Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 186

- Nós... Nos falamos vez ou outra por telefone.

- E você gosta de conversar com ele?

- Eu... Gosto. Mas tentei muito fugir deste jantar. Só aceitei porque ele insistiu muito. E garantiu que iremos num restaurante Coreano que tem na capital. Como estou com muita saudade da minha culinária, acabei aceitando.

Eu ri:

- Fez muito bem. A vida está te dando um presente... Receba, amiga.

- Como estou? – Ela girou, o vestido preto meio folgado, o decote comportado.

- Está... Parecendo uma mulher que só quer comer comida coreana.

Começamos a rir. Eu sabia que Yuna não gostava de se exibir, especialmente o corpo. E sinceramente, Colin não se importaria. Ele curtia muito mais conversar do que “trepar”. Para ele sexo era consequência. Para mim era causa. Por este motivo eu meio que sempre ficava um pouco frustrada depois das nossas transas. Ele seguia sempre um roteiro e o sexo vinha depois de tudo. E caso não desse tempo, a gente não fazia.

Yuna era uma mulher viciada em trabalho e família. Para ela também nada poderia sair da rotina. Ela curtia a noite algumas vezes porque eu insistia muito. Achava que ela era linda e inteligente demais para ficar trancada dentro de casa. Por sorte ela me ouvia. Mas não tenho certeza se transava com os homens que conhecia, embora soubesse que ela não era virgem.

Os dois eram muito parecidos. Mas não tinha como ter certeza se dariam certo. Mas eu poderia apostar que sim.

Ouvimos a buzina há quilômetros de distância e ela saiu correndo pela casa, abrindo a porta e pondo do sapato quando já estava na varanda.

- Tenha um bom jantar – gritei enquanto a via andar com dificuldade pelas pedras até o carro – E não tenha pressa para voltar.

Ela fingiu não me ouvir. Fechei a porta quando vi que ela entrou no carro de Colin.

Levei Melody para o banho e disse, enquanto a secava, antes de tomar meu próprio banho:

- Vou preparar o jantar para nós duas.

- E papai?

- Ele volta depois de amanhã. Você sabe.

- Eu estou com saudades. – Ela reclamou, dengosa.

- Nós também. – Referi-me a mim e ao bebê, tocando a barriga.

Melody tocou minha barriga e falou com o irmãozinho ou irmãzinha:

- Nosso papai é muito legal. Você vai gostar dele. E nossa mamãe... – me mirou, os olhinhos verdes brilhando e um sorriso travesso nos lábios – Ah, nossa mamãe é uma rainha... E eu vou ajudar a cuidar dos seus animaizinhos, porque ela não consegue fazer isso muito bem.

- Lá vem você! – Comecei a rir.

Ouvimos batidas fortes na porta. Não costumávamos receber visitas, até porque morávamos ali há pouco tempo. Como Colin e Yuna já haviam saído e Charles tinha a chave e não bateria na porta, fiquei um pouco temerosa:

- Espere aqui que vou atender, ok?

- Eu quero ir junto.

- Obedeça a mamãe... Por favor. – Pedi, encarando-a de forma séria.

- Está bem.

Desci as escadas e fui até a porta. Antes de abrir, perguntei:

- Quem é?

- Somos nós, filha! – Ouvi a voz de Calissa do outro lado.

Senti meu coração bater forte e fiquei incerta de abrir ou não. Mas era ela... Já fazia mais de um mês que não nos falávamos.

Abri a porta e dei de cara com Calissa e... J.R. Sim, eu fui ingênua. Não esperava que ele estivesse junto.

- O que... Vocês estão fazendo aqui? – Olhei para ele.

Como ele tinha coragem? Visitar a casa onde um dia armou para que prendessem o pai da minha filha? Que sangue frio aquele homem tinha, capaz de ir ao lugar onde destruiu a vida da própria filha e o homem que ela amava?

- Podemos entrar? – Ela perguntou, os olhos avermelhados.

A encarei, confusa. Minha mãe havia chorado?

- Não. – Respondi com firmeza.

- Só queremos ver a menina. – Disse meu pai.

