- Eu... Nunca lhe pedi nada... A não ser os chocolates.
- Me desculpe... – Ele pôs a mão livre sobre meus ombros.
- Tudo bem... – Falei, ainda chateada.
- Vendo você discutir com seu pai ao telefone me fez perceber que nosso tempo está passando, não é mesmo?
Assenti, com um gesto de cabeça, as palavras morrendo nos meus lábios.
- Que porra! – Ele praguejou alto.
- Acha que vale a pena brigarmos por cerveja e espumante? Por que me julga, se nem me conhece?
Ele tocou meu rosto com o polegar:
- Porque eu sou um idiota e você me faz ficar completamente nervoso e confuso. Sei que somos diferentes e ainda tento entender como conseguimos criar uma conexão tão forte e um sentimento tão profundo, sendo que não temos quase nada em comum.
- Se queremos fazer isto dar certo, é preciso começar por não julgarmos um ao outro.
- Sim, como você fez... Não me julgou quando falei sobre meu filho. Me compreendeu e me apoiou, confiou no que eu lhe disse... Ficou ao meu lado, me conhecendo há dois dias sendo que pessoas que me conheceram a vida toda ficaram contra mim.
- Sei que a possibilidade de isso dar certo é mínima... – toquei o peito dele, olhando fixo nos pelos que saiam pela camisa, sentindo meu corpo arrepiar-se momentaneamente – Ainda assim farei tudo que estiver a meu alcance.
Charles me puxou para junto de si, abraçando-me com a mão livre. Senti seu cheiro de sabonete misturado com maresia, o mesmo odor dos meus cabelos que sequer estavam penteados.
- Estou sendo imaturo... E inseguro. Me perdoe.
- Está perdoado, “garotinho”. Porque juro que vou querer ver sua carteira de identidade para confirmar se realmente tem quase trinta anos, “el cantante”.
Ele riu e nos dirigimos para o caixa. O outro casal seguia próximo, pegando itens nas prateleiras.
Quando Charles pôs as coisas sobre o balcão, eles ficaram atrás de nós. Virei para o lado e vi duas garrafas de tequila numa prateleira.
- Charles, acho que eu gostaria de beber aquilo. – Apontei para as garrafas adiante.
Ele riu:
- “José Cuervo”... Isso é fogo líquido, neném.
- Tudo que preciso... – me dirigi à prateleira, dizendo – Moço, põe duas garrafas daquelas junto.
Peguei as garrafas e esperei Charles na porta. Coloquei-as na sacola e fomos em direção à moto.
O casal passou por nós e entrou num carro, saindo aceleradamente.
- Parece que eles estão fugindo da Polícia. – Observei.
- Não fui com a cara deles. – Charles disse.
- Quem compra coisas aleatórias num posto de conveniência quase meia-noite, não é mesmo? – Comecei a rir.
Ele me ajudou a subir na moto e peguei as sacolas. Antes de ele embarcar, pôs a mão no bolso da jaqueta:
- Porra, deixei meu celular e a carteira... Acho que no balcão.
- Não acredito!
Ele voltou rapidamente para dentro do estabelecimento. Tentei descer da moto, preocupada. Mas como nunca havia feito aquilo antes sozinha e estava nervosa, minha perna escapou e senti uma dor horrível na parte interna da canela.
Larguei as sacolas no chão e gritei ao ver a queimadura horrível na minha pele.
- Que droga! – praguejei – Isso dói muito... – Minha voz saiu fraca e carregada de dor.
Charles chegou correndo até mim:
- Sabrina, o que houve?
- Eu... – senti as lágrimas descerem pelo meu rosto – Queimei a perna... – Mostrei o ferimento.
- Ah, que porra! – ele passou a mão nervosamente pelos cabelos – O escapamento está quente... Por que desceu sozinha?
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