- Eu entendo, Colin. Está tudo bem.
- Mas eu posso lhe indicar um bom advogado, Charles. Certamente ele conseguirá ganhar tempo e podem pensar em algo a fim de reverter a decisão do juiz. – Colin sugeriu.
- Não! – Charles disse firmemente – Eu não vou recorrer. Se o juiz acha que é certo dividir tudo com meu filho, assim o farei.
Nós dois o olhamos. Charles já havia me dito que pouco se importava com o dinheiro. A questão é: até que ponto o dinheiro ficaria com Gui? Ou Kelly que o usaria, manipulando o filho, como sempre fazia?
- Você deve saber que quem está por trás disso não é o seu filho e sim Kelly, não é mesmo? – Colin perguntou-lhe.
- Eu sei. Mas Guilherme saiu de casa. E sinceramente, eu fiquei feliz por isso. Está na hora de ele crescer e virar homem. E só conseguirá isso longe delas. Ele vai precisar de dinheiro.
- Bem... O dinheiro é seu. Então faça o que achar melhor. – Eu falei.
- Não é meu, Sabrina. É nosso. – Me olhou.
- A decisão que tomar eu aceitarei, Charles.
- Eu só não gostaria que ele ficasse com esta casa – olhou para Colin – Faz dias apenas que a adquiri. E sinceramente, é o único patrimônio que tenho. Porque eles não devem saber que não tenho praticamente nada. Minha carreira é recente e praticamente tudo que eu tinha investi aqui, para que Sabrina e Melody pudessem ter uma vida tranquila.
- Melody também tem seus direitos enquanto filha. Podem tentar entrar em um acordo.
- Porra, não quero ter que me desfazer desta casa... É muito importante para nós. – Charles me olhou.
- Tudo bem, Charles. Não vamos sofrer por antecedência.
- Comecei a fazer sucesso há menos de um ano – Charles olhou para Colin – E o dinheiro começou a cair de verdade nas minhas mãos não faz muito tempo. Deve saber que os contratos com a J.R Recording são um tanto quanto abusivos.
- Sim... Muito. E o contrato é praticamente vitalício, ou seja, de um jeito ou de outro, você literalmente se ferra.
- Exato. Quando assinei, não me importei muito. Vi a chance de cantar para o mundo, ver minhas músicas ouvidas em todos os lugares... E chegar à Sabrina. Hoje eu não assinaria.
- Isso que fez com que muitos artistas deixassem a J.R Recording, alguns inclusive pagando a quebra de contrato. O problema é se reerguer depois do valor abusivo que precisa lhes devolver, caso não queira mais ser agenciado por eles.
- E por que você decidiu aceitar ser o advogado de meu filho e da mãe dele?
- Kelly insistiu muito. Como sou de Noriah Norte, inclusive indiquei a ela advogados bons de Noriah Sul, achando um pouco sem sentido ter que me deslocar a outro país.
- Estranho... – Charles me olhou.
- Não tanto. Kelly queria na verdade não só que eu pegasse a causa, mas “a pegasse” junto.
Os dois riram.
- Certamente ela escolheu um bom advogado, solteiro e com posses. Kelly não faz nada sem segundas intenções – Charles revelou – Ela não é uma pessoa má, mas totalmente interesseira.
- Não é má? Olha o que ela fez com seu filho, voltando-o contra o você! – Me meti.
- De um todo ela não estava errada: eu agi mal ao levar o garoto para bares noturnos comigo.
- Você era um adolescente. – Justifiquei.
- Mas se ponha no lugar dela, Sabrina... Se eu não lhe contasse a verdade, sabendo que estive preso por quatro anos, deixaria Melody aproximar-se de mim? Quereria nos ver juntos?
- A diferença é que eu sempre acreditei em você, Charles.
- Porque me conhece, apesar do pouco tempo que estivemos juntos. Fiquei com Kelly por quase dois anos e ela nunca se preocupou em conhecer o verdadeiro Charles, entende? Conexões... Amor... Não sei explicar o que acontece entre casais a ponto de ser desta forma, como é conosco... – Tocou minha mão carinhosamente.
- J.R foi um canalha com você. – Colin disse.
- Eu sei. E com Sabrina pior ainda. A mandou embora com uma filha no ventre.
- Charles, foi Colin que me ajudou quando vim atrás de você aqui e não o encontrei. Eu só sabia o número dele e do meu pai e pedi-lhe socorro. Ele me deu dinheiro e um jato particular para que eu chegasse em Noriah Sul.
- Eu lhe devia isso, Sabrina. – Colin falou, abaixando a cabeça.
- O jantar está pronto! – Melody veio correndo da cozinha avisar, empolgada.
- Hum, o cheiro está uma delícia. – Falei, enquanto levantava.
- Colin, você janta conosco? – Ela perguntou-lhe.
- Obrigado, Medy, mas não.
- Você não gosta de comida preparada por crianças e Yuna’s? – Ela arqueou a sobrancelha.
- Não... – ele tentou explicar-se – Não é nada disso. Mas já está tarde e vim aqui somente para conversar brevemente com seus pais. E já terminei.
- Se você não jantar aqui, Medy vai ficar triste. – Ela disse, pegando a mão dele.
- Fique, Colin. Aposto que ainda não jantou. – Falei.
Ele me olhou e em seguida encarou Charles, parecendo querer uma confirmação dele.
- Fique! – Melody insistiu.
- Jante conosco, Colin – Charles disse – É o primeiro jantar que Melody prepara. Nos ajude a avaliar se além de linda, minha filha também é uma boa cozinheira. – Ele pegou a filha no colo, que sorriu alegre.
- Não quero incomodar. – Colin ficou sem jeito.
- Não incomoda. Venha. – O peguei pelo braço.
Antes de entrarmos na cozinha, com a mesa preparada perfeitamente, com exatamente cinco pratos, Yuna olhou-o:
- Se não se importa, poderia retirar seus calçados, senhor Monaghan? Veio da rua... Devem estar muito sujos. E a cozinha é um lugar onde prezamos por limpeza.
- Claro! – Ele nos olhou, percebendo que eu e Charles retirávamos nossos chinelos enquanto Yuna e Melody já estavam descalças.
Assim que ele pôs os sapatos ao lado da porta, perguntou:
- Teria um local para eu lavar as mãos, por favor?
- Eu o acompanho. – Yuna o levou ao lavabo.
Sentamos nós três à mesa.
- Medy, não deixe tia Yuna embaraçada. – Adverti.
- Eu acho que Colin é um bom namorado para ela. – Cochichou.
- Você não pode decidir isso por Yuna, meu amor. – Charles falou em tom doce.
Os dois voltaram e tomaram seus lugares à mesa. A comida era típica Coreana e eu já estava com saudades daquele sabor refinado e apimentado ao mesmo tempo.
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