- Bem... Eles têm bom gosto. – Toquei o sofá macio.
- E dinheiro... Afinal, estamos quase numa ilha.
- Por que me trouxe para cá?
- Porque eu queria ficar sozinho com você... Sem nenhuma interferência. Na verdade, desde ontem, quando nos conhecemos. Só não imaginei que isso pudesse acontecer... Afinal, era sua despedida de solteira. E agora, cá estou eu... Com a noiva.
- Devo estar horrível... – Tentei inutilmente encontrar um espelho.
- Eu acho que não é possível você ficar horrível, Sabrina. Você é a garota mais linda que eu já conheci.
Eu ri ironicamente:
- Jura? Você pode ser iniciante ou aspirante à cantor famoso, mas sua legião de fãs do sexo feminino é forte... E posso apostar que deve ter ficado com muitas delas, várias idades, nacionalidades... – Abaixei os olhos, lembrando das tantas que enfrentei só naquela noite.
- Isso não tira o fato de eu achar você ainda a mais bela de todas.
Encarei o olhar sério dele.
- A propósito, não sou iniciante na música. Faz no mínimo uns quatorze anos que toco e canto na noite. E meus dias são dedicados aos ensaios.
- Quatorze anos? É tempo...
- Tempo demais, não é? Minhas esperanças de ser descoberto um dia se tornam cada vez mais difíceis.
- Eu não quis dizer isso. É muito tempo, mas você canta bem... Muito bem. E deve saber disso, afinal, não é o tipo modesto.
Ele riu:
- Modéstia não faz parte do meu ser, realmente. Mas não desisto de cair nas graças do todo poderoso J.R e sua gravadora.
Senti um frio percorrer minha barriga. Não lembro de ter dito que eu era uma Rockfeller. E mesmo que tentasse manter sigilo sobre quem eu realmente era, se dissesse o sobrenome, era como me entregar, pois eu não conhecia nenhuma outra família com o mesmo sobrenome nas redondezas.
- Por que ele? – Me ouvi perguntando.
- Ele é o melhor de todos... E quem passou pela J.R Recording não ficou no anonimato.
- Com qual objetivo quer alcançar a fama? – Fiquei curiosa.
- Além de mostrar meu talento? – ele cruzou os braços novamente – Bem, eu componho alguma coisa.
- Hum, me interessei. – Falei, sentando no sofá.
- Quero levar minha música ao mundo... Não só a minha voz, mas o meu pensamento, as linhas que consegui escrever, que vieram do fundo do meu coração.
- Isso é... Bonito, “el cantante”.
- Mas claro que quero também os bônus que isso traz.
- Fama?
- Não... O dinheiro.
Estremeci repentinamente. Um caçador de fama e dinheiro? Aquele sempre foi o grande medo do meu pai: nos envolvermos com alguém pobre e esta pessoa estar conosco apenas por interesse. Aliás, ele sempre nos deixou bem claro que só poderíamos namorar alguém do nosso nível e condição social, pois se não fosse assim, era só interesse da outra parte.
- Dinheiro não é tudo.
- Falou a garota que tem mais do que precisa.
Olhei seriamente na direção dele:
- Como sabe? Pesquisou sobre mim ou minha vida?
- Não é necessário. Basta olhar para você.
- E desde quando isso vem escrito na testa das pessoas?
- Não vem escrito... Basta ficar atento às minúcias.
- Jura? E quais são elas?
- Você usa perfume caro... Sapatos de marca – ele olhou para os meus pés – E cheira bem. As unhas são bem-feitas. Sua pele é bem cuidada. Agora não está usando brincos, mas os que usava ontem eram de ouro. O colar do seu pescoço deve valer mais do que a minha moto.
Toquei o colar, dado pela mãe de Colin e suspirei. Teria que devolver aquela coisa para ela e rever a família Monaghan de alguma forma depois do ocorrido. Mas eu sabia que mais cedo ou mais tarde teria que enfrentar todos, inclusive Colin. Mas no momento, eu não queria sequer pensar neles.
- Foi “ele” que lhe deu o colar?
- Não... Foi a mãe dele.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Lembranças das noites quentes de verão