Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 21

De repente, a estrada acabou e Charles seguiu caminho, subindo com a moto como que escalando um caminho mais íngreme. Fiquei ainda mais amedrontada e segurei-me com força a ele, temendo cairmos. Vez ou outra ele tinha que usar os pés para evitar a queda, enquanto as rodas derrapavam no chão por ora liso, ora pedregoso.

Eu sabia que estávamos na praia, pois sentia o cheiro do mar e a brisa fresca. Mas não exatamente onde era, devido à escuridão.

O caminho não era tão íngreme, mas as subidas leves na espécie de pedra arenosa eram assustadoras. Para minha surpresa, Charles não era só um bom cantor, mas também um ótimo motorista de motocicleta... Além de outras “cositas” que ele “mandava bem”.

Ele desligou a moto e avistei a enorme casa, construída na pedra, de frente para o mar. Não estava iluminada, mas dava para perceber o quanto era imponente.

Charles desceu e retirou o capacete e em seguida auxiliou-me a descer da moto. Estiquei o corpo, cansada e com os músculos um pouco doloridos em função da tensão e desconforto.

Tentei retirar o capacete, mas não fazia ideia de como abrir aquela coisa na parte abaixo do queixo. Ele deu uma risada, enquanto desafivelava para mim.

- Como se sente? – Perguntou.

- Um pouco cansada da viagem tensa – confessei – Um caminho longo para estreia num veículo de duas rodas.

- Quer saber como me sinto?

- Como? – Fiquei curiosa.

- Dolorido aqui – apontou para o abdômen - Acho que minha barriga pode ter ficado com hematomas das suas mãos fortes. – Começou a rir debochadamente.

- Eu... Fiquei com medo, seu bobo. – Dei um tapa no braço dele, que pegou minha mão no ar antes que eu a recolhesse.

Charles me puxou, fazendo meu corpo ir de encontro ao dele. Seus braços envolveram-me e nossos olhos se encontraram, na escuridão da noite, somente a luz da lua e das estrelas como testemunha daquele momento, vivido no meio da nada.

- Quero que lembre pra sempre da nossa lua de mel, minha garotinha.

- Eu... Acho que será difícil esquecer estes momentos desde que nos encontramos, “el cantante”. – Debochei, sabendo que no íntimo eu falava sério.

Ele não riu. Pelo contrário, ficou me encarando e eu conseguia ver o reflexo das estrelas do céu nos olhos dele. Senti meu corpo estremecer e não foi de frio.

Charles me soltou imediatamente, retirando a jaqueta de couro e colocando sobre meus ombros. Como explicar-lhe que eu não estava com frio? Havia como dizer com palavras que meu tremor era causado por ele e não pela brisa fresca vindo do mar?

- Vamos entrar... Está frio aqui. – Ele pegou minha mão, enquanto seguimos andando pelo caminho sobre a pedra na qual a casa havia sido construída.

Andávamos silenciosamente, cada um com seus próprios pensamentos. Os meus? Deus, eu só pensava nele e no quanto aquele dia aconteceu exatamente da forma como era para acontecer. Se voltasse no tempo, eu não mudaria nada... Um segundo sequer de cada momento que passou. Porque foi preciso ser traída em dose dupla para chegar onde eu estava àquela hora, com os dedos entrelaçados ao homem que me deixava completamente sem noção do certo e errado... Que me fazia estremecer com um simples olhar e ser incapaz de dizer “não” a qualquer pedido que me fizesse.

Subimos uma escadaria íngreme, feita na própria pedra que compunha o chão e incrivelmente nossos pés encontraram grama fofa, em volta da casa, iluminada somente pela luz da lua.

Senti meu salto do sapato pink afundando na terra, que cresceu sobre a pedra... Aquilo era natural ou artificial? Enfim, vi tantas belas paisagens e lugares incríveis e diferentes no mundo todo ao longo dos meus dezoito anos de vida. Mas ali, com ele, tudo era completamente novo.

Alguns pequenos arbustos espalhados davam um ar ainda mais bonito. Fiquei curiosa sobre como era o lugar à luz do dia.

Entramos pela varanda. Aspirei fundo o ar com cheirando maresia, que me remetia à infância e nossas férias em família anualmente, quando meu pai tinha tempo para nós e se dava ao luxo de sentar na areia e nos observar, com um sorriso nos lábios, bobo e despretensioso, ao mesmo tempo orgulhoso de sua prole.

Olhei para meus dedos enlaçados nos de Charles. Desde que o conheci, há pouco mais de vinte e quatro horas, passei quase mais tempo de mãos dadas com ele do que com meu noivo. De alguma forma, aquilo me dava segurança. Era como se, não importasse o que acontecesse, ele estaria ali, junto de mim.

Ele abriu a porta com a chave e adentramos no completo breu.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Lembranças das noites quentes de verão