Quando cheguei na sala, vi Charles dizendo:
- Não importa... Eu mandei cancelar o show.
- Como assim cancelar o show? – Perguntei, confusa.
Ele me olhou e não respondeu. Seguiu reclamando com a pessoa do outro lado da linha, enquanto tirava a jaqueta. Depois de uns cinco minutos, desligou.
- O que houve? – Perguntei.
- Não vou viajar.
- Por... Medy?
- Sim. Não vou deixá-las sozinhas.
- Mas... Yuna está conosco. Ela é médica e...
Charles veio na minha direção e me abraçou:
- Por mais que tente, eu não vou me afastar de vocês. Não agora... Quando finalmente as encontrei... E as tenho comigo. Nada é mais importante na minha vida do que você e nossa filha, Sabrina.
Deitei minha cabeça no seu peito e disse, limpando os olhos com força, antes que começasse a chorar:
- Eu amo você, “el cantante”.
Depois das compressas, a febre baixou um pouco. Mas uma hora depois começamos o antitérmico. Yuna constatou infecção na garganta.
Não pedimos almoço, pois o fato de Melody estar enferma tirou nossa fome. Ela também não quis almoçar, mas a fiz beber bastante líquido, especialmente água, que por sorte ela não recusou.
Logo a febre cedeu, mas ainda estávamos no aguardo de passar o efeito da medicação. Yuna foi com ela para o quarto no meio da tarde, tentando fazê-la dormir um pouco.
- Acho que preciso iniciar o pré-natal. – Observei, enquanto sentava próxima da sacada, vendo parte da cidade dali.
- Pensa em fazer isso quando?
- Assim que decidir o que vou fazer da minha vida.
- Já tem ideia?
- Eu... Acho que não vou voltar para Noriah Sul. Quero assumir meu posto da J.R Recording.
- Sabe o que eu acho com relação a isso...
- O que acha, Charles?
- Problemas... Só problemas e sabe disso.
Alguém bateu na porta. Ele foi atender, enquanto eu pus as pernas para cima, a fim de relaxar um pouco.
Vi Mariane parada no corredor, do lado de fora. Charles deve ter ficado surpreso, pois não disse nada também. Ela simplesmente deu um passo para frente, entrando sem ser convidada.
Ela mesma fechou a porta, olhando para tudo à sua volta:
- Esperava mais de você, Charles. Pôs sua família neste lugar de quinta! Ah, desculpe, imagino que os dois devem estar mais acostumados a lugares assim. Nem sempre dinheiro dá classe às pessoas... Começo a acreditar que estirpe é de nascença...
Levantei, confusa, furiosa, sentindo a raiva deixar-me trêmula.
- O que houve no seu rosto? – Ela tentou tocá-lo, mas Charles afastou-se, impedindo o gesto dela.
- Por que está assim, tão arredio comigo, querido? – Ironizou.
- Vá embora daqui. – Ordenei.
- Não estou como sua irmã, nem como visitante. Estou aqui como empresária deste irresponsável.
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