Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 190

Charles pegou o notebook dentro da gaveta e ligou-o.

- Colin disse para... – Tentei explicar.

Ele abriu o Google e as notícias estavam espalhadas como ventania em dia de tempestade...

- “Charlie B. esteve preso por quatro anos acusado de estupro e roubo”... – Minha voz saiu fraca enquanto lia.

- A vagabunda da Mariane me destruiu... – Ele deu um soco na mesa ao lado da cama, estrondando a madeira.

Dei um salto, assustada, meu corpo automaticamente estremecendo de raiva.

- Me... Desculpe... – Olhou para a mão, que avermelhou imediatamente.

- Você disse que não poderíamos jogar as cartas primeiro... – levantei – Isso é injusto. Estão nos destruindo aos poucos... Não vai sobrar nada de nós, Charles.

- Não temos as porras das cartas, Sabrina. Qualquer passo que damos, eles nos têm na mão – Ele levantou, andando de um lado para o outro.

- Ela destruiu não só sua carreira, mas também a sua vida... A nossa vida. – Gritei.

- Porra... Como vamos sobreviver?

- Precisa ir a público, dizer que é tudo mentira.

- Quem vai acreditar em mim? Ela deve ter todo registro em mãos da minha prisão... Isso se não mandar a menina ir para imprensa e mentir de forma mais ardilosa ainda... Eu estou acabado.

Fui até o armário e comecei a me vestir.

- O que você vai fazer? – Charles perguntou.

- Vou fazer qualquer coisa, porra! Só não vou deixar isso barato... Ah, não vou mesmo.

Ouvimos batidas leves na porta. Senti meu coração bater mais forte. Sabia que era Medy.

Charles abriu a porta e ela entrou, jogando-se na cama. Me olhou e perguntou:

- Onde nós vamos?

Respirei fundo e a abracei, deitada preguiçosamente na cama:

- Mamãe vai sair... E já volta.

- Eu vou junto. – Charles afirmou.

- O que aconteceu? É muito cedo... Eu tive um pesadelo.

- Que pesadelo? – Charles perguntou.

- Eu sonhei que jogamos Solitário II no mar, para que ele encontrasse a família... Mas então veio um tubarão e o comeu.

- Isso é horrível. – Ele a pegou no colo, acalentando-a.

Peguei o rostinho dela e a fiz direcionar-se a mim:

- Você não precisa jogá-lo no mar se não quiser. Sabe disto, não é mesmo?

Ela assentiu, os olhinhos tristes.

- Se você quiser que Solitário II seja livre, precisa colocá-lo no mar. Mas sim, vai correr o risco de algum animal maior devorá-lo. Também podemos pensar que ele é esperto e nada bem... E tem grande chance de fugir e não ser pego, até encontrar seus parentes ou mesmo amigos da mesma espécie. – Charles lhe disse.

- Querida, sempre há tubarões... Em qualquer lugar, não só no mar. E eles tentarão devorar os menores sempre. Não podemos nos dar por vencidos, entende? Ou teremos que morrer dentro de nossas casas. Eu estou com vontade de caçar um tubarão. Que acha de vir comigo e com papai?

- Eu quero! – Levantou os braços, já contente, batendo as perninhas para fugir do colo do pai, correndo para seu quarto.

- Vou ajudá-la a pegar uma roupa. Tomamos um café e partimos.

- Você tem um plano?

- Eu tenho... Uma porra de plano, mas eu tenho. E vou tentar colocá-lo em prática.

Fui ajudar Melody a se vestir. Tivemos uma breve discussão por causa da roupa que ela queria escolher. Não sei se eu estava sem paciência ou Melody com muitas “vontades” nos últimos dias.

Na minha primeira gravidez fui jogada para fora de casa, sem um pingo de consideração, somente com a roupa do corpo e dependendo da ajuda do meu ex, que tinha me traído dias antes e pessoas que eu jamais tinha visto na vida. Fui da riqueza à pobreza em menos de 24 horas. Mas sobrevivi.

