Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 171

Abri a porta e Melody jogou-se sobre mim, dando os braços, a procura de um colo de mãe.

- Meu Deus, você não me ouve, Sabrina? – Charles ficou bravo quando me viu pegando-a.

- Não vai me proibir de dar colo para a minha filha, “el cantante”... Jamais... – Aspirei o cheiro que vinha do pescoço dela, uma mistura de pijama, soninho, leite e amor...

Ela riu, certamente pelo toque na sua pele sensível do pescoço. Sentei com ela na poltrona, sabendo que Charles precisava de um tempinho para se recompor debaixo da coberta.

Melody olhou o pai e disse:

- Eu amo você, papai.

- Por Deus, vou acordar assim todos os dias, com os dois amores da minha vida? Não sei se mereço tanto...

Ele sentou-se na cama, com as pernas para fora do colchão, pegando a filha dos meus braços.

Quando aconchegada a ele, Melody me olhou:

- Amo você, mamãe.

- Sua menina travessa... – Fiz cócegas na barriga dela, que começou a gargalhar.

- Que acha de ir conhecer a gravadora que contrata o papai?

- Eu posso? – Os olhinhos dela brilharam.

- Claro que sim... E depois poderia ir comigo até sua casa, em Noriah Sul. Assim nós passaríamos um tempo juntos e pegaríamos pelo menos as coisas mais importantes suas e da mamãe.

- Eu quero... – Levantou os braços, feliz.

- E eu vou com Yuna para ver meu advogado... No final da tarde.

Ele suspirou:

- Não tenho opção a não ser aceitar, não é mesmo?

- Colin é uma boa pessoa...

- Traiu você.

- Cada vez tenho mais certeza que ele foi manipulado pela minha irmã.

- Não importa... Nesta parte sou grato à Mariane... Ou esta hora eu ainda estaria pensando na garotinha de véu, que estraçalhou meu coração numa noite de sexta-feira.

- Já estaria casado com outra mulher esta hora.

- Não estaria... Foi você... Desde o primeiro momento.

Nossos olhos se encontraram e eu senti um frio na barriga. Seria eterno o frio na barriga que eu sentia quando ele me olhava de forma profunda?

- Papai e mamãe se amam... – Melody levantou os braços novamente, como costumava fazer quando estava muito feliz.

Ver o sorriso nos olhos da minha filha, finalmente ao lado do pai, me trazia uma tranquilidade e paz de espírito que não tinha explicação.

- Sim, papai e mamãe se amam... E somos uma família feliz agora. – Falei, tocando seu rostinho delicado.

- Então vamos escovar os dentes e trocar de roupa... Vou ligar para um amigo e providenciar um avião para nós.

- Eu gostei de andar de avião... – Ela disse, levantando do colo dele.

- Que bom... Vai ser só nós dois no avião. O que acha disso?

- Legal. – Gritou, levantando os braços de novo, rindo.

- E meu carro? – Perguntei.

- Vou providenciar tudo para que ele seja trazido para cá.

- Papai, e o seu gatinho? – Melody olhou-o, curiosa.

- Que gatinho?

- A tia que eu não gosto falou sobre ele... E seu apartamento.

Ele suspirou:

- Eu não tenho gatinho já faz um tempo. Não tinha como cuidar dele, então o doei. Mas a tia que nós não gostamos nem ficou sabendo disso.

- E o apartamento? Era seu? – Perguntei, curiosa.

- Aluguei por um tempo... Era pequeno, mas confortável. Tive até um gato, para fingir que era um lar... – sorriu – Para ver como Mariane não era tão ligada a mim. Ela não sabe nada sobre meus planos, entende?

Assenti, com a cabeça.

- Papai, podemos trazer meu cemitério de bichinhos?

Ele me olhou, enquanto colocava uma calça jeans:

- Eu acho que isso não é possível...

- Mas eu não posso deixar meus amigos lá.

- Quem sabe trazemos o Solitário II e deixamos os demais lá? – tentei – Eles estão tranquilos descansando no céu dos animais. Não sei se é legal retirá-los de lá.

- E podemos colocar Solitário II no mar? Eu não quero mais que ele seja um peixe Solitário... Porque nós também não somos mais solitárias, temos o papai. Se jogarmos Solitário no mar, ele pode encontrar a família dele também.

- Quanto sensibilidade, Medy! Claro que podemos fazer isso... – Falei, emocionada.

- Isso evita uma possível morte de Solitário II causada por uma certa pessoa... – Charles falou no meu ouvido, debochado.

- Ei, é isso que pensa de mim, “el cantante”?

- Eu não penso nada... Nossa filha que me contou que você é responsável pela morte de tantos animais que chegou a criar um cemitério.

- Tenho argumentos para cada morte. – Tentei me defender.

- Acredito que sim. E bons, não é mesmo?

- Bem, eu fui relapsa algumas vezes...

- Eu quero botar meu vestido de girar, aquele com a saia rodada. – Melody falou, empolgada.

- Ok, vamos lá, docinho.

Peguei-a pela mão, levando-a para o quarto, enquanto procurava na mala o tal vestido que ela amava.

Teria que desfazer as malas e guardar o que havia de roupas ao longo do dia.

Charles e Melody partiram logo em seguida.

Yuna acordou próximo do meio-dia. Eu havia pedido comida e estava tentando almoçar, pois o enjoo com a comida ainda era predominante.

- Nunca vi você dormir tanto. – Observei, enquanto ela se sentava à mesa, com os olhos inchados.

- Este lugar é tão tranquilo que não parece real. Só ouço o som das ondas... É maravilhoso.

- Mais um motivo para ficar.

- Não... Não mesmo. – Ela serviu-se de comida.

- Preparada para enfrentarmos Rachel Roberts e J.R Rockfeller?

- Vamos ver como é o tal noivo traidor. Sabe que já não gosto dele, sem conhecê-lo?

- O pior é que o traidor é um amor de pessoa... Segundo Melody, vocês combinam.

- Eu tenho cara de traidora?

Comecei a rir, balançando a cabeça. Talvez Melody tivesse razão. Yuna era centrada, correta, cheia de manias, até para o sexo. Colin era incrivelmente inteligente, tinha transtorno obsessivo compulsivo por limpeza e gostava de sexo de forma tradicional, ou seja, chato pra caralho. Eu poderia apostar que Yuna também não gostava de beijar pela manhã.

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