- O que vamos fazer agora? – perguntei a Charles enquanto ele saía do banho, passando a mão nos cabelos, sem secar – Não podemos morar num Hotel para sempre.
- Não tenho pressa, garotinha... Está ótimo ficar aqui trancado com vocês. – Me deu um beijo leve nos lábios, indo procurar uma roupa na mala, que não havia desfeito.
- Hotéis são muito impessoais... E frios.
- Podemos ligar a calefação... – Ele riu e joguei-lhe um travesseiro.
Charles pôs uma camiseta branca e uma calça jeans, com a jaqueta de couro por cima. Olhou-se no espelho e observou, falando sobre a jaqueta:
- Parece que ela fica melhor em você do que em mim...
- Jamais... É sua marca registrada.
- Tenho várias... Mas esta é a mais especial.
- Eu sei... – Sorri, jogando-me de volta na cama, ainda de pijama.
- Juro que é complicado deixar vocês. – Me olhou seriamente.
- Eu até iria junto... Mas é longe. Acordei um pouco enjoada hoje.
- Eu sei, garotinha. Minha vida é complicada agora. Dificilmente paro em algum lugar.
- Por isso a preferência por Hotéis?
- Talvez... Embora eu nunca tenha sido um homem com moradia fixa durante a minha vida. Sempre procurando os lugares mais baratos, até encontrar outro mais em conta e pegar minha mochila e partir de novo...
- Comprei uma casa para mim e Medy. Morei quase cinco anos com Do-Yoon e Yuna. E sabia que nós duas precisávamos do nosso cantinho. E acredite... Parcelei, pois não tinha dinheiro para pagar à vista. Foram tantas vezes que nem tenho coragem de lhe contar... Inclusive brinquei com Medy que ela vai terminar de pagar a nossa casa. – Comecei a rir da minha loucura.
- Sabe que agora eu estou aqui, não é mesmo? E posso lhes dar tudo que quiserem.
- Eu já tive tudo que quis, em questão de bens. Hoje eu não me importo com isso... E não tenho sonhos quanto à casa, carro... Só almejo ser feliz, não importa onde.
- Eu nunca tive nada... E sinceramente, pouco me preocupo com o dinheiro. Por este motivo não me importei quando Guilherme entrou na Justiça contra mim, querendo parte do que eu tenho.
- Mas a família dele tem boas condições financeiras.
- Creio que não seja pelo dinheiro... E sim por me verem passando por esta situação.
- Como isso ainda não caiu na mídia?
- Mariane... Ela contém tudo e não deixa nada vazar.
Suspirei, revirando os olhos. Fui até ele e toquei seu rosto com o hematoma causado pelo soco de Guilherme:
- Precisa esconder isso muito bem com maquiagem.
- Eu sei... As maquiadoras sempre dão um jeito...
- Gosto da forma como elas fazem o traçado preto nos seus olhos... – Mordi o lábio.
Ele me puxou contra si, o sorriso perfeito me deixando de pernas bambas.
- Vou voltar exatamente como estiver depois do show... Para você. – Beijou meus lábios.
A língua de Charles invadiu minha boca. Passei os braços sobre seu pescoço, enquanto ele me tirava do chão, intensificando nosso toque.
Ouvi o choro de Melody e desvencilhei-me rapidamente dele, correndo até o quarto dela. Assim que liguei a luz, percebi que ela ainda estava com os olhos fechados. Talvez fosse um pesadelo que a fez chorar.
Sentei ao lado dela na cama e toquei seu rosto, extremamente quente. Pus a mão na testa e não tive dúvidas de que ela estava com febre.
- Tudo bem? – Charles perguntou quando me viu levantando.
- Ela está com febre.
- Como você sabe?
- Porque convivo com ela há cinco anos, Charles.
- Precisamos de um termômetro? – Ele perguntou.
- Sim, para confirmar quantos graus. Eu vou pegar com Yuna. Ela deve ter... Cuide dela, por favor.
Ele sentou-se ao lado de Melody enquanto eu corri ao quarto de Yuna. Bati na porta e ela logo atendeu:
- Me diga que você trouxe um termômetro e seus aparelhos de médica. – Falei rapidamente.
- Não... Nem o termômetro.
- Droga! – Esbravejei.
- O que houve?
- Medy está com febre.
- Deixe-me vê-la.
Fomos para o meu apartamento. Quando entramos, Melody estava no colo do pai, os olhos avermelhados, prostrada.
Yuna tocou a testa dela:
- Vou ligar para a recepção e pedir que providenciem um termômetro. Enquanto isso, vamos fazer umas compressas para baixar esta febre.
- Como fazemos isso? – Charles perguntou.
- Panos úmidos, a fim de refrescá-la e consequentemente dar a queda na temperatura. Está doendo alguma parte do corpo, Medy?
- Não... Só estou cansada. – Ela fechou os olhos novamente, se aconchegando ao pai.
Yuna foi providenciar o termômetro. Toquei as mãos geladas da minha filha e perguntei:
- Você quer a mamãe?
Ela abriu os olhos:
- Quero mamãe e papai... Medy quer os dois. E o bebê também... – Sorriu, de forma cansada.
- Acha que pode ter sido a água gelada da piscina de ontem? – Charles perguntou.
- Eu... Não sei... Talvez não.
- Você avisou... Eu tinha que ter escutado você.
- Não é culpa sua, Charles. Febre é comum em crianças. Ela já teve outras vezes... Embora poucas.
- E se for algo grave.
- Não há de ser... – Peguei a mão dele, trêmula.
Yuna conseguiu o termômetro e constou 39 graus.
- Febre alta. – Ela disse, preocupada.
- O que fazemos? – Perguntei, agoniada.
- Vamos esperar... Faremos as compressas, se não abaixar vou medicá-la com antitérmico. Se persistir pelas próximas 24 horas, teremos que consultar.
- Quando não é uma coisa, é outra... – Reclamei, levantando, andando de um lado para o outro.
Yuna fez as compressas, nos ensinando como continuar. O telefone de Charles tocou e ele saiu do quarto.
- Precisamos de mais panos. – Yuna pediu.
- Vou solicitar na recepção. – Falei, saindo do quarto.
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