Agora, tudo se repetia: o mundo caía sobre as nossas cabeças, no caso minha e do bebê. Desde o vídeo na formatura, onde praticamente fui humilhada em praça pública e depois no reencontro com minha família, onde Charles estava a comer minha irmã. Sem contar o fato de Gui, que entrou na minha vida como um turbilhão de emoções, boas e ruins.

O garoto me fazia falta. E não era sobre sexo. Era sobre a coragem dele para determinadas situações. Se arriscava, dava a cara a tapa.

Charles era totalmente racional. Não pensava da mesma forma que eu sobre vingança. E a tranquilidade dele às vezes me irritava. Se fosse esperar por ele, não faríamos nada. Porque para ele bastava estarmos juntos e tudo estava perdoado.

Enfim, eu não sabia o que ele passou no tempo que estivemos separados. Achei que sofri, mas para ele foi pior. Afinal, ficar preso, encarcerado, por quatro anos, por um crime que não cometeu era a pior coisa que podia acontecer.

Enquanto eu descia com Melody, Charles estava preparando o café.

Bateram na porta e atendi. Olhei para os três homens uniformizados. Um deles sorriu:

- Viemos medir o quarto infantil para fazer os móveis, conforme combinamos.

Droga! Eu tinha esquecido que marcamos para dar início às obras do quarto do bebê.

- Podem entrar! – Olhei para Charles, que os acompanhou até o quarto.

Sentei e servi Melody, enquanto olhava para as comidas à mesa, sem vontade de me alimentar.

Charles sentou ao meu lado e pegou minha mão:

- Nós não vamos para a capital agora. Iremos subir e planejar o quarto do bebê, junto com Melody.

- Mas... – Tentei argumentar.

- Eu estou furioso... Mas... – olhou para Melody, que comia seu pão olhando para a mesa, balançando a cabeça feliz, sem nos olhar – Ela não tem nada a ver com isso... Nem ele... – tocou minha barriga – Você vai se acalmar, tomar todo o café, comer ao menos um pedaço de pão. Depois vamos subir, acertar os detalhes do quarto do nosso bebê e então sairemos. E Melody ficará com Yuna. Porque não envolveremos ela nisto. Já basta o que aconteceu ontem, com os seus pais. Ela pode ser muito esperta... Mas continua sendo uma criança de cinco anos.

Fiquei calada, enquanto ele servia minha xícara. O olhar foi tão gentil e carinhoso quando me entregou a xícara que aceitei, deixando o amor tomar espaço dentro de mim, mandando a raiva embora, temporariamente.

Sorri e deitei a cabeça no ombro dele. Charles conseguia me acalmar... E fazer tudo ficar mais leve. Éramos diferentes, mas este diferente era exatamente o ponto que nos unia e completava.

Quando eu subi para ajudar a escolher os detalhes do quarto do nosso bebê, junto da minha família, estava de barriga cheia e com menos raiva e desejo de matar meio mundo.

O telefone de Charles tocou e ele saiu para atender.

- Mamãe, como vamos escolher as cores se não sabemos se é menino ou menina? – Melody perguntou.

- Bem, a gente não precisa saber o sexo para escolher a cor. Afinal, eu amo quando seu papai usa rosa.

- Mas ele só usa preto. – Ela arqueou a sobrancelha.

Corei, ao lembrar que realmente ela tinha razão. De colorido, inclusive rosa, eram só as cuecas maravilhosas, que emolduravam o monumento perfeito por baixo delas.

- Acho que preto não vai ficar legal. – Sorri.

- E se for menino e puxar ao papai? Não vai gostar de rosa, só de preto e branco.

- E se for menina, e puxar à mamãe, vai gostar de vermelho, que é minha cor preferida.

- Mas eu gosto de rosa... E cores... Muitas cores.

- Então que tal usarmos o arco-íris como tema do quarto? Seria colorido e contemplaria as cores preferidas de todos nós. E como não sabemos qual vai ser a preferida dele ou dela, terá todas.

Charles estava demorando. Peguei Melody pela mão e o vi ainda no telefone, no topo da escada.

- Tudo certo? – Perguntei.

- Não... – Ele confessou.

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