Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 167

- Não... Comprei uma nova, ao menos. Mas creio que agora vou precisar comprar um carro. A família está aumentando. Será que você também vai precisar de cadeira de contenção, Yuna? – Debochou.

- Acho que você vai precisar. Afinal, Sabrina tem carro e quem anda na frente com ela sou eu.

- Você tem um carro, meu amor?

- Um carro, uma casa, um peixe Beta...

- Que Do-Yoon está cuidando. – Melody explicou.

- Mas não tenho mais meu emprego em Noriah Sul. Em função do... Vídeo. – Abaixei os olhos, envergonhada.

- Vai encontrar outro.

- Já encontrei. Vou para J.R Recording.

Ele suspirou:

- Você é cabeça dura.

- Sou mesmo.

Fiquei impressionada quando o carro parou em frente ao Cálice Efervescente. Senti meu coração bater descompassadamente. Descemos e ficamos olhando a fachada, que estava exatamente do mesmo jeito, de anos atrás, como se nunca tivesse sido fechado.

- Um bar de beira de estrada... – Ele me olhou.

Peguei sua mão e apertei-a contra a minha:

- Pelo menos o cantor não é mais decadente. – Sorri.

- O que é isso? O Cálice Efervescente? – Melody perguntou, curiosa.

- Sim... Eu gostaria de lhe mostrar onde papai e mamãe se conheceram. – Ele pegou-a novamente no colo, como se ficar separado dela fosse impossível.

Abracei-os, sentindo toda a emoção daquele momento.

- Isso foi legal, Charles. – Yuna disse, observando atentamente o local.

- Obrigado.

- Podemos entrar, papai?

- Não... Não podemos. Ainda está fechado e não podemos entrar sem autorização. Mas o papai sonha em um dia comprar este lugar.

Olhei para ele:

- Isso é sério?

- Sim. – Confessou.

- Mas... Não há dinheiro suficiente ainda?

- Na verdade, tinha... Mas precisei fazer uma escolha.

- Uma escolha? – Arqueei a sobrancelha.

- Sim... Escolhi a surpresa.

- Esta não é surpresa? – Yuna perguntou, confusa.

- Não.

- Qual é a surpresa? – Melody perguntou.

- Bem, aqui sua mamãe apareceu pela primeira vez na vida do papai... Numa noite de sexta-feira, usando um véu de noiva na cabeça.

- Ela ia casar? – Melody ficou confusa.

- Sim... Com o papai... Acontece que ela ainda não sabia. – Ele riu, enquanto a levava de volta para o carro.

Balancei a cabeça, sentindo como se andasse em nuvens.

- Eu vou na frente. – Yuna ocupou o banco onde Charles havia vindo.

- Não precisa, Yuna... – Falei.

- Vocês merecem cada momento que estão vivendo. – Ela fechou a porta, sorrindo.

Sim, Yuna sabia o quanto eu sofri por Charles e talvez agora entendia o motivo pelo qual eu nunca desisti dele: pelo amor, que era recíproco, sem precedentes, sem explicações palpáveis.

Quando percebi que fazíamos o caminho para a praia, onde ficamos juntos naquele final de semana, apertei a mão dele com força. Ele sorriu, certamente sabendo o que passava na minha cabeça.

Senti uma lágrima rolando pelo meu rosto, que ele limpou, falando no meu ouvido:

- Sem lágrimas, meu amor. É tempo de sorrisos.

Melody pegou minha mão, sorrindo, ansiosa. Estávamos sentadas uma de cada lado, Charles no meio.

O caminho pareceu ser mais rápido do que das outras vezes... Talvez porque eu já o conhecesse bem. O carro estacionou na frente da pedra gigantesca, onde acima havia uma casa maravilhosa, que abrigou um casal apaixonado, anos atrás.

Descemos, Melody já abrindo os braços e deixando o vento querer levá-la com sua força.

- Isso é um sonho? – Perguntei.

- Não... É nossa. – Ele sorriu.

Abracei-me a ele, sem pensar duas vezes, sentindo a força dos seus braços em volta de mim.

- Esta casa é nossa, papai? – Melody perguntou, já subindo os degraus feitos na própria pedra, que levavam para a residência.

- É linda... – Yuna observou a paisagem atentamente.

Charles pegou a mão da filha, fazendo-a parar, abaixando-se para ficar na altura dela:

- Depois do Cálice Efervescente, eu e sua mãe viemos para cá. Foi aqui que eu lhe dei a concha... – tocou o cordão do pescoço dela – Mal sabendo que um dia voltaria com nossa filha, depois de a termos concebido aqui, neste mesmo local.

- Aqui que você ouviu a melodia da mamãe? – Ela perguntou, ansiosa, correndo novamente, sem esperar a explicação.

- Bem, esta parte eu acho que não podemos explicar para ela. – Comecei a rir.

- Não pensei em explicar... – Ele balançou a cabeça.

Subimos até a casa, entrando na varanda. Charles pegou a chave do bolso e entregou para Melody:

- Você que vai abrir a nossa casa.

Ela sorriu e olhou para ele, em seguida demorou-se com os olhos verdes nos meus:

- Você estava certa, mamãe... Nós ficaríamos junto do papai.

Olhei para Yuna, que sorriu, comprimindo os lábios para não demonstrar a emoção do momento.

Melody pôs a chave na porta e entrou:

- Venha, tia Yuna... Vamos escolher os nossos quartos primeiro.

Yuna aceitou a mão da pequena e foram andando pela casa, explorando os cômodos.

Suspirei antes de perguntar:

- E as lembranças ruins?

- As boas sobressaíram-se.

- Eu voltei aqui... E fui recebida pelo dono. Antes que ele abrisse, achei que pudesse ser você.

- Foram tantos desencontros, Sabrina.

- Tive meu carro roubado naquela noite... Com o celular, que continha seu número.

- Seu carro roubado? Aqui?

- Na cidade...

- Esta cidade é minúscula. Como lhe roubaram o carro?

- Assim como lhe roubaram a carteira na loja de conveniência.

Ele coçou a cabeça, enrugando a testa:

- Aquilo deve ter sido forjado. Este lugar é basicamente casas de veraneio. Se alguém fosse roubar algo, seriam as casas, que estão sem os proprietários praticamente o ano inteiro.

De repente minha mente começou a fervilhar:

- O homem do posto... O lugar estratégico onde me levaram o carro... Não havia ninguém na cidade, praticamente só eu – balancei a cabeça – Foi planejado, Charles... Para que eu não voltasse, para que não pudesse fazer uso do meu celular. Assim como o casal que do nada roubou sua carteira e celular do balcão. Foi ele... Foi J.R.

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