistir ao show do Charlie B. – Ela sorriu gentilmente.
- Obrigada.
Me dirigi até a outra sala, onde havia a televisão. Atravessei a sala de jantar e o corredor até alcançar o cômodo pequeno, mas acolhedor. Todos estavam sentados enquanto Mariane mexia no controle da televisão.
- Venha, Sabrina. Guardei lugar para você. – Guilherme tocou o sofá, pedindo que eu sentasse ao seu lado.
- Eu... Não estou muito bem. Vou dormir.
- Não mesmo! Você precisa assistir ao show do meu namorado, irmã. Ele é um dos artistas mais consagrados da atualidade. Esperou certamente a vida toda para estar na TV aberta, num especial de Natal... – ela olhou para Charles – Amor, você quer minha irmã conosco, assistindo você, não é mesmo?
Charles me olhou por cima do encosto do sofá e disse, confuso:
- Sim.
Sentei ao lado de Guilherme. Meus pais estavam olhando para tela:
- Cobrou pela transmissão do show, não é mesmo? – J.R perguntou para Mariane.
- Claro que sim, papai.
Ela sentou-se ao lado de Charles e pôs as pernas sobre ele, enquanto jogava o sapato sobre o tapete no chão.
Assim que ela ligou o play, a imagem não foi de um show de Charlie B. Era eu... E Guilherme... Dentro da sala de aula. O mesmo vídeo apresentado dias atrás por Rachel, que me fez perder o emprego e passar a maior vergonha da vida.
Guilherme pegou minha mão e apertou-a, parecendo querer me dizer, sem palavras, que estava ali, junto de mim, para o que precisasse. Entendi como um apoio. Lá estávamos nós dois, mais uma vez, numa cena totalmente fora de contexto, expostos.
- O que é isso? – J.R disse, confuso, com o tom de voz alterado – Como foi capaz, Sabrina? Isso... É uma sala de aula. Onde está seu profissionalismo? Me diga ao menos que o garoto tinha dezoito anos quando isso aconteceu.
Levantei e olhei para Charles, ainda olhando para a tela, sem dizer nenhuma palavra.
Limpei as lágrimas que caíam pelo meu rosto e disse, com a visão turva:
- Não tenho que lhe dar satisfações de nada. Felizmente não dependo de Jordan Rockfeller.
- Você expõe o nome da nossa família o tempo inteiro. Qual seu objetivo? Acabar comigo?
- Acabar com você? – eu ri ironicamente – Jordan Rockfeller não significa mais nada na minha vida. E só para deixar claro: eu vou trabalhar na empresa. Caso não permita, buscarei meus direitos judicialmente.
- Disso você deve entender bem... – ele levantou e me encarou – Como vai explicar esta porra quando chegar na imprensa?
- Eu não sou famosa... Sou só uma professora de Ensino Médio, vítima de um vídeo que foi feito com o objetivo de me expor. E caso o vídeo viralize, pois acho que Mariane fará questão disto, vou processar quem fez a filmagem e compartilhou.
- Processar, processar... Deveria ter feito Direito, já que quer processar o mundo todo. Mas não... Matemática lhe deixava mais à vontade para fornicar com garotos que mal saíram das fraldas.
Guilherme avançou na direção do J.R, tentando socá-lo. Me pus no meio e disse, olhando em seus olhos:
- Vamos embora, Gui... Eu não consigo mais ficar aqui.
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