- Não. – Reafirmei minha posição.

- Por favor, Sabrina... Melody é tudo para nós. Já faz um mês... – Calissa tentou, de forma doce e gentil.

- Depois de tudo que houve, acho que não devemos mais nos ver.

- Por que você pediu uma autoria de outra empresa na J.R Recording? – J.R me encarou.

- Porque acho necessário.

- Não lhe dei poderes para isso.

- Achei que tinha me dado a parte financeira da empresa, conforme nossa conversa na casa de praia.

- E eu achei que teria contato com minha neta. E você, pelo visto, está tentando tirar isso de mim.

- Está tentando usar minha filha como moeda de troca? – Arqueei a sobrancelha, incrédula.

- Não como moeda de troca. Mas acho justo eu vê-la sim, pois ela é minha neta.

- E eu acho justo você não vê-la, pois sugeriu que eu a tirasse, quando ainda estava no meu útero.

- Foi uma decisão que tomei sem pensar.

- A minha é bem pensada: não vai ver Melody.

- Então vou tirá-la da empresa.

- Entrei com um pedido de posse da minha herança. Quero o que é meu por direito.

- É mentira. Nenhum advogado entraria contra mim numa causa pessoal da minha filha.

- Jura? Colin Monaghan não se preocupa com isso.

Ele ficou em silêncio, me fitando por um curto período de tempo que pareceu horas. Depois olhou para minha barriga:

- Você em breve terá dois filhos... Como pode fazer isso contra seu próprio pai? Como acha que me sinto?

- Você nunca foi pai. Eu sei o que é amor materno... E jamais deixaria minha filha sair com a roupa do corpo, grávida... Sem me impor, independente contra quem fosse – olhei para Calissa, tentando não chorar – E quanto a você... Não sabe o que é amor. E sinceramente, não entendo o que quer com a minha filha.

- Eu gosto da menina. Simples assim. Ela me faz bem. – Ele justificou, enquanto as lágrimas começaram a cair dos olhos da minha mãe, que abaixou a cabeça.

Que porra de mulher que não tinha força para lutar contra nada? Deus, o que ele fez da própria esposa? Uma mulher submissa, sem vez nem voz, que não se impunha em nenhuma situação.

- Você não faz bem a ela. Simples assim. – Justifiquei, tentando fechar a porta, que ele impediu com o corpo, abrindo-a novamente.

Fiquei um pouco amedrontada com a atitude dele, que insistiu:

- Quero ver minha neta.

- Não vou deixar. E você não pode fazer nada quanto a isso. Se não quiser que eu entre na empresa amanhã, não entrarei. Esperarei o juiz decidir o que me cabe da sua fortuna. Ou melhor, o que restou dela, porque o senhor está praticamente falido. E quer saber? Sua própria filha está roubando-o.

- Mentira. Mariane não faria isso.

- Não? Confia tanto assim nela? Ela não é uma pessoa confiável. Lembre-se que dormiu com Colin e Charles, sabendo o que eles significavam para mim.

- Ela sempre foi meu braço direito.

- Eu vou fazer o possível para impedi-la de afundar a J.R Recording. Mas não é por você. É por mim... Aquela empresa também pertence a mim e meus filhos. E vivi praticamente toda a vida sem pai nem mãe em função dela.

- Quero ver a menina. Depois vou embora. E amanhã você poderá ir a J.R Recording como se nada tivesse acontecido e seguir com a porra da sua auditoria, sendo que ao final, verá que sua irmã não está me traindo.

- Não.

- Quem sabe ela decide? – Ele olhou sobre meu ombro e eu virei, vendo Melody na escada, com os olhinhos assustados.

Meu coração se quebrou. Eu não queria que ela visse aquela discussão por sua causa.

- Mamãe... Você está bem? – Ela me perguntou.

- Sim... – Minha voz ficou fraca, quase inaudível quando respondi.

- Melody, querida... Vovô e vovó vieram ver você. E trouxemos muitos presentes. Estão no carro. Mamãe acha que você não quer nos ver. Diga a ela, por favor, o que você pensa sobre isso. – J.R a pôs para decidir.